Em busca de um final feliz

Em busca de um final feliz Katherine Boo




Resenhas - Em Busca de um Final Feliz


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Rafa 17/08/2014

Esse é um romance de não-ficção, escrito pela jornalista Katherine Boo, sobre os anos em que ela morou em Annawadi, em Mumbai na Índia. Annawadi é uma espécie de favela ao lado do aeroporto de Mumbai, onde várias pessoas buscam a sobrevivência como podem.

O pano de fundo é a história de Abdul e sua família, que foram acusados de colocar fogo em Perna Só, outra moradora da vila e sua vizinha. Abdul mantém sua família através de seu negócio como catador de lixo, separando-o para reciclagem. Com esse negócio ele consegue dar um padrão de vida para sua família que em muito supera a média dos outros moradores, inclusive, eles sonham em comprar um terreno afastado dali e recomeçarem a vida de maneira mais digna.

Perna Só, ou Sita, é uma moradora de Annawadi também. Ela tem uma deformidade na perna, o que trouxe inúmeras consequências para a sua vida, como dificultando um casamento futuro. Ela acaba se casando com um bêbado, porém, fica amargurada com a vida e inveja a família de Abdul. Talvez por isso que ela tenha colocado fogo em si mesma e acusado os vizinhos.

Esse é o pano de fundo básico da história, porém, conhecemos ao longo da história alguns outros moradores da favela. Como Asha, que é uma espécie de política da região, que tenta subir na vida através da corrupção, desviando verbas que deveriam ir para a educação. Sua filha, Manju, que ao contrário da mãe, acredita em um mundo melhor, tenta ser uma mulher seguidora das regras da religião e ensina as crianças vizinhas. Ou Sunil, menino órfão que tem que cuidar de sua irmã e flerta entre seguir sendo catador ou se tornar ladrão.

Essas histórias são verídicas e apuradas pela autora desde 2008, através de documentos indianos e depoimentos dos moradores. Seu relato, além da história chocante, vão além. Eles retratam a politicagem, a corrupção, a religião e costumes.

Ao longo do livro, até eu perdi a esperança de um final feliz para aqueles personagens, aquelas pessoas. Alguns desistem da luta e eu, através da leitura, fiquei numa apatia sinistra. Ao mesmo tempo em que os personagens pareciam deixar de se importar, eu também me senti assim. São situações tão diferentes da realidade que eu convivo, que não puderam passar batidas, deixaram marcas.

Além de uma história muito emocionante, esse livro tem um valor cultural excepcional. É um retrato daquela sociedade. É um convite para pensarmos nos limites capitalistas, em preconceitos e na eterna luta por justiça social e inclusão.

site: http://arrastandoasalpargatas.blogspot.com.br
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Poly 07/07/2013

Quando pedi o livro não sabia que se tratava de uma história verídica, quis ler por causa da sinopse excelente e não me arrependi.
A narrativa é no formato de reportagem, a linguagem é bem clara e fácil de ser entendida. É um livro tão bem escrito que diversas vezes eu tive que parar, pensar em outra coisa e depois voltar para a leitura, pois devido à riqueza de detalhes eu me transportava diretamente para a favela com seus cheiros, barulhos e medos.
Além desses detalhes, o livro também traz à tona o maior problema da pobreza: corrupção. E todas as vezes que o assunto aparecia era impossível não fazer um paralelo com o Brasil e pensar se aqui não acontece do mesmo modo.


No ocidente, e entre alguns da elite indiana, esta palavra, “corrupção”, tinha conotações puramente negativas; era vista como uma barreira para as ambições da Índia moderna e global. Mas para os pobres de um país onde a corrupção roubava um número enorme de oportunidades, essa mesma corrupção tornava-se uma das oportunidades genuínas que restavam.
P. 54

Um pouco da cultura indiana também foi bem demonstrada, nada belo como as novelas da globo, mas a simples realidade de milhares de pessoas.


Os transgêneros ou transexuais, os hijras, de Mumbai eram tão temidos quanto atraentes. Eles traziam má sorte por serem ambíguos sexualmente, e acreditava-se que a má sorte era contagiosa. Quando transexuais vinham à porta da sua casa, você tinha que pagar para eles irem embora. Você pagava um pouco mais se quisessem que eles atirassem fezes na frente de seu inimigo. E assim que as fezes fossem atiradas, o mau-olhado permaneceria, mesmo que seu inimigo contratasse um baba para queimar três palitos de incenso num copo de arroz com pó vermelho salpicado por cima.
p. 83


Em Délhi, os políticos e intelectuais reclamavam, confidencialmente, da irracionalidade das massas ignorantes da Índia, mas, quando o próprio governo fornecia respostas falsas para as preocupações mais prementes dos cidadãos, boatos e conspirações tomavam asas. Algumas vezes, as teorias da conspiração tornavam-se um consolo para a perda.
p. 203

Dentre os livros da categoria, foi um dos melhores que eu já li. Vivo uma relação de amor e ódio com livros-reportagem porque todos os que eu li traziam realidades muito tristes e isso me deixa meio tocada por tempo e sempre digo que não quero ler outros do gênero. Por outro lado, eles são tão bem escritos e enriquecedores que eu sempre acabo dando uma chance para eles.


site: http://polypop.net/livro-em-busca-de-um-final-feliz/
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Ericona 11/10/2014

