spoiler visualizarMalu.Rodrigues 11/05/2021
Cansativo, porém com um final interessante!
"A Ilha Misteriosa" é mais um exemplar das aventuras escritas por Júlio Verne, desta vez com temática de 'Robinsonada', acerca de um naufrágio aéreo - como ele mesmo introduz. Um grupo de 5 homens que, após fugirem da Guerra Civil Americana em um balão - que acaba por danificar-se, tornam-se náufragos em uma ilha desconhecida. Com o passar do tempo, o grupo recria diversas invenções para sua sobrevivência na ilha, até se instalarem de fato e fundarem uma colônia. Os colonos se deparam também com vários acontecimentos misteriosos, sem explicações plausíveis - encontrando a solução apenas no final do livro.
O livro está dividido em 3 partes. A primeira, basicamente relatando o processo de instalação da colônia e com partes altamente descritivas, poucos mistérios surgem na ilha nesta parte; considerei-a a mais monótona e desestimulante para a leitura. Na segunda parte, dois novos personagens entram em cena e diversos mistérios começam a aflorar; com colonos já instalados em seu arquipélago, questões técnicas de sobrevivência não são mais tão frequentes, sendo substituídas pela exploração da ilha; dessa forma, a leitura torna-se menos tediosa e consideravelmente mais intrigante. Por fim, a terceira parte nos relata uma explosão de mistérios ocorrendo na ilha, além da aparição de piratas no arquipélago, fornecendo reviravoltas ao rumo da história e criando um clímax cativante; realmente gostei desta parte da história, de fato a melhor das três, inclusive por dar um desfecho interessantíssimo para a robisonada, apesar de conter certo clichê (claramente, referente à fuga dos colonos da ilha).
Uma coisa que me intrigou nesse livro, foi a presença de aparente racismo do autor ao relatar o único personagem negro: Nab – criado do líder do grupo (Cyrus Smith); sendo relatado sempre como trabalhador e um serviçal fiel ao seu patrão. Entendo que as características de Nab sejam importantes para a criação do pequeno exemplar de sociedade demonstrado pelo livro, porém também vejo como certo racismo por seu papel ficar apenas dentro deste nicho.
Devo acrescentar também um comentário sobre a edição que, apesar de belíssima, me incomodou. Em uma das notas de rodapé, o editor/tradutor fornece um spoiler acerca da fonte dos mistérios da ilha; o que, para mim, perdeu um pouco a graça quando os colonos finalmente solucionaram essa questão com o aparecimento do Capitão Nemo no livro – oriundo do romance anterior de Verne “20.000 Léguas Submarinas”. As notas de rodapé também não dialogam com a apresentação da edição, ao corrigirem todos os erros cronológicos de Júlio Verne sobre o tempo passado na ilha (que são justificados na excelente apresentação do livro – esta inclusive, deveria ser um prólogo, pois, como o próprio autor sugere, contém spoilers).
Apesar de conter partes muito "arrastadas" no relato, a história recria um belo exemplar de sociedade na Ilha Lincoln, possuindo cada personagem uma característica diferente e uma função dentro desta colônia para a sobrevivência geral, demonstrando a importância da convivência em sociedade. Ademais, a história se encerra com um final interessantíssimo, como é sempre característico de Verne, entrelaçando-se com o enredo de “20.000 Léguas Submarinas”. Apesar desta ter sido minha primeira leitura do gênero Robinsonada - e, de fato, eu não ter me apegado muito - fiquei com vontade de ler mais livros nesta temática, talvez os leitores já habituados desfrutem melhor desta leitura.