Cris 04/03/2021
Um livro chatinho porém necessário rs...
(...)O livro é cearense. Foi imaginado aí, na limpidez desse céu de cristalino azul, e depois vazado no coração cheio das recordações vivaces de uma imaginação virgem. Escrevi-o para ser lido lá, na varanda da casa rústica ou na fresca sombra do pomar, ao doce embalo da rede, entre os múrmures do vento que crepita na areia, ou farfalha nas palmas dos coqueiros. ~ José de Alencar.
Primeiramente: até que enfim conheci o significado do tal 'segredo de Jurema'. Secundamente: passei mais tempo lendo as notas de roda-pé que a própria história rs.
Brincadeiras à parte, "Iracema" foi escrito em 1865 e assim como "Senhora", pertence ao movimento literário do Romantismo conhecido por abordar o sentimentalismo, os dramas pessoais, o subjetivismo e egocentrismo em todas as suas obras. Faz parte da grade de muitos colégios e é item indispensável em vestibulares, sendo assim, continuará sendo malvisto por muitos; entretanto dessa vez vou assumir, o livro é chato a meu ver. É muito bem escrito e tem sim sua grande importância na literatura brasileira mas, não muda o fato de eu não ter achado a leitura prazerosa ou algo do tipo.
(...) Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Bem, como percebemos, a Índia aqui descrita é muito bonita e poria qualquer uma de nós no chinelo com toda sua graciosidade, obrigada Zé de Alencar rs. A história retrata o amor e infortúnio de uma relação inter-racial e de tribos rivais. De um lado temos Iracema, filha do primeiro pajé do Ceará; do outro, um jovem e perdido guerreiro português. Ao longo dos capítulos e de forma bem breve, o casal se apaixona e Iracema engravida trazendo vida a Moacir que em seu significado revela-se Filho da Dor, nota-se a partir daí um desfecho para lá de sofredor e trágico.
(...) Recebe o filho de teu sangue. Chegastes a tempo; meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!
Finalizei "Iracema" um tanto confusa quanto sua classificação. Por se tratar de um livro indianista, muitas expressões e trechos em Tupi-Guanari confundiram e impediram meu envolvimento com a trama. Contudo, sempre que leio um clássico, sobretudo brasileiro, me pergunto o porquê do livro ter sido escrito, daí pesquiso, estudo e chego a conclusão de que tudo tem um motivo. Em Iracema, o seu subtítulo 'Lenda do Ceará' caracteriza a obra como referência direta à colonização desse estado, ou seja, traz um enredo histórico, e só por esse motivo já deve ser lido e disseminado, afinal, é a espinha dorsal do nosso Brasil. Sendo assim, leitura mais que recomendada!
(...) Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.