Gustavo 11/02/2018
OU TAO OU NADA
O livro divide-se em três partes (homens sem peito; o caminho e a abolição do homem) e um apêndice (exemplos do Tao). O autor tece uma crítica à filosofia moral contemporânea, demonstrando como as inovações neste âmbito não passam de retórica vazia e insustentável.
Na primeira parte, Lewis apresenta o que chamará no livro de Tao e defende o argumento de que o mundo contemporâneo tem retirado a possibilidade de uma construção ética ao esvaziar os antigos valores morais de sua objetividade. Esse movimento implica ainda numa supressão da própria subjetividade. Nesse ímpeto, ficasse com os resultados pressupondo que não seja necessário a crença nos fundamentos que os criam. O Tao é “a doutrina do valor objetivo, a convicção de que certas posturas são realmente verdadeiras, e outras realmente falsas, a respeito do que é o universo e do que somos nós” (p. 17). As críticas de Lewis se direcionam a educação contemporânea, apontando a necessidade de um retorno à antiga compreensão de educação da virtude. À atual, chama de propagandista, sendo esta apenas condicionadora dos homens, como faz o passarinheiro aos pássaros em sua gaiola, e à antiga considera “uma espécie de propagação – homens transmitindo humanidade para outros homens” (p. 21), como pássaros que ensinam outros pássaros a voar. Temos aqui um tipo de legado moral humano, legado este que não é criado pelos homens, mas reivindicam sua humanidade, premissas que possibilitam o raciocínio moral, expressando verdades fundamentais sobre a natureza humana.
Na segunda parte, Lewis aponta as falácias dos argumentos daqueles que chama de “Inovadores”. O que aconteceria se rejeitássemos o Tao? Isto, segundo Lewis, já tem acontecido. A tentativa de admitir algumas partes do Tao e rejeitarmos outras, no entanto, não são vistas com bons olhos por Lewis. O problema colocado e que põe em xeque os modelos de moral subjetivistas é que estes não podem fundamentar de forma não subjetiva sua própria moralidade. Assim, a moral dos Inovadores existe apenas à sombra daquilo que critica. Há uma impossibilidade de qualquer constituição ética fora do Tao, defende o autor.
O terceiro capítulo, homônimo do livro, defende que a aposta dos Inovadores no Instinto implica inevitavelmente na abolição do Homem. Rompendo com a objetividade do Tao, os Inovadores tornam-se reféns dos desejos físicos. Em suas palavras, “[...] quando todas as noções que dizem ‘isto é bom’ são desmoralizadas, permanece a que diz ‘eu quero’. Ela não pode ser anulada nem ‘interpretada’, já que nunca teve nenhuma pretensão de objetividade” (p. 62). Aqui, Lewis, apresenta também as relações de poder relativas a essa ética (uns poucos homens sobre muitos, o homem sobre a natureza, o homem tornado por fim, objeto a ser dominado). O homem tornado elemento da “Natureza” (sendo esta tudo aquilo que o homem domina), permite, por fim, que os homens fiquem nas mãos de seus poucos mestres, que agem por “instinto”. “Se o homem resolver tratar a si próprio como matéria bruta, matéria bruta ele será; não uma matéria bruta a ser moldada por ele mesmo, como se imagina ingenuamente, mas pelos seus apetites, isto é, pela simples Natureza, na pessoa dos seus desumanizados Manipuladores” (p. 69). Restam apenas duas possibilidades para o Homem, portanto, ser um espírito racional obrigado a obedecer os valores absolutos do Tao, ou tornar-se mera natureza, manuseada para o deleite dos mestres. “Uma crença dogmátca em valores objetivos é necessária para a própria ideia de uma regra que não seja tirânica ou de uma obediência que não seja servil” (p. 69).