Nilton 22/08/2021
Cinco quilotons. Que se faça a luz.
Mal tinha chegado na metade deste livro, e eu já sabia que merecia todas as cinco estrelas. ?Anjos e Demônios", a primeira aventura de Robert Langdon, é um daqueles livros cujo enredo é impecável e capaz de empolgar tal qual um filme campeão de bilheteria. A dimensão do universo criado por Dan Brown é surpreendente e comprova o sucesso do autor. Ele relaciona ciência e religião, dois lados da mesma moeda, e os interssecta de forma genial. Essa dualidade apresentada na obra condiz perfeitamente com o fluxo da nossa própria História, ao longo de todos esses anos. Ou, ainda, ao menos nos dá algumas pistas ao propormos analogias entre o universo fictício próprio da obra, e a realidade histórica e geopolítica, com a qual lidamos fora dos livros. "Anjos e Demônios é uma breve, mas pontual amostra de arte, literatura, ciência e religião. Essas duas últimas são apresentadas de forma perfeitamente simétrica, o Yin-Yang, um ambigrama. É como se uma coisa não pudesse existir sem a outra: seu oposto, seu complemento.
No livro, o universo da cristandade, tão em voga e centrado no poderio religioso do Vaticano, é desafiado pelo pragmatismo da ciência e de seus métodos, representado pelo suposto ressurgimento de uma antiga fraternidade altamente discreta, infiltrante e que promete, através de pistas e revelações chocantes, destruir o templo de Deus. São os Illuminati, uma antiga associação de cientistas e simpatizantes da pura natureza das coisas. O que se segue é um verdadeiro duelo de Deuses, um confronto entre devotos e teóricos, que, se utilizando de sua fé ou seus experimentos, lutam entre si. A obra questiona e nos faz questionar. Elabora perguntas sobre quem poderia ser o responsável pelo subjugamento do seu oponente. Ou, ainda, quem começou ou estimulou essa guerra, que massacrou de forma horrível tantas vidas por razões diversas.
Assim como num cabo de guerra ou num pêndulo que balança, religião e ciência se debatem o tempo todo. De um lado, a religião alertando à ciência sobre a sua ausência de moral e sua inconveniente interferência desmedida até mesmo em assuntos fora de sua incumbência, ao manusear a vida e a existência em laboratórios, carregando os tão sagrados milagres divinos em catéteres e seringas. Do outro, a Ciência, tão ligeira, apelando para que o mundo excomungue a obsolescência e o desserviço causados pelo estímulo excessivo da fé e de filosofias antiquadas, que nada podem fazer pela humanidade. Por outro lado, Robert Langdon, um historiador de religiões, se fixa de forma neutra em meio a esses deuses milenares e percebe, tarde demais, que essa aventura em torno da desavença entre cientistas e religiosos irá lhe custar caro. Termino dizendo que ?Anjos e Demônios? é o tipo de livro que eu leria quantas vezes fossem necessárias para desfrutar de cada momento do enredo extasiante desta obra.