Maria - Blog Pétalas de Liberdade 04/12/2015Recomendo! Talvez vocês já tenham visto alguma reportagem do jornalista Edney Silvestre, eu particularmente gosto bastante do trabalho dele, por isso, quando soube que ele lançaria mais um livro, fiquei interessada em ler. Vidas provisórias, de certa forma, pode ser visto como dois livros em um, por alternar um capítulo da história de Paulo e um capítulo da história de Barbara.
Em 1970, Paulo tinha 21 anos quando teve seu apartamento invadido e foi levado pelos militares para ser torturado, eles queriam informações. Após a tortura, ele teve que sair do país e conseguiu exílio na Suécia. Lá, onde a população era branca e tão diferente dele, moreno, Paulo tentava sobreviver, escapando das lembranças da tortura que o atormentavam constantemente.
"Quantos de nós tomamos estradas evitadas como aquela, quantos de nós suspiraremos e contaremos nossas histórias por tantos e tantos anos?, ele se perguntou.
Não escolhi a estrada.
Fui lançado nela.
Sou da equipe dos perdedores." (página 70)
Em 1991, Barbara ainda era menor de idade quando saiu do Brasil com documentos falsos rumo aos Estados Unidos. Lá, tornou-se faxineira, além de manicure e pedicure nas horas vagas. As coisas não saíram conforme ela esperava, estar nos Estados Unidos não foi melhor do que estar no Brasil em muitos aspectos. Barbara vivia com medo da polícia e de ser deportada, não se ligava a nada nem a ninguém, mas não tinha deixado muita coisa no Brasil.
Saber onde as duas histórias se encontrariam era minha maior curiosidade e chegava a deixar meu coração apertado. O que os dois tem em comum? Ambos, após terem suas vidas bagunçadas, passaram a viver vidas provisórias, em terras estrangeiras e tão diferentes do Brasil.
"Você não vai ter chance de mostrar para ninguém o que aconteceu aqui. No Brasil não tem tortura, não há tortura no Brasil, entendeu? Você não esteve aqui. Não há nenhum registro. Nenhum documento." (página 38)
A ditadura militar no nosso país acabou oficialmente em 1985, fazem 30 anos que temos a democracia de volta, é pouquíssimo tempo! Felizmente, eu nasci num país livre, já meus irmão mais velhos nasceram sob o cruel regime militar. No livro, temos um retrato das atrocidades chocantes cometidas durante a ditadura. É um período da nossa história que não devemos esquecer, para que não se repita algo parecido no futuro. E livros do tipo são muito importantes para contar aos mais jovens sobre o que foi essa época no Brasil.
"Só na bagagem de viajantes insuspeitos, como o casal de dentistas amigo do pai dentista de Ernesto, é possível escapar da proibição de divulgar notícias indesejadas pela ditadura militar (informações sobre prisões e torturas, notas desfavoráveis à situação econômica), colocando a correspondência para os expatriados em fundos falsos de malas, entre capas duplas de cadernos, em forros de casacos, ou sob qualquer outro disfarce para driblar a Censura." (página 120)
Misturando realidade e ficção, Paulo e Bárbara, ditadura e imigração ilegal, passando por vários países e décadas da história da humanidade, Vidas Provisórias é um livro forte, que fala sobre pessoas tentando reencontrar seu lugar no mundo, reencontrar suas vidas. E uma leitura que eu recomendo!
Tem algumas citações em outros idiomas ao longo da trama, que eu não entendia por só saber o português, e que fizeram com que eu experimentasse e pudesse sentir uma minúscula fração do que deve ser o desconforto de estar em um país que você não conhece o idioma.
Eu gostei bastante da capa, as páginas são amareladas e a diagramação está boa: com margens, espaçamento e fonte de bom tamanho; e os capítulos da Barbara são escritos na cor azul.
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