Anna Laitano 01/05/2014Impossível é não sentir empatiaNão deixe que a capa colorida e o fato de o livro ser voltado para o público infanto-juvenil te enganem: este não é apenas um livro para adolescentes. Fiona Wood consegue pegar uma história de enredo simples e dar um "algo a mais" que fará o leitor se sentir conectado com o protagonista, torcendo por ele cada vez mais. Uma bela história sobre positividade, persistência, romances e família.
O livro é narrado em primeira pessoa, por Dan, o protagonista. Embora muitas vezes isso possa empobrecer a narrativa, não foi esse o caso aqui. Isto porque a autora construiu um personagem com um senso de humor irônico, sem chegar a ser depressivo ou forçado, o que adiciona uma dose de leveza à história. Além disso, por visar especialmente o público pré-adolescente/adolescente, também há uma nota juvenil em sua essência, que com certeza trará uma gostosa nostalgia ao leitor.
Dan Cereill é um personagem encantador. Não por ser o misterioso ou perfeitinho que estamos acostumados a encontrar, mas pela forma como é
real. Ele não fica extremamente feliz apesar de todas as pequenas tragédias acontecendo ao seu redor, mas tampouco se faz de vítima e joga tudo para o ar em sinal de desistência. Ele é o meio termo que nós mesmos normalmente somos, observando as coisas com um humor por vezes ácido e sarcástico, por vezes simplesmente escolhendo ver o lado bom das coisas. Quanto a isso, não há dúvida no meu julgamento: a autora se passa muito bem pela voz de um adolescente, fazendo com que seu protagonista se torne verossímil ao ponto de que você poderia sair na rua e dar de cara com ele.
Já os outros personagens não são tão bem desenvolvidos. Estelle é uma personagem um tanto quanto confusa para mim, pois cheguei a julgá-la como sendo um tipo de pessoa, só para depois descobrir que estava bastante enganada. Claro, é possível atribuir isso ao fato de Dan ser o narrador, e assim como ele vai mudando seus conceitos sobre Estelle, nós também somos conduzidos por sua visão. Porém, ainda insisto que poderia haver um pouco mais de profundidade nos personagens secundários em geral. O próprio pai do protagonista, por exemplo, poderia ter sido tão bem explorado, mas, ao invés disso, serviu mais como mero plano de fundo para a história.
De um lado, temos temas que pertencem ao universo jovem, como amores, festas, saídas às escondidas e derivados. Porém, também temos temas como divórcio, homossexualidade e dificuldades financeiras, que são algo que independe de faixa etária. Fiona Wood soube misturar todos esses temas, pintando um retrato maravilhoso sobre o que é crescer e como às vezes nos sentimos verdadeiros adultos, enquanto, em outras vezes, somos apenas crianças indefesas.
Agora, o lado do romance (romântico) juvenil pode ser difícil de se escrever. Muitas vezes é complicado passar aquela sensação mais pura, aquele sentimento de esquisitice que vem com as descobertas, sem cair em clichês mais do que saturados, ou fazer com que os personagens pareçam mais velhos do que realmente são. Aqui, o que temos é uma história bem comum no quesito romântico. Contudo, a forma como as situações são conduzidas também são bastante críveis, em um passo tranquilo, bem trabalhado, no melhor estilo "tudo ao seu tempo", que é quase impossível não sentir algumas borboletas no estômago em determinados momentos da leitura.
A capa é um pouco sobrecarregada demais, para o meu gosto. O título e o nome da autora se misturam e de certa forma se apagam no fundo multiforme. Ainda assim, condiz com a ideia mais
teen que o livro passa, além de poder ser utilizada para ilustrar os pensamentos bagunçados e cheios do protagonista. Por outro lado, a edição e o design interno são bem limpos e simples, o que torna a leitura tranquila. A tradução e a revisão também estão de parabéns, porque não lembro de ter notado nenhum erro.
Reforço o que disse no começo: alguns podem achar o livro muito juvenil, mas eu discordo. A mensagem principal é de persistência e pensamento positivo, o que é bem legal, animador e válido para todas as idades. Além disso, o livro tem um clima leve, ideal entre aquelas leituras mais complexas que nos sobrecarregam. Uma leitura despretensiosa e encantadora à sua maneira, mesmo com alguns clichês. Impossível não se apaixonar, pelo menos um pouquinho!
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