Em Busca de um Final Feliz, livro que levou o maior prêmio literário dos Estados Unidos, o National Book Award, na categoria não-ficção. Katherine é uma jornalista investigativa, muito bem conceituada por seu trabalho extremamente honesto e bem feito. Segundo as minhas pesquisas, Boo ganhou um Prêmio Pulitzer no ano 2000, pela sua cobertura sobre o estado lastimável dos locais públicos que tratam de deficientes intelectuais. Ainda não tive oportunidade de conhecer esse trabalho dela, mas tive, felizmente, contato com o seu livro de não-ficção sobre a vida, a morte, a esperança e uma outra gama de sentimentos sobre os moradores da Annawadi, uma das muitas favelas indianas. Livro cedido a mim pela Editora Novo Conceito, parceira do blog. Não é a mais populosas da Índia nem a mais pobre, de acordo com o que pesquisei, no entanto a dura realidade vivida por seus moradores é tão contundente quanto qualquer outra, de qualquer outro local.
Katherine retrata a realidade dos moradores de Annawadi tal como ela via, sem maquiagem, sem eufemismo, mas, em compensação, com muita sensibilidade. Os moradores de Annawadi, uma favela escondida, por trás do aeroporto e hotéis luxuosos de Mumbai, visualizavam a disparidade do luxo que era ostentado bem "nos seus narizes" e, no fundo, se imaginavam saindo da miséria e ter a chance de desfrutar, mesmo que em uma dose menor, toda aquela vida glamourosa que se dava a poucos metros deles. Boo tem o dom de captar até mesmo o que não pode ser captado pelo olhar ou a lente da sua câmera fotográfica.
Entre tombos na lama do esgoto a céu aberto de Annawadi, nas suas horas de filmagem do cotidiano da favela, e repetidas entrevistas com os moradores do local, Boo construiu uma história que causa comoção, compadecimento, ira e revolta.
Pode-se verificar que aqueles moradores vivem no limite: ignorados pelo sistema corrupto, pelo governo que, além de não garantirem o mínimo possível para que eles tenham uma vida digna, no sentido de terem os seus direitos assegurados, de moradia, saúde e segurança, ainda os extorque ao máximo. Devido a essa corrupção desmedida e cruel, os moradores passam a ver nos outros um rival, alguém que também deve ser extorquido, porque vence o mais esperto, ganha as batatas quem tirar maior vantagem dos outros. E quando digo isso, não os culpo, porque eles não conheceram outra vida. É o meio pelo qual eles entendem que podem sobreviver, que podem resistir num sistema tão implacável. Destroem-se uns aos outros não pelo prazer de serem cruéis, mas sim porque entendem, que, por tudo que já viveram, é o único modo de seguir adiante.
É difícil "manter-se gelo" (se vocês lerem, entenderão essa expressão usada por Abdul) quando fazem de tudo para que você derreta e seja mais um deles. É difícil ser bom e justo quando o sistema massacra tudo, com sua sanguinolenta (usarei agora um termo muito usado pela minha amiga Jaci, do blog Uma Pandora e Sua Caixa) política.
Por tudo que disse aqui, creio que vocês puderam perceber que não é um livro fácil, no sentido de ser uma distração do cotidiano, abstração dos problemas ou coisa que o valha. É um livro extremamente válido, por jogar na nossa cara uma realidade que muitas vezes a gente conhece, na teoria, mas que não paramos para pensar de verdade e denunciar, seja por meio de um livro, seja por meio de um movimento de revolta, de exigência de mudanças. Ninguém quer viver à margem da sociedade, porque é duro, é cruel, é impossível, é deprimente. As pessoas querem ter oportunidades, querem ser vistas como gente. Porque, pelos relatos de Boo, a maior parte dos moradores de Annawadi se sentem à parte do mundo. Cada um deles, por consequência do modo bruto e nada amistoso como são tratados pelo sistema policial local, calcula a sua vida como sem importância alguma. Durante o livro, temos a tristeza de conhecer como funciona o policiamento de Mumbai. As coisas funcionam à base de ameaças, de extorsão e morte.
Fátima, a annawadiana de uma perna só, extremamente vaidosa e tão carente de afeto e atenção. Por um momento a detestamos por ela culpar e castigar quem não tinha nenhuma culpa pela sua desolação e mazelas. Porém, ao mesmo tempo, se formos analisar a sua infância e toda a sua vida, de maneira cautelosa, podemos entender, ainda que minimamente, as suas ações. Quando digo entender, não digo que isso justifica fazer o que ela fez. Porém, não podemos colocar as "Fátimas" da vida num poste e linchá-las até a morte. Esse não é e nunca será o caminho. Abdul, um menino retraído, que não conhecia nada da vida a não ser um trabalho, precisou conhecer os outros lados da vida e ampliar a sua visão de mundo em decorrência de uma terrível injustiça pela qual passou. A vida às vezes lança peças em nós que verdadeiramente não são justas, porém, de um modo louco e inexplicável, nos faz crescer e maximizar o que conhecíamos por vida. Asha, mulher que deixou que seu coração fosse ressecado pelas as suas vivências na infância e adolescência, o que a tornou uma mulher extremamente racional e inescrupulosa. Manju, filha de Asha, cheia de sonhos, mas, sempre que as suas asas parecem surgir, é impedida de voar por não ter ousadia de peitar o sistema e o que quer que seja para ser quem ela quer ser. Sunil, um garoto inteligentíssimo, que tanto queria ser feliz, sair da favela, para ter uma condição melhor de vida. Acabou que esse menininho passou por maus bocados, trilhou por caminhos tortos até poder voltar ao caminho correto, ainda que seja o caminho mais rechaçado pelo sistema regente em Mumbai.
Poderia falar com mais detalhes de cada um dos personagens. Todos, à sua maneira, me tocaram e ficaram em minha memória. A miséria, a fome, o trabalho incessante, que dava um lucro tão pouco, mas tão pouco, que mal dava para aquela gente se alimentar.
Katherine falou de favela, de pobreza, mas, sobretudo, de seres humanos, que, ainda que destituídos de riquezas materiais, tentam preservar um fiapo de esperança em dias melhores em seus corações e, principalmente, são inteligentes, criativos e dão o seu jeito de sobreviver em meio ao caos.
Esse livro de não-ficção é indicados para mim, para você e para todos que não temem conhecer uma realidade dolorosa, mas, principalmente, real e que precisa ser mudada. Não porque ser pobre é feio. Não há nada de errado em ser pobre, a não ser pela pobreza, pela falta de oportunidades, pela luta desumana para sobreviverem. A pobreza deve ser combatida porque todos, todos sem exceção, merecem ter seus direitos garantidos. Os governantes nos devem isso. É uma tarefa difícil? Sem dúvida, especialmente quando a corrupção impera. Nós também temos a nossa parcela de culpa pela corrupção e desmandos do governo imperar. Quando nós nos dermos conta da força que temos, e, unidos, lutarmos contra quem não quer mudar a nossa realidade, talvez possamos fazer um mundo melhor.

