Brenda @caminhanteliterario 06/02/2024O que eu mais gosto no Iluminado é o tom. É lento e gradativo sobre um homem enlouquecendo aos poucos enquanto os horrores do hotel vao progressivamente ganhando vida. Acho que isso é o que mais me perde em Doutor Sono, tudo é muito explícito, quase um filme do xmen. Não existem horrores escondidos na esquina e aquela dúvida constante de “será que to enlouquecendo ou isso é real” até que se torna real.
Primeiro que ver Danny se converter num alcoólatra foi um balde de água fria, principalmente porque li em seguida ao iluminado. É dificil de engolir que aquele menino fofo que passou por tudo que passou se tornou cópia do pai. Mas a partir do momento que aceitei isso achei que poderia vir muita coisa boa daí. O fato da bebida anestesiar a realidade, representada aqui pelos horrores da iluminação, daria um enredo bom. A volta dos antigos fantasmas e os ensinamentos de dick estavam indo por um caminho que eu estava gostando. Assim como o momento em que ele abandona a mãe e o garoto e a culpa que ele carrega o consome, ainda mais pq Dick não o abandonou e só por isso ele está vivo. Mas a partir desse ponto a trama vai em direção a Abra e a perseguição pelo Nó e toda essa construção do início parece sem objetivo, ou só um artíficio pra dar armas a Dan na batalha final. O longo processo de ultrapassar a barreira do alcoolismo acontece de um capítulo pra outro e é um enredo totalmente desperdiçado.
O poderes da Abra são fora da casinha, ela é praticamente a Jean Grey. Não é que não possa ser assim, mas não combina com a vibe do Iluminado. Essas brigas de poderes psíquicos e trocas de corpo pela mente são até legais, mas sinceramente não era o que eu estava esperando. Boa parte da leitura fiquei com a sensação de que esse livro não precisaria ser uma sequência do Iluminado, poderia ser um protagonista aleatório que não faria muita diferença.
Dai temos o Verdadeiro Nó como vilão. Acho a idéia boa, mas mal executada. Rose parece um vilão da Disney com cartola e muito discurso. No entanto em nenhum momento eles parecem ser de fato uma ameaça real. Acho que a vibe a princípio foi bem construída com o recutamento de Annie, a morte de Bradley e a cena do 11 de setembro (bem macabra por sinal). Mas em todos os momentos que decidiram perseguir Abra foram facilmente derrotados ou mortos. Assim como a doença por sarampo é muito conveniente. Não sei quantos séculos vivendo e não faz sentido não pegaram doenças no passado quando sequer existia vacina.
Toda essa idéia dos poderes de Abra, ela sendo uma protegida de Danny e de existir um grupo que sobrevive a base do vapor é até boa quando se desvincula da idéia do primeiro volume, mas fico com a sensação de que faltou lapidamento. Muitas coisas são convenientes, não fazem sentido, são mal aproveitadas ou mal explicadas. O Nó ser tão rico, influente e passarem despercebido pelo mundo sem nenhum background é preguiçoso a beça. O danny ver moscas em pessoas prestes a morrer não serve pra nada. Ele saber exatamente como usar o vapor de Concceta pra matar os membros do Nó é forçar a barra (é uma cena foda, devo admitir). E os coadjuvantes encararem todos esses super poderes com tamanha naturalidade é pouco crível.
Não posso dizer que a parte do fan service não me agrada, mas ele soltar o fantasma de Horace Derwent é totamente desbalanceado com a história, assim como o pai aparecer no final pra ajudá-lo. São capítulos que eu gosto pelo valor afetivo, mas que não se conectam a história como um todo. A única parte que achei bem a amarrada e que me pegou de surpresa foi Abra ser irmão do Danny.
Imaginei que Abra em algum momento viraria vilã, o que seria um baita twist, não foi o caso. Acho legal o discurso de Danny pra ela sobre a violência inerente a família, e de quando ele confessa a culpa da morte do garotinho. A gente dá um peso enorme a algumas coisas e na realidade ninguém liga. Já Danny ir fazer a passagem do enfermeiro é um final totalmente despropositado. Sinceramente, toda essa parte de doutor sono não tem peso nenhum na trama. E , cacete, qual é a do gato?
Uma história que se conecta mal e porcamente com o primeiro volume, mas que tinha potencial pra ser uma história boa em si mesmo, e nem isso conseguiu ser bem feito.