Conheci a série protagonizada por Locke Lamora pouco depois que comecei o blog e na época pensei que nunca veria o livro por aqui. Elogiado por grandes autores e tido como brilhante a história de Scott Lynch é mais do que uma fantasia. O autor vai além do mundo novo e das características comuns da fantasia, trazendo um protagonista tão fascinante quanto a trama, aliás, é impossível dizer o que é mais brilhante: o protagonista, a trama, o mundo ou a escrita. Um jogo de palavras e tramas fascinante. Gostei demais do conjunto todo, coisa difícil de acontecer. Conheçam.
A primeira coisa a se entender sobre Camorr é a intricada organização que existe na cidade. O submundo de Camorr é controlado por Capa Barsavi. Todos abaixo dele pagam para ficar fora do radar e não ser incomodado. Na base dessas organizações que trabalham na cidade está o Aliciador, ele é a base, e quando seus órfãos crescem com determinadas especialidades ele os vende para organizações maiores. Como em uma longa escada. Locke era um órfão de Camorr, a rica, bela e conturbada cidade com canais, pontes e prédios de pedra quando ele foi recolhido pelo Aliciador. Mas Locke é um perigo ávido demais para o Aliciador, que decide vendê-lo. O Padre Correntes para todos é o sacerdote cego da Casa de Perelandro, mas que não é nem cego e nem sacerdote de Perelandro. Correntes dirige uma organização pequena, requintada e invisível, os Nobres Vigaristas, acostumados a dar golpes tão sutis quanto desconcertantes. Seus órfãos são treinados não apenas na arte de roubar. São educados e afiados para soarem perfeito na pele de qualquer papel necessário. Locke Lamora, um garoto que aos cinco já impressionava por sua astúcia cresceu aprendendo o melhor, aperfeiçoando seu dom natural e agora se preparava para o maior golpe de suas vidas. Acompanhado de seus companheiros Nobres Vigaristas e depois de uma longa preparação se prepara para levar toda a fortuna de Dom Salvara. O plano era bom, as informações muitas, estava tudo no devido lugar, mas Locke não reparou na sombra que acompanhava seus movimentos do céu. E nem o inimigo invisível que queria eliminá-lo para ir em busca de um prêmio bem maior. O Espinho de Camorr é o alvo e ele terá de usar toda a astúcia do mundo para sobreviver a essa cruzada.
Intercalando passado e presente somos apresentados a Locke Lamora. Através de interlúdios muito bem encaixados o autor ganha o leitor antes de passarmos da página 50. A narrativa construída por Scott Lynch é um deleite para o leitor. Uma linguagem única, que prende e fascina o leitor. Sem se prender a longas descrições e a uma apresentação rebuscada do ambiente o autor consegue apenas com o correr da trama mergulhar o leitor em um mundo fascinante. A cidade de Camorr, sua organização, sua beleza e vida é passada ao leitor de forma vívida e marcante através da história. É surpreendente como o autor consegue esse feito de forma tão natural. É imperceptível a forma como ele introduz seu universo.
Aliando essa qualidade narrativa fora do comum a uma gama de personagens únicos, Lynch surpreende o leitor a cada virada em sua trama. Tanto no presente quanto nos interlúdios do passado a trama vai se desenrolando sem um minuto de previsibilidade e se você pensa que Locke é o herói dos heróis, o mocinho dos mocinhos está enganado. Ele é inteligente, bem-humorado, sem vergonha, perspicaz e audacioso, mas não é santo. Suas mentiras passeiam por toda escala de bondade a vilania, seu jogo é sempre a seu favor e daqueles que gosta. Lynch não poupa personagens, mortes acontecem e deixam o leitor pasmo. O ritmo do livro é ágil e engole o leitor, numa trama repleta de voltas que culmina em um fim fantástico. Não é à toa que o nome Locke soa tanto como Loki, o deus nórdico da trapaça. O articulador e caluniador que fazia o panteão nórdico de bobo com suas armações e planos. Lynch consegue um personagem ainda mais forte. Com problemas e segredos, e que deixa o leito em suspensão. O que virá agora?
Leitura rápida, imersiva e instigante. Ainda não me cansei de repetