Raquel 04/10/2020
Um Livro Verde cria uma geração verde.
A ABOLIÇÃO DO HOMEM – C.S. LEWIS
1. Homens sem peito
Para Gaio e Tito a beleza é relativa, está condicionada ao estado do ser humano, de modo que não há valor objetivo. Lewis acusa um pressuposto que poderia influenciar o futuro negativamente, demonstrando como o relativismo e o ceticismo são prejudiciais na educação. Desse modo, ele aponta a filosofia do “Livro Verde” como uma filosofia ruim e, de certa forma, desonesta, visto que os autores haviam se comprometido com a publicação de um livro sobre gramática e literatura. O “Livro Verde” contradiz o conhecimento clássico, aprendido e vivido por Lewis. A educação moderna já apresentava um relativismo que enfraquecia e apresentava problemas éticos, teológicos e políticos, porque a base para uma educação ética, uma teologia sadia e uma política benéfica são a razão, isso é, o fundamento que determina o certo e o errado. “A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas...”, isso é, não cabe ao educador remover as emoções do indivíduo, mas sim formar sentimentos benéficos como o prazer pelo bom, o gosto pelo belo, o desprazer pelo feio e o desgosto pela maldade. Educar não é transformar um indivíduo em uma alma seca e racionalista. A educação acontece com o tratamento dos elementos essenciais do ser humano, as emoções devem ser treinadas e não eliminadas, ou seja, devem ser dominadas através da razão: “A cabeça dominando as emoções através do peito.” Através da razão, da análise dos fatos, a emoção é treinada. Homens criados de acordo com a filosofia proposta por Gaio e Tito são homens sem peito, eles não têm o órgão que gera o fruto moral. Essas pessoas não tiveram suas emoções treinadas e por isso não conhecem o certo e o errado. Remover a fantasia e o sentimentalismo cria uma geração de pessoas secas, racionalistas e automatizadas. Os indivíduos perdem o pensamento crítico e a percepção da realidade, tornam-se incapazes de produzir bondade e beleza.
2. O Caminho
Os homens que são formados por “Livros Verdes” se tornam homens sem peito que, tragicamente, são chamados de intelectuais. Através de “Livros Verdes” foi criado um sistema que exclui a verdade absoluta e blinda aqueles que possuem o título de intelectualidade, de modo que eles não podem ser questionados. Foram esses intelectuais que fomentaram a Revolução Francesa, que gerou a destruição de toda a base com a falsa promessa de reconstrução e renovação da sociedade. O resultado foi o caos, a morte, a desestabilização da nação e de suas instituições. De acordo com o pensamento filosófico apresentado por Gaio e Tito, o indivíduo é maior que a nação, de modo que, de acordo com eles, se alguém morre em defesa da nação, o faz por instinto, o que contraria o que o próprio Lewis defendeu em um artigo chamado “Porque não sou pacifista” (...) A contradição e a falta do fundamento é tão gritante que ignora o instinto de proteção da própria vida. Ou seja, se a defesa da nação fosse instintiva, o indivíduo, também por instinto, valorizaria a sua própria vida. O que define essa questão é o ”Tao”, é o agir pelo certo, pelo amor, pela noção de valores daquilo que é certo e bom, e não pela frieza racional ou cegueira emocional. O Tao pressupõe equilíbrio, os valores morais fazem o indivíduo agir em prol daquilo que é correto, ao ponto de superar instintos. Sem o ”Tao” não é possível e muito menos racional aplicar juízo de valor. De acordo com Lewis, os educadores se dividem entre aqueles que partem da verdade absoluta - ”Tao” - e aqueles que não entendem o mundo como inteligível, racional, de modo que afundam-se em ideologias, destroem as bases que formaram o ocidente, consequentemente, destruindo a si mesmos. Em resumo, a proposta educacional de Gaio e Tito destrói a sociedade. O avanço moral não acontece, porque o conservadorismo é deixado de lado enquanto o pensamento relativista destrói ao invés de aproveitar o que é bom e reformar o que apresenta danos. A mera inovação, o progressismo, é autodestrutivo. Por outro lado, o conservadorismo é reformador. O relativo não se sustenta. Se não existem valores morais que direcionam a humanidade através da razão, o caos dominaria a vida em sociedade, ao ponto do anarquismo, em sua pior forma, tornar-se real.
3. A Abolição do Homem.
Essa é a consequência, o destino, da geração e, por óbvio, da sociedade, que aceita os moldes de ensino do “Livro Verde”: A abolição do homem. A educação é dividida entre os que amam a verdade e os que amam o poder. Querer o poder é o maior mal dos “intelectuais” que se alimentam de filosofias vãs. Enquanto professores que ensinam dentro do ”Tao” amam e reproduzem a verdade, construindo e mantendo a sociedade, os demais enfraquecem o indivíduo e trazem o caos para a sociedade, através da reengenharia social. Aqueles que amam o poder, buscam conhecer para manipular. A ciência nasce a partir da busca do homem pela verdade, mas a nova classe de cientistas, que não amam a verdade mas sim o poder, manipulam e enfraquecem o outros homens a partir do conhecimento científico obtido, com farsas e teorias que convencem e, até mesmo, paralisam mais da metade dos moradores do Planeta Terra. Buscando a modificação da sociedade através de ideias e teorias, os homens tornam-se fracos, tendo aquilo que é de essencial roubado: O Tao. A sociedade é usurpada, os indivíduos tornam-se fracos, desertos secos de emoções e racionalidade. O Homem torna-se sem peito, vazio de sentimento, abolido. O Homem usurpa o próprio Homem.
Resenha escrita a partir da fala do professor Josival (@teologandocomjo) no Núcleo de Estudo do SETEN.