Rafael 29/07/2023
A Morte, Alguns Planetas, e Muitas Páginas Perdidas.
Em A Vida, o Universo e Tudo Mais, Douglas Adams opta, diferentemente dos outros livros da série, em um desenvolvimento mais tradicional em comparação com o que tivemos até aqui. Isso não quer dizer que funciona, no entanto.
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Lançado em 1982, a trama que daria sequência de O Restaurante no Fim do Universo foi concebida inicialmente como o que seria um roteiro de um episódio de Doctor Who. E parando para pensar após o fim, podemos muito ver algumas das situações aqui descritas com o famoso doutor no lugar de Arthur, ou Ford.
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Mas uma boa intenção raramente é desculpa para alguma coisa. Temos aqui o livro mais arrastado de todos até aqui, com a trama mais confusa e até mesmo mais superficial. Nem mesmo os momentos cômicos entregues são como nos livros anteriores, que nos faziam soltar aqui e ali uma boa gargalhada. O máximo que conseguimos aqui é um sorrisinho, e nada mais.
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Adams parece ter se perdido um pouco em sua rede de impossibilidades, fazendo com que qualquer inserção de um novo ponto de interesse na história pareça servir ao único propósito de ser mais louco e mais inimaginável do que o anterior. A consequência de servir a este propósito, quando as partes não se conectam muito bem, é a falta da sensação íntima de propriedade e apego que nós , como leitores, temos que ter, tanto para com a trama, como para as personagens, no que acarreta em uma grande bolha de neve de falta de interesse, que apenas joga a história ainda mais para baixo.
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Alguns pontos se salvam, se acalmem. Temos aqui o surgimento do provavelmente melhor personagem secundário (ou mesmo terciário, eu diria) de toda a série, em Agrajag, a criatura que teve todas suas reencarnações assombradas por Arthur Dent, no que é, de longe, a melhor parte de todo o livro. A escrita de Adams ainda é afiada e repleta de metáforas sobre nossa sociedade, e cheia de comentários pessoais do autor que são bem encaixados. Como por exemplo, a raça de robôs xenófobos de Krikkit, e sua luta sem sentido para a destruição de toda a galáxia.
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Mas isso também é um ponto negativo, parando para se pensar. As personagens apresentadas aqui não se parecem em nada com heróis da galáxia, e nem ao menos a carapuça anti-heroica lhes servem bem, uma vez que seus comportamentos tão difusos e esporádicos, mais nos afastam do que nos atraem, torando todo o problema central da historia, desinteressante e cheio de problemas.
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Com boas intenções, mas cheio de más ideias e realizações, parecemos estar mais perdidos na galáxia, do que os próprios personagens. Li em algum lugar que seria melhor ouvir uma poesia se um Vogon com sinusite, e olha... Talvez eu tenha que concordar.
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Mais sobre A Vida, o Universo e Tudo Mais em @rafaelpf00.
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