Iris Zattoni 18/04/2021
O campo de extermínio em MG
Nós, brasileiros, não fomos educados a reconhecer os erros históricos cometidos por nossos antepassados, tampouco a repará-los.
"Holocausto Brasileiro" de Daniela Arbex, me deixou chocada e eternamente impactada com as revelações que poucos de nós têm conhecimento.
A leitura não avança aos poucos: logo nas primeiras páginas já escancara o genocídio de 60.000 pessoas ocorrido entre os primeiros anos do século passado até início dos anos de 1980, quando iniciou o processo de desativação do manicômio. Entregues à sujeira, tortura, violência, fome, frio e todo o tipo de atrocidades, esses seres humanos eram levados para a instituição com um único propósito: sair de circulação. Mas os chamados "trens de doidos" que chegavam em Barbacena (semelhantes aos do campo de extermínio de Auschwitz), não era exclusivos de doentes mentais: eram compostos por mães solteiras, bastardos, alcoolatras, briguentos, arruaceiros, epiléticos, enfim, qualquer ser humano indigesto ou que trazia prejuízos à família tradicional brasileira.
Vale lembrar que o manicômio de Barbacena mantinha um lucrativo negócio com diversas instituições de ensino superior, vendendo os corpos e peças anatômicas dos internos falecidos, muito utilizados nas aulas de graduação em Saúde.
No país da impunidade, não é de se espantar que nenhum governo tenha sido responsabilizado até hoje por essas mortes. Afinal, as vítimas eram oriundas de famílias tão humildes que mal tinham conhecimento de seus direitos, ou, sua presença em sociedade era tão indesejada que o "sumiço" era o fim almejado.