site: http://ericaferro.blogspot.com.br/2014/04/resenha-em-busca-de-um-final-feliz.html
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Ida 09/11/2014

Em busca de um Final Feliz
O livro Em busca de um final feliz, mostra a fiel realidade pelas quais passam algumas das pessoas que vivem na miséria.

A jornalista e escritora Katherine Boo, escreveu seu livro a partir de uma realidade vivenciada por ela mesma, foram 03 anos e meio de observações, entrevistas, filmagens, reportagens, investigações e constatações, o resultado do seu trabalho, é este livro, uma história real com personagens reais.

A narrativa do livro, foi desenvolvida a partir de relatos de alguns moradores de Annawadi, uma favela que fica a pouco mais de 200 metros do Aeroporto Internacional de Mumbai na Índia, uma área contemplada por luxuosos hotéis que, assinala ainda mais a grande desigualdade social de um país com uma das maiores economias do mundo em contra partida sendo um dos países de maior miséria, fome e abandono social.

Neste contexto, Katherine Boo, desenvolve seu livro narrando o cotidiano desses moradores, o ponto de partida do livro é a família de Abdul Hakim Husain, são no total 11 pessoas e Abdul um jovem que passa todo o seu tempo no trabalho de reciclagem de lixo, vive numa busca incessante pela sua sobrevivência e da sua numerosa família. Conhecemos adiante Asha Waghekar, uma mulher que a partir de contatos dentro e fora da favela, foi gradativamente ocupando uma certa função para os moradores da favela, com seus contatos com um partido político, denominado Shiv Sena, ela passa a desenvolver diversas atividades de assistencialismo social para seus vizinhos, na verdade tudo que era realizado dentro e fora da favela tinha um valor a ser pago e Asha estava feliz por entrar nesse negócio, pois assim poderia ajudar principalmente sua própria família.

Asha tem uma filha, Manju, a única jovem na favela que cursa uma faculdade, orgulho para sua mãe, na qual quando a mesma não está estudando fica em casa realizando os afazeres domésticos enquanto sua mãe mantém seu assistencialismo nas ruelas de Annawadi. Outra moradora retratada é Fátima, a Perna Só. Ela, é uma mulher deficiente, que vive com o marido e duas filhas pequenas, uma pobre mulher, mais uma dentre tantas pessoas desafortunadas desse pobre bairro, uma pessoa mergulhada em sua própria ignorância e sufocada pela miséria que consumia não somente a ela, mas a todos, busca a todo custo chamar a atenção de seus vizinhos, sua frustração por sua deficiência a faz ter atitudes estranhas e questionadoras por todos que a conhecem, a não aceitação da sua deficiência e a inveja que ela nutre, principalmente pela família Husain é latente e com certeza a conduzirá a não ter um final feliz.

Dentre estes personagens reais comentados acima, ela nos apresenta muitos outros, que completam um quadro de disparidade social gritante e deprimente, a história de Abdul, Asha, Manju e da Perna Só, são apenas uma breve introdução de uma triste realidade que assolam a tantas pessoas espalhadas por todo este mundo e que estão entregues à própria sorte. Ao se falar de um final feliz, o que essas pessoas sentem e pensam a respeito?

O contexto da miséria é muito mais complexo, desumano e devastador, Katherine, no decorrer de seus relatos, mencionam como a polícia, a política, os órgãos públicos, judiciários, carcerários, hospitais, etc..etc, enfim, todos, envolvidos numa corrupção de proporções inimagináveis, onde a bomba maior explode sempre do lado dos mais fracos e para a explorada e abandonada Annawadi, com certeza não seria diferente.

Contudo, finalizo dizendo que o livro é sim uma ótima leitura, nos faz pensar e analisar as questões sociais que afligem a tantas pessoas pelo mundo afora, e principalmente nos conduz a uma breve reflexão do nosso papel dentro dele.
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Nica 01/07/2013

Em Busca de um Final Feliz
Em Busca de um Final Feliz não é um romance, não é um documentário, não é um relatório de Sociologia, é um pouco de tudo isso. Katherine Boo, jornalista americana, passou quase quatro anos em Mumbai, na Índia, fazendo uma pesquisa social nas favelas daquela cidade, mas especificamente na favela Annawadi. Foi um longo, delicado e minucioso trabalho que rendeu um livro de não ficção, com fatos autenticamente verdadeiros, e personagens com seus nomes e relatos reais. Além de utilizar-se de registros e documentos públicos, Katherine Boo participa do dia-a-dia da favela, conheceu todos os personagens citados e através de seus relatos, fotos e gravações, pôde, no final, copilar tudo num relato emocionante. Porém, a jornalista permitiu que seu leitor pudesse confundir sua leitura com um comovente romance, ao utilizar argumentos na narrativa que por vezes induziam a conflitos e diálogos. Por fim temos um livro emocionante e perturbador. A vida como ela é no Século XXI.
Annawadi foi escolhida para seu trabalho pela localização. A favela está ao lado do aeroporto internacional de Mumbai e tem como vizinho um luxuoso hotel, no entanto, não é a maior ou a mais miserável daquele país. Annawadi choca por sua sujeira, abandono e por ter um convívio tão íntimo com uma sociedade domesticamente sadia. Classes sócias diferentes convivendo dentro do mesmo caldeirão. Os três mil moradores que formam esta favela trabalham basicamente na coleta de lixo daquela região e cada palmo do espaço de coleta é disputado com a vida. Mentira, promiscuidade, assassinatos, suicídios, corrupção, injustiça fazem parte do dia-a-dia de um povo que, entre o lixo e um rio poluído, deparam com enormes paredes de outdoors com anúncios de bens jamais alcançáveis. Mas o que importa em Annawadi é a sobrevivência. Para piorar qualquer problema que se possa imaginar, ainda existem as castras e as diferenças religiosas, pois os muçulmanos são discriminados onde quer que estejam, mas dentro de um país com a maioria hindu, a crise se torna inimagináveis. Apesar de todos os problemas que enfrentam, tanto os externos quanto os internos, a maioria do povo ainda conta com a esperança de um dia melhor.
Dentro desse microcosmo os problemas sociais e políticos são tão graves quanto os problemas da metrópole aos quais os annawadianos fazem parte. Eles são o lixo, a escória, o descarte de uma sociedade que cresce e se fortalece diante do mundo globalizado. Ante dessa imensidão, os annawadianos são refém da fome, da violência, da corrupção, da poluição, da falta de saúde, da escassez de escolas... você conhece esse tema? Bem parecido com os nossos! Sim, estamos em plena globalização e os problemas de alguns países parecem os mesmos. Assim como a Índia, o Brasil também tem seus problemas sociais seriíssimos e a gente tem que, antes de tudo, olhar para o próprio umbigo.

site: http://www.lereomelhorlazer.com/2013/06/em-busca-de-um-final-feliz-katherine-boo.html
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Rosem Ferr 26/02/2015

Em busca de um final Feliz


Preparem os seus corações para uma jornada ao mundo real.

Mumbai- favela de Annawadi- Um crime, uma mulher agoniza ao solo, um jovem em fuga, a policia em seu encalço, duas famílias arruinadas, o luxo e o lixo, emoções exaltadas, parece até cena de filme noir em cenário exótico, no entanto os fatos são reais, as personagens são de carne e sangram.

Somos alertados na sinopse, no prefácio, e até na entrevista em que a autora fala de seu processo criativo sobre o conteúdo da obra, no entanto nenhum alerta é suficiente para os relatos( “causos”) e descrições que defrontaremos nos 17 capítulos seguintes, diante da visceralidade de Katherine Boo, ao expor poeticamente as entranhas da sociedade como um todo, pois é das Mumbais do mundo que ela vai falar.

Abdul esta em fuga, e nós irremediavelmente pegos.

Com um prólogo absolutamente cativante, talhado para nos fisgar ao primeiro paragrafo, mergulhamos em uma escrita mágica, nos afundamos na lama e nem percebemos.

Annawadi é um paradoxo, uma favela entranhada entre um aeroporto internacional e hotéis de luxo, que desenvolveu-se a partir de um alojamento das obras de construção dos leviatãs que a circundam, e se são eles que a alimentam com seus despojos, somente o fazem para inacreditavelmente e ao arrepio de qualquer princípio de moralidade, alimentar-se dela em sua insaciável sede de poder.

O luxo se alimentando do lixo ? É possível ?

É isso que vamos descobrindo no decorrer da narrativa densa, em que o eixo central é a família Husain, mas especificamente Abdul Hakim Husain, nosso guia e herói improvável neste mundo de degredados.

Os moradores de Annawadi sobrevivem do descarte, em condições precárias, insalubres, sem qualquer apoio social, em um cenário dantesco, sub-humano chegando a beira da surrealidade, as situações que desenrolam-se são bizarras, nos estarrecem a cada momento que saímos do transe e chocados nos lembramos que trata-se de uma não ficção e isso é real.

Levando-se em conta que a autora conviveu com essas pessoas, podemos perceber a delicadeza das cores com que ela tece a trama para identificarmos as mais brilhantes, as opacas e mesmo a inexistência de cor, no enredo armado contra a família Husain, contra Abdul.

“...Os pobres não se uniam, competiam ferozmente entre si por lucros tão escassos quanto breves. E essa luta na cidade baixa era apenas uma marola no contexto da sociedade como um todo...”

Em busca de um final feliz, é uma grande história, uma das melhores que já li, pessoas como o inesquecível Abdul, Fátima, Sunil , Manju, Karam, Zehrunisa, Meena, Mirchi, Rahul, Kalu, Asha, são palpáveis nas esquinas e becos escuros das periferias das grandes metrópoles, para onde escorre o sumo das coisas que já não queremos possuir ou pior ver, nas palavras do pequeno Mirchi:


“ -Tudo ao nosso redor são rosas. - Era como o irmão caçula de Abdul, Mirchi,colocava as coisas. - E nós somos a bosta no meio disso.”

Mas esse ainda não é o trunfo de Katherine Boo, a exclusão, racismo, violência, inveja, traição, corrupção é apenas o tempero do que em minha opinião foi sua grande cartada: a revelação do esquema de propina e desvio de verbas públicas, inclusive com participação de ONGs, nos projetos de transferência de renda para populações menos favorecidas.

Fica a dica:

Tendo em vista que nossa política não difere tanto assim da India, eis a grande chance para entender todo o processo e rever nossos valores na escolha de nossos representantes políticos nas próximas eleições.

Direto, inquietante, esclarecedor.
Leitura NECESSÁRIA!
Pois quando eu mudo, o mundo muda.

By Rosem Ferr

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