mpin 29/09/2018
Um país para chamar de seu
Vidas provisórias me fez descobrir a veia literária de Edney Silvestre. A solidão, a rotina de pessoas forçadas a deixar o Brasil, seus anseios, contradições e autoimagem são trabalhados com sensibilidade e uma narrativa envolvente, que te pega pelo pescoço logo nos primeiros capítulos. Enquanto jornalista, Silvestre traz detalhes e percepções muito particulares e intimistas, tanto como correspondente internacional, quanto como pesquisador das quatro décadas que permeiam as histórias de Paulo e Barbara. As histórias dos dois personagens demoram muito para se encontrarem, mas isso dá tempo ao leitor de refletir sobre as diferentes culturas e décadas abordadas pelos capítulos. O estado de espírito de pessoas refugiadas é retratado com precisão e responsabilidade, e é de longe o maior trunfo desta obra. Em muitos momentos, o clima de certas cenas é ditado por músicas de fundo. Essa roupagem pop a certos pontos da trama soa por vezes fora de tom ou irônica, mas nada que comprometa a narrativa. Talvez seja mais questão de gosto do que de técnica, em meu caso. Alternando entre alguns fluxos de consciência longos e parágrafos curtinhos e frases espaçadas com palavras repetidas e aliterações, Silvestre experimenta. E experimenta sem querer destilar erudição, o que é mais importante e deixa a obra agradável, palatável e fascinante a ponto de te prender até a última linha. Recomendado.
site: http://michelborgesesc.blogspot.com/2018/09/vidas-provisorias.html