Desde que comecei a ler distopia tinha vontade de conhecer uma história que lidasse com um futuro onde os sexos são diferenciados de forma a marcar a sociedade. Por esse motivo quando conheci a trilogia da autora Anna Carey fiquei bastante curiosa, até mesmo por causa da sutil referência a obra de Atwood. Com uma narrativa cadenciada a autora apresenta ao leitor um universo rico e intrigante. Um futuro onde quase todos foram exterminados e que o valor entre a mulher e o homem regrediu séculos.
Eva estava feliz com a formatura que se aproximava. Era a véspera e as garotas estavam comemorando com muitos risos e planos. Como melhor aluna da escola Eva está empolgada para seu discurso e para finalmente passar ao prédio das formandas onde acredita que irá treinar seu ofício. Eva quer ser artista, pintora e estudar tudo o que é possível antes de ir para a capital, a Cidade de Areia. Porém durante a festa Eva vê Arden, a garota que chegara aos 8 anos na escola e desde então aprontava todas, se esgueirando. Eva sabe que ela está aprontando algo e quase consegue denunciá-la, mas Arden a impede. Ela está fugindo, fugindo das mentiras e do futuro tenebroso que as aguarda do outro lado do lago no prédio das formandas. Eva não acredita em Arden, mas a curiosidade e preocupação fala mais alto, e no meio da noite Eva resolve atravessar o lago, ficando com água até o rosto e ao atravessar a ponte o que vê pelas janelas a choca. Assustada e paralisada Eva foge com uma ajuda improvável. Sozinha e com poucos mantimentos Eva luta para sobreviver enquanto combate o medo dos homens que a escola pregou desde seus cinco anos. Caçada pelo Rei que a quer pessoalmente Eva é salva por Caleb. Um rapaz que desafia tudo o que a Escola ensinou sobre os homens. Eva treme só de pensar no fim que o Rei tem para ela na capital e sem opção resolve acompanhar Caleb enquanto ruma para Califa. A cidade onde a professora mandou-a procurar ajuda. Caçada, lidando com esse mundo novo e diferente de tudo o que aprendeu, Eva será surpreendida por traições, amizades e amor.
É a partir dessa premissa que a autora desenvolve sua história, intercalando entre a trama a apresentação desse futuro onde noventa e oito por cento da população do mundo foi dizimada e todos os órfãos são usados como ferramentas pelo governo. Garotos são mão de obra escrava nas obras gigantescas que o rei promove na capital. E as garotas estudam, e são ensinadas a temer os homens acima de todas as coisas, para quando chegar aos dezoito serem feitas prisioneiras enquanto têm gravidezes artificiais e múltiplas povoando a Nova América. A narrativa em primeira pessoa flui fácil em um ritmo cadenciado e Carey desenvolve a trama de forma intrínseca ao amadurecimento da protagonista. As descrições são pontuais formando um ambiente futurista de desolação criativo, que procura inovar e com contrastes muito palpáveis.
Outro ponto que merece destaque é o desenvolvimento do romance entre Eva e Caleb. A protagonista foi criada desde seus cinco anos para temer e ter repulsa por homens, de crianças a idosos sem distinção, mas a medida que Eva analisa as ações e os gestos de Caleb começa a questionar se tudo o que aprendeu é verdade. Mentiram sobre seu destino, sobre o que mais mentiram? Caleb é um personagem curioso e que merecia ter seu ponto de vista com o outro lado da história. Imagina como deve ser para Caleb viver com Eva sem nunca ter visto uma garota. A autora podia ter jogado com esses lados e pelo que tivemos de Eva aposto que seria muito interessante. A evolução da história é linear em torno da fuga e da caçada de Eva, conhecemos também um pouco da rede que trabalha as escondidas ajudando garotos e garotas a fugir do governo, mas o fim da história é em torno de Eva. Um fim que apesar de não surpreender muito deixa o leitor com o coração na mão.
Leitura rápida, gostosa, com um ritmo fluido e que instiga o leitor desde o começo principalmente pela simpatia com Eva e sua situação do mundo. Acompanhar suas descobertas e seu amadurecimento foi ótimo e estou curiosa para saber como Anna Carey conduzirá a trama. As pontas e os elementos que ela introduziu são bem interessantes e a luta dos órfãos, principalmente as garotas por um lugar mais digno na sociedade pode render continuações fortes. A edição da (...)
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