Mauricio (Vespeiro) 20/02/2018Não fosse a “lacração” das cavernas, seria melhor.O ilustrador Shiko é paraibano e sua proposta de homenagem aos personagens clássicos de Mauricio de Sousa levou Piteco e sua turma para o nordeste. Em “Piteco - Ingá”, a inusitada mescla de elementos pré-históricos com a mitologia nordestina chama a atenção desde o início. O interesse cresce à medida que o belíssimo traço se ajusta com perfeição à técnica de aquarela utilizada como finalização. E os fãs de graphic novels não ficarão decepcionados com a excelente diagramação, recheada com desenhos dotados de notáveis expressões em angulações nada convencionais. O título “Ingá” deriva da Pedra do Ingá, monumento pré-histórico do agreste brasileiro, uma pedra entalhada com inscrições rupestres. Shiko ainda traz alguns elementos mitológicos tupiniquins como o Boitatá e o Curupira (que também aparecem em “Chico Bento - Arvorada”), mas a associação descaracterizada de seus nomes e formas enfraquece os personagens.
O roteiro, que costuma ser o ponto fraco da coleção Graphic MSP, mais uma vez não empolga. Resta-lhe tentar ser apelativo, justamente onde fracassa de forma retumbante. O Piteco original é um homem das cavernas, macho-alfa, líder e personagem principal de sua tribo, forte e caçador. Nessa história, tornaram-no um Pithecanthropus nutellis. Coadjuvante em todas as ações, é colocado de lado para (argh!!) “empoderar” as mulheres. Thuga é o centro da história. Ela é a xamã, ela é sexy, ela lidera toda a tribo em busca de um lugar com água, ela se oferece em sacrifício para a tribo inimiga. Depois que todos os homens se acovardam, Piteco e Beleléu tentam resgatá-la. Mas só conseguem com a ajuda das forças místicas da natureza, invocadas espiritualmente por Thuga e Ogra. E quando chega o momento de salvar a Thuga, quem assume o papel principal? Piteco? Beleléu? Não, a Ogra. Celebra-se a “paz mundial” e, por fim, a Thuga - nas entrelinhas - é quem “arrasta” Piteco para a caverna. Bem, menos pior, pois neste ponto já fiquei surpreso por ela não preferir a Ogra...
Nota do livro: 7,06 (4 estrelas).