Luiza Cintra 28/03/2013
Há muito tempo não lia um livro tão bom assim!!!!
Londres, século 19. Uma sociedade preenchida por lindos vestidos de baile, anáguas, chapéus e sombrinhas. Mulheres brancas, magras, de olhos claros, carruagens e dirigíveis.
E, Alexia Tarabotti.
Fora dos padrões da sociedade londrina, ela é filha de pai italiano, tem pele um pouco mais escura, nariz largo e curvas acentuadas. Não, ela não é considerada a mulher ideal. Solteirona em plenos seus 26 anos, Alexia não é uma mulher de meias palavras, ela fala o que pensa e pronto. Ó, como sua família fica envergonhada. E qual é mesmo a parte em que Srta. Tarabotti liga para o que os outros pensam? Filha de uma respeitada senhora, que tem outras duas filhas de seu segundo casamento, Alexia é o tempo todo criticada e ridicularizada dentro de casa, mas hein, ela não liga porque sabe que sua mãe e suas irmãs não sabem raciocinar caso o assunto não seja moda ou fofoca.
“Que desagradável para ela. As pessoas realmente pensando, com seus cérebros, e bem na porta ao lado. Oh, a paródia de tudo isso.”
Uma intrigante personagem, uma das melhores mocinhas que já conheci. E imaginem só: ela ainda é uma preternatural, não tem alma.
No mundo em que se passa a história, existem criaturas sobrenaturais: lobisomens, vampiros e fantasmas, que possuem excesso de alma para conseguir sobreviver à transformação. E há os preternaturais, que seriam biologicamente o oposto, aqueles que não têm alma e são capazes de tornar as criaturas sobrenaturais humanas com apenas um toque, e só apenas durante o toque. Então imaginem? Ela faz os vampiros retraírem suas presas se tocá-los, os lobisomens voltam à forma humana mesmo na lua cheia e ela pode exorcizar fantasmas.
Com essa característica de desalmada, Srta. Tarabotti tem menos sensibilidade, menos emoções, mas também é capaz de amar.
A história começa num baile, em que Alexia foge para a biblioteca, pois não suporta todo o blá blá blá da sociedade. Nisto, um vampiro a ataca, sem saber da sua condição de preternatural, e Alexia acaba revidando o ataque, com a sua sombrinha (que não é igual às outras) e o mata.
Para investigar o ocorrido no baile, chega o alto, forte, intimidador e, ah, lobisomen, Lord Conall Maccon. Ele é chefe do BUR (Bureal of Unnatural Registry), divisão do governo britânico responsável por manter as criaturas sobrenaturais dentro dos padrões de comportamento, desde que eles passaram a ser reconhecidos como cidadãos, e também é o alfa do pack Woolsey, e chamado de Conde de Woolsey.
Assim a confusão começa. Uma série de desaparecimentos de vampiros e lobisomens começa a acontecer e todos parecem pensar que Alexia é a responsável, por ser a única preternatural na região. E a Srta. Tarabotti deve se unir ao belíssimo, alto e forte lobisomem, Lord Maccon e sua equipe, para conseguir descobrir o que realmente está acontecendo.
Soulless é um livro steampunk, um tipo de ficção que se passa num passado onde a tecnologia e a modernidade estão bem à frente do seu tempo, utilizando os materiais e recursos disponíveis na época. A corrida científica é algo muito explorado nesta série e a nossa protagonista Alexia tem grande interesse pelo assunto. Por isso, neste livro você encontrará dirigíveis, equipamentos de transmissão de mensagens à distância e o misterioso gás aether.
Foi um pouco estranho para mim no início, pois nunca tinha lido um livro desse gênero, a escrita e os termos são bem arcaicos, por ser uma obra que se passa no século 19, mas nada que não pudesse me acostumar!
É uma história muito empolgante, muito boa de ler. A principal característica é ser engraçada, mas muito engraçada mesmo. Não leia esse livro em lugares públicos, você corre o sério risco de passar vergonha, como eu, dando gargalhadas bem altas e todo mundo olhando para sua cara!
“Por Favor, Lord Maccon, use uma das xícaras. Minha sensibilidade é delicada.”
O conde, na verdade, bufou.
“Minha querida Srta. Tarabotti, se você possui tal coisa, com certeza nunca a mostrou para mim.”
A Alexia é uma personagem perfeita e te faz querer ler sem parar. Sua aproximação com Lord Maccon é a melhor parte da história, pois ela não é uma mulher do tipo das da sua época, então a convivência entre eles é bastante intensa, com muitas discussões, e também bem picante, mas não do jeito que vocês estão pensando. Como naquela época tudo era muito censurado, um toque nas mãos e um olhar intenso podem ser bem picantes, ainda mais quando se é uma mulher que só sabe algumas coisas sobre relações entre homens e mulheres porque leu algo em um livro. Então, cada coisinha é uma grande descoberta.
“Bem, meu amor,” disse Alexia, com ousadia prodigiosa, para Lorde Maccon, “podemos?” O Conde começou a seguir em frente e então parou abruptamente e olhou para ela, não se movendo mais. “Eu sou?”
“Você é o quê?” Ela olhou para cima e o espiou, através de seu cabelo emaranhado, fingindo estar confusa.
“Seu amor?”
“Bem, você é um lobisomem, Escocês, nu, e coberto de sangue, e eu ainda estou segurando a sua mão.”
Ele suspirou em evidente alívio. “Bom. Isto está resolvido então.”
E é aí que está a minha única crítica ao livro. Eu acho que a autora poderia ter descrevido melhor a cena tão esperada, mostrado melhor o que a Alexia estava sentindo, eu acho que descreveu muito bem cenas menos importantes e essa cena em especial acabou bruscamente.
Não é apenas Alexia e o Conde de Woolsey que chamam a atenção, há vários personagens que são completamente apaixonantes! Lord Alkedama, um vampiro com gosto duvidoso para moda e grande amigo de Alexia; Professor Lyall, segundo em comando, o Beta do Pack Woolsey, e grande companheiro de Lord Maccon; Ivy Hisselpenny, melhor amiga de Alexia e completamente aficionada por chapéus, principalmente os mais esquisitos!
Eu amei o livro. Foi como se eu fosse transportada para dentro da história, fiquei completamente envolvida e me diverti demais. Passei vários dias com vontade de tomar chá inglês, com creme e leite! Soulless tem tudo que eu amo em um livro: uma boa e intrigante história, personagens memoráveis, é engraçado demais e tem um romance singular, sem ser meloso e mesmo assim de arrepiar.
Gail Carriger certamente mostra a que veio, com sua escrita refinada, e um humor completamente espirituoso, seu estilo vitoriano encanta quem lê e desperta uma avidez indescritível de ler toda a sua série e mergulhar fundo nessa complexa trama de sombrinhas, dirigíveis e muito chá!
Leiam esse livro! Vocês com certeza vão amar!
Resenha postada em:
http://www.everylittlebook.com.br/2013/01/resenha-soulless-gail-carriger.html