Joshua 25/01/2014
Uma distopia clássica eletrizante, com muitos significados entrelinhas!
Escrito sob o pseudônimo de Richard Bachman, O Concorrente é a minha primeira leitura do aclamado mestre do horror, Stephen King, uma distopia clássica eletrizante e que vai muito além do que suas páginas contém. Após esse livro, King se tornou leitura obrigatória para mim.
O ano é 2025. A população é dominada pelo entretenimento da GratuiTV, e seus programas de reality shows; o ar puro é privilégio para poucos, já que a poluição tomou conta do planeta; e a principal diversão das pessoas é a desgraça alheia. Ben Richards é um desempregado que vive no setor pobre da capital de Harding, com sua esposa Sheila que se prostitui ao seu contra-gosto, e sua filha Cathy, ainda um bebê, com uma pneumonia inquietante. Cansado de viver essa vida de miséria, Richards decide ir ao Edifício dos Jogos, onde toda a programação da GratuiTV é composta, principalmente os seus reality shows. Após passar por um extenso teste físico, mental e etc, Richards é designado para o famoso programa O Foragido, onde nenhum participante até agora saiu vivo. Caso ele consiga sobreviver por um mês, fugindo dos Caçadores e passando despercebido pelas denúncias da população, ele ganhará em torno de 1 bilhão de dólares ou mais, o suficiente para pagar um plano de saúde para sua filhinha e tirar a família da miséria. Mas será que Richards irá conseguir?
"- Terça-feira - disse a ninguém, e se levantou da cama. O sofisticado relógio da GA em forma de sol, na parede mais distante, informou-lhe que passavam nove minutos das sete horas. A transmissão ao vivo de O Foragido iria ao ar em toda a América do Norte em menos de 11 horas. Richards sentiu uma gota quente de medo no estômago. Dali a 23 horas, ele seria caça liberada."
Página 61
É necessário dizer o quanto O Concorrente é um livro alucinante, um enredo disparado e que deixa o leitor aflito pelo o que acontecerá no próximo capítulo, já que o protagonista Ben está sendo caçado 24h por dia, e nenhum lugar parece ser seguro. Como o próprio nome do programa aponta, ele se torna um foragido, não apenas no programa. É como se ele se tornasse um inimigo da nação, e quando for pego, ele poderá ser rapidamente morto. É nesse estado que lidamos com Richards durante o livro, e partilhamos a mesma sensação. O instinto de sobrevivência e o desespero do calor do momento é palpável, e nos perguntamos até que ponto Ben irá conseguir resistir, até quando sua sagacidade irá salvar-lhe a pele e se ele ainda encontrará aliados em sua fuga acelerada pelo país.
King é merecedor de todos os comentários que ouvimos por aí, e neste livro ele prova toda a excelência de sua escrita, e ainda, a construção visionária de um mundo futuro. O estado distópico que encontramos em O Concorrente é sufocante, já que a população possui sua classe miserável e que aos poucos morre com doenças respiratórias por causa da atmosfera poluída, e sua classe privilegiada, que ignora esta primeira, possui seus próprios purificadores de ar, acreditam em tudo o que a GratuiTV transmite, vivendo suas vidas de forma fútil e torpe. King deixa exposto todo o egoísmo humano, nos fazendo torcer mais ainda por Richards, e nos fazendo acreditar que ele pode se tornar um herói para a classe inferior, e quem sabe, fazer uma revolução.
"Estou sendo cercado, pensou. A ideia lhe trouxe um pavor de coelhos desamparado.
Não, corrigiu sua mente. Você já foi cercado."
Página 101
Além da caracterização crua da distopia, Stephen construiu um personagem convincente. Ben Richards é do tipo "agora ou nunca", que toma suas atitudes, de certa forma, com impulsividade, mas sempre raciocinando as consequências que estão por vir, já que não tem nada a perder. Mesmo vivendo em um mundo corrompido, pode-se dizer que Ben é um homem íntegro a sua família, e mesmo quando a Rede lhe oferece as regalias de luxo por ele ser um dos concorrentes de O Foragido, Ben nega e mais uma vez se mostra resistente àquele governo. Isso nos faz pensar em como a situação atual da história poderia ser diferente, se todas as pessoas naquele universo - ou no nosso - fossem como Richards.
Os capítulos se passam de forma diferente, em ordem decrescente, como em uma contagem regressiva, nos deixando mais ansiosos para o que o final nos aguarda. Nos capítulos finais, King prepara um desfecho difícil de engolir, mas talvez, um desfecho certo para o que tudo aconteceu durante o livro. É certo que Stephen King não escreveu O Concorrente apenas para entreter o leitor com uma história frenética e com muitas mortes. Não, se o leitor prestar bem atenção, vai encontrar bastante significados entrelinhas, principalmente em seu último capítulo.
"Richards descobriu que o velho clichê era mentira. O tempo não parava. De certo modo, seria melhor que parasse. Então, pelo menos haveria um fim para a esperança."
Página 233
O Concorrente é um livro excelente, e se junta aos livros de distopia clássica como 1984 e Fahrenheit 451. Realmente, merece ser lido.
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