letambem_sobrelivros 17/06/2019
A família como um grande mal
“Uma originalidade deveras radical pode ser constatada no romance (...) a meu ver, a obra-prima do autor, superando até mesmo Luz em Agosto, Santuário, O Som e a Fúria e Absalão, Absalão”, escreve Harold Bloom, em “Como e Por Que Ler”.
Quanto à história: Estamos no Mississipi, sul dos EUA, no condado fictício de Yoknapatawpha. Addie Budren se encontra à beira da morte, acamada sem se mover há 10 dias. Seu filho Cash constrói para a mãe o caixão na vista da janela na qual ela aguarda a hora da morte. Addie se vai e a família (o pai Anse, e os irmãos Cash, Darl, Jewel, Dewel Dell e Vardaman) começa uma odisséia para cumprir o desejo de Addie de ser enterrada em Jefferson, sua cidade de origem.
Faulkner diz muito com poucas palavras e insere em trechos curtos infinidade de significado. Texto introdutório “As personagens (...) são pessoas rudes, toscas, assoberbadas por apetites mesquinhos e pequenos interesses. No entanto, têm, como a gente sofrida do povo, em qualquer parte, sobretudo no campo, uma compreensão da vida que envolve formulações não raro de alto teor filosófico”.
A narrativa é composta pelos monólogos de fluxo de consciência resultando em uma leitura trabalhosa e em uma relação direta do leitor com os personagens:
Addie, e sua frieza: “(...) meu pai costumava dizer que a razão para viver era se preparar para estar morto durante muito tempo. (...) E quando Darl nasceu pedi a Anse que me prometesse me levar de volta a Jefferson quanto eu morresse, porque eu sabia que meu pai tinha estado certo”.
A dedicação de Cash com o caixão; A confusão do pequeno Vardaman “Minha mãe é um peixe”; A revolta mal contida de Jewew; A considerada loucura de Darl, logo quem nos apresenta com mais sanidade a saga de sua família.
E a pobreza de espírito de Anse “um pobre diabo cheio de fraquezas morais”. Homem egoísta. Resignado; atribuindo culpa a pessoas, coisas e circunstâncias para justificar sua “falta de sorte”;
Citando novamente Bloom: “Enquanto Agonizo retrata a condição humana como algo catastrófico, colocando a família como a mais terrível das catástrofes”.
Que livro!!