Jose.Maltaca 14/01/2020
Amargo fim, valiosas lições
O último livro da trilogia de Laurentino Gomes, iniciada por 1808 e sucedida por 1822, narra os eventos que cercam a terceira grande data definidora dos rumos do Brasil no século XIX. A data de 15 de novembro de 1889, também conhecida como o dia da Proclamação da República. Muito do que se pode dizer de seus antecessores aplica-se diretamente a 1889, pois é um livro com linguagem clara, acessível e descomplicada. Este volume não se aprofunda nas nuances e interpretações políticas acerca do período, limita-se a narrar os fatos e as personagens que cercam o evento. De nenhuma forma, contudo, isso é um demérito, uma vez que o objetivo central do livro foi cumprido: trazer a um público amplo uma história que merece ser contada e permanece relevante, pois até hoje sofremos com mazelas diretamente oriundas da manutenção de arcaicas estruturas oligárquicas.
Não obstante a irrefutável relevância do livro, Laurentino Gomes encerra sua trilogia com um sabor amargo, pois realiza aqui sua obra menos interessante e mais arrastada. Realizo esta afirmação com base em dois argumentos de caráter estrutural e um de caráter pessoal. Em primeiro lugar, o livro é ordenado de maneira similar a 1822, iniciando-se no dia do evento a que se refere o título e posteriormente voltando no tempo e elucidando fatos e personagens. Isso não seria um problema se não fosse a excessiva sobreposição das biografias com a história da data mencionada, assim como ocorre na descrição dos eventos que se sucederam posteriormente. Ou seja, há um contínuo ir e voltar que atrapalha a fluidez e a organização das ideias do leitor. Em segundo lugar, o Gomes repete várias vezes alguns fatos específicos, o que pode ser um problema oriundo do primeiro ponto aqui citado. Independente disso, reler passagens pode se tornar um exercício de monotonia e paciência. O terceiro ponto, e aqui é meramente minha opinião, é do fato de a Proclamação da República não ser tão interessante quanto a vinda da família real portuguesa ou a Independência do Brasil. Isso por razões apontadas diretamente no livro: a falta de participação popular no movimento, o caráter meramente golpista dos republicanos, a indiferença com que a monarquia viu suas fundações ruírem e a fabricação de elementos ideológicos e de símbolos que sustentaram a República posteriormente. Ainda assim, é sempre um prazer descobrir fatos novos sobre personalidades históricas que estampam seus nomes nas ruas e praças por todo o Brasil: Benjamin Constant, Silva Jardim, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, dentre muitos outros.
1889 é um livro altamente necessário em um país que desconhece ou resolve ignorar a sua história. Traz fontes confiáveis, citações relevantes, fatos documentados e, embora não seja propriamente acadêmico, elucida questões relevantes atualmente. É importante àqueles que julgam que superamos todas as mazelas de um país agrário, atrasado e altamente dependente do setor externo. É uma leitura agradável, mas que sabe ser dolorosa e ácida quando precisa; fácil, mas sem se esquecer do nosso difícil presente; leve, embora o seu encerramento traga lições pesadas até os dias atuais. Há alguns deslizes por parte de Gomes, mas nada disso compromete a obra final, que traz questões para que continuamente possamos pensar em um país melhor, ainda que a passos de formiga e sem vontade. Recomendo a leitura do encerramento da trilogia de Laurentino Gomes.