A. Mendes 24/04/2024
Dá-me de beber
Clarice brinca com as palavras, cria uma narradora e uma narrativa com um fluxo dimensional.
O monólogo se dá pelos instantes da vida, há temas como amor, morte, vida, solidão? e cada um é descrito de maneira singular. Como se a narradora estivesse desabafando sobre cada um, desabafando para um ?tu? que não é explícito, não sabemos quem é, pode ser um amante ou quem sabe uma Não-Pessoa. Ela apresenta esses temas de uma forma enigmática, metafórica, sentimental, que atinge o leitor e o transporta para esta correnteza que oscila entre a prosa e a poesia.
A forte relação com a escrita, ?escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio?. É apenas através da escrita que a narradora se pode SER, entretanto escrever ainda é solidão. É através da escrita que a personagem-narradora morre e revive várias vezes, há essa dualidade que a escrita a traz.
A Narrativa traz um diálogo entre pintura e literatura é como se as palavras não fossem o suficiente para se expressar e ela acaba procurando refúgio na pintura para capturar o seu ?instante-já?.
É um livro lindo, não irei me estender para tentar falar sobre tantas coisas que a Clarice nos apresenta, é preciso ler para sentir e se deixar lavar pelas palavras e pinturas de Clarice Lispector.