Desde que vi o primeiro nacional da editora Intrínseca soube que seria a chance perfeita de conhecer mais a literatura atual do nosso país e principalmente a chance de ler obras diferentes, de finalmente sair dessa zona de conforto que surgiu acidentalmente nos últimos meses. Apesar de sempre ter tido curiosidade de conhecer os livros do Edney Silvestre este foi o primeiro dele que li. Sempre gostei do autor como jornalista e "Vidas Provisórias" acabou sendo mais do que uma surpresa. Todo o receio que tive sumiu em poucas páginas e o resultado é uma leitura de outro nível, diferente e impactante.
Perdoem-me se a resenha não sair da forma ideal, é um pouco diferente, fiz o possível para ser clara sobre minhas impressões do livro. A história apresentada por Edney Silvestre reflete com precisão a realidade de muitos jovens do nosso país em dois pontos cruciais da história do nosso país na segunda metade do século passado. A ditadura e o Plano Collor. Tanto eu como qualquer outro jovem da minha idade ou mais velho pouco conhece esses dois períodos. Tenho de confessar, e o faço com vergonha, de que sou sim grande entusiasta da História, mas não a do Brasil. Sim é vergonhoso, mas ao entrar em contato com o mundo de Paulo e Barbara vi o quanto é falho o meu conhecimento de épocas tão marcantes para tantas pessoas e para a nossa própria realidade. Ao mergulhar nas experiências sofridas e solitárias de Paula e Barbara tive a oportunidade vislumbrar com clareza as dores reais de tantos anônimos.
Edney Silvestre fala no e-book que complementa o livro, Aqueles Tempos, que contou com diversos depoimentos e a própria experiência para construir as histórias do livro, porém mais do que mescla de ficção e realidade, Vidas Provisórias é uma história vívida das incertezas que as mudanças no Brasil e no mundo causaram na vida não só dos protagonistas. A história paralela de muitos, os traumas sofridos ao ser preso por engano pela ditadura, a desilusão com o próprio país e com a família, o medo constante, a vida em suspensão que se vive no exterior, cheia de estranhamento e solidão.
Com uma narrativa de ritmo acertado e uma visão diferente para aqueles que estão distantes das realidades descritas, Edney Silvestre presenteia o leitor com uma trama equilibrada, um olhar crítico e aguçado dos diversos acontecimentos históricos citados e o impacto na vida dos protagonistas, com perspicácia repassa ao leitor vivamente as experiências daquela época pouco conhecida pelos jovens de hoje em dia. O cotidiano no exterior, as saudades e as impressões que muitos romantizam mostradas como realmente são por um escritor jornalista que acumulou em anos de profissão sensações e olhares únicos. Tudo isso aliado a um desenrolar de bom ritmo e um amarrar que deixa no ar a esperança de que a história continua.
Leitura que conquista o leitor nas primeiras páginas, rápida e instigante, com passagens marcantes, uma das que ficará na memória é sobre o pós 11 de setembro, relato que impressiona e com toda certeza não tinha parado para pensar. Um livro que merece ser descoberto por todos, uma história cheia de impressões e sentimentos que marca a já elogiada carreira literária de Edney Silvestre. A edição da Intrínseca está impecável, desde a fonte agradável, a diagramação diferente, o texto sem erros e os detalhes visuais da edição. Segundo entrevista do autor o livro é o primeiro de uma trilogia e estou torcendo para realmente ser. Adorei a história, a forma como ela é contada e a impressão de proximidade que a escrita do autor causa. Recomendado a (...)
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