Você é minha mãe?

Você é minha mãe? Alison Bechdel




Resenhas - Você é minha mãe?


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Gabriel 11/04/2014

Intimismo, sensibilidade e sacrifícios
Impossível falar de um livro sem mencionar o outro, apesar de que até o ano de 2012 Você é Minha Mãe? não havia sido publicado. Mas, agora que o foi, ao se reler Fun Home, de 2006, que já era um livro denso e poderoso independentemente, após a leitura da segunda graphic novel de Alison Bechdel esta acaba por enriquecer a análise do primeiro livro, assim como o inverso certamente ocorrerá para quem se arriscar a ler o album de 2012 antes do de 2006, pois, ao contrário do que a sobrecapa de Você é Minha Mãe? afirma, este não se trata exatamente de uma continuação do outro, sendo ambos, antes de tudo, obras de arte sobrepostas, intercaladas e interconectadas. Dizer que um é a continuação do outro é como dizer que a mãe é a continuação do pai, e isso não faz sentido nenhum, ao menos teoricamente, pois, a despeito de tudo, a mãe continua a vida, enquanto o pai induziu sua própria morte. Mas adianto-me.
Fun Home traça uma biografia do pai da autora conjuntamente com a autobiografia da própria, seguindo a tendência contemporânea no universo dos quadrinhos das histórias autobiográficas. Mas, pode-se dizer que ela não traça exatamente uma história, e sim, uma auto análise, reflexão e uma percepção particular e íntima de sua família, em especial a respeito do pai, sob a luz dos livros que este lia avidamente, e que, para quem ler perceberá, influenciou bastante na história dele e em suas atitudes. Isso me fez pensar num diálogo que tive uma vez com uma amiga, em que esta assumia que as atitudes que ela tomava e por consequência uma boa parte de sua história havia sido influenciada por experiências literárias. Tiro por mim, também, que passei a apreciar e analisar mais as relações humanas, tanto as próprias quanto as alheias, numa espécie de exercício em busca de arquétipos e tipos sociais, motivado pela rica experiência observativa do livro de Marcel Proust, que se tornou o meu favorito, Em Busca do Tempo Perdido, além dos estudos fisiológicos russos do século XIX (não, nada a ver com a fisiologia do corpo humano), que se aventuravam em descrever estes tipos, uma espécie de crônica social romanceada.
Já Você é Minha Mãe? é um livro mais maduro e surpreendente em sua abrangência temática. A literatura aqui é substituída pela psicanálise, exceto por referências a Virgínia Woolf. Aqui, o livro trata de Winicott, Woolf e Jocelyn, sua psicóloga. Todos esses exerceram uma influencia maternal em seu desenvolvimento mental, além de sua mãe genética.
As relações humanas acabam por ser o tema principal de ambos os livros, para o bem e para o mal, e isto foi o que me atraiu na análise das obras. Tolstói escreveu em sua famosa e supracitada frase de abertura de Anna Kariênina: "Todas as famílias felizes se parecem entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua própria maneira." Apesar de ter medo de chover no molhado com uma citação tão clichê, é exatamente isso que me veio à mente quando fiz a releitura de Fun Home, em que justamente na página de abertura há um desenho do livro de Tolstói, sendo que este não é mais mencionado ao longo do álbum de Alison. Fiquei besta com a incrível sutileza (ela comenta que seu objetivo é sempre informar algum detalhe sutil em cada um de seus desenhos, e ela consegue fazer isso magistralmente). Pois de fato a história da família Bechdel é infeliz, mas de uma maneira um tanto peculiar. A tristeza aqui não se traduz em sofrimentos físicos nem em algum tipo de violência doméstica, não ocorrem tragédias gregas ou romanas. A tristeza se revela por conta de que a autora se recusa a mascarar o que quer que seja, sendo obsessivamente sincera, além de filosofar em retrospecto a respeito de cada ato realizado por si e seus pais, a respeito de seus seres interiores, suas psíques, suas opiniões e atitudes. O que dá o tom triste (acho que melancólico é a palavra correta, pois a melancolia é sóbria e contida, como afirma Ariano Suassuna em A Pedra do Reino, palavras estas que poderiam ser usadas para definir o tom destes livros) é o ressentimento que ela desenvolveu contra os pais pela falta de afeto e contato físico. Como Bechdel interpreta a obra Winicott em Você é Minha Mãe?, refletindo que "o sujeito tem que destruir o objeto, mas o objeto tem que sobreviver à destruição", pois, "se o objeto não sobreviver, ele vai permanecer interno, uma projeção do Self do sujeito. Se o objeto sobrevive à destruição, o sujeito o observa como algo a parte". Da mesma maneira como Virgínia Woolf se livrou do fantasma psicológico de sua mãe sobre si ao concretizar Passeio ao Farol, Bechdel dá a impressão de querer se livrar do fantasma psicológico de seus pais, tornando-os meros objetos que ela poderá analisar de modo racional e menos emocional, impossibilitando-os de assim exercerem sentimentos de culpa nela.
Enquanto em Fun Home ela justapõe suas observações com obras literárias, em Você é Minha Mãe? ela o faz com as teorias do psicólogo e pediatra Donald Winicott (este livro me motivou a comprar um outro chamado Vivendo Num País de Falsos-Selves, do psicólogo pernambucano Júlio de Mello Filho, sobre as aplicações das teorias de Winicott em nossas rotinas cotidianas, o qual pretendo ler em breve), além de algumas poucas menções a Freud e Lacan. Seu estilo, apesar de autobiográfico, não se resume a contar uma história, como já disse. É como se ela escrevesse uma dissertação com suas reflexões, e para ilustrá-las, utiliza-se de momentos soltos de sua vida e da vida de seus pais, encadeando e correlacionando numa cronológica descontínua, o que se revela genial. Apesar do livro não possuir uma "trama", num sentido amplo, é justamente esse encadeamento e correlação que a delineiam. Os capítulos foram escritos com esmero, lógica e coerência invejáveis, sempre com um final surpreendente arrebatador e dramaticamente eficientes (por exemplo, ela liga o fato de que seu pai ficou preso na terra aos 3 anos, e conecta com a reflexão sobre o pai morto, preso na terra para sempre).
Ambos os livros são obras densas, que fogem do melodrama em busca da mais sincera realidade. Tem charme e tem poesia, de seu modo mas tem. Recomendo fortemente.


Mais resenhas:
http://oquadropintadodecinzas.blogspot.com.br/2014/04/resenha-fun-home-e-voce-e-minha-mae-de.html

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Godoyla 11/04/2023

Você é minha mãe?, de Alison Bedchel
Depois de Fun Home, eu estava ansiosa para continuar lendo Bedchel. Como jornalista, acho muito interessante como ela usa formatos diferentes, metalinguagem. É realmente um trabalho primoroso. Mas não gostei tanto do Você é minha mãe? Não é que seja ruim, mas não é tão arrebatador quanto o primeiro. Achei a leitura mais difícil também, e o menos engraçado. Apesar de tudo, vale a leitura. É um quadrinho com profundidade e uma honestidade avassaladora. Tem que ter coragem de se abrir assim, se descobrir e também se curar.
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eusil 30/10/2023

O meu livro preferido da vida. acho que a única coisa que eu consigo pensar como resenha. o top 1. foi linda essa jornada, cada página, cada final de semana no minhocão foi especial demais.
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Marilia.Capinzaiki 11/01/2023

Profundo e complexo
Aqui, a suposição de que por ser quadrinho é uma "leitura fácil" cai por terra.
A leitura é fácil, no sentido de que flui muito naturalmente. Mas os temas são complexos e espinhosos, por vezes dolorosos. A autora lida com tudo de uma forma muito tocante e honesta. Obra prima.
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Michelle 11/09/2022

Você é minha mãe?
Essa H.Q. é de mesma autoria de Fun Home, a qual li e gostei. Contudo nessa, apesar de parecer que será outra obra sobre a vida familiar, com ênfase na relação com a mãe, na verdade é mais sobre o caminho psicanalítico que Alison fez até a escrita, descrevendo partes de várias obras importantes, de Winnicott, V.Woolf e outros autores de obras que fez parte do processo, tem a relação com a mãe, inclusive indo e voltando no tempo, nas cartas, nas ligações e memórias, mas, não é o principal e abundante no total da HQ.
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Kymhy 01/04/2018

Você é minha mãe? - Alison Bechdel
Mesclando a arte em quadrinhos com sua história, Bechdel ilustrará a relação que teve com a própria mãe, tentando explicar muitas das situações através das teorias do psicólogo Winnicott.

site: https://gatoletrado.com.br/site/resenha-voce-e-minha-mae-allyson-bechdel/
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Mariele 16/02/2021

Redundante
Li esse livro como continuação de Fun House, que realmente tinha uma historia mais interessante. Porém o livro em questao foca na mãe da autora e a história e totalmente sem graça e sem pontos fortes ou climax. Muito grande para não ter assunto. Mais parada que minha vida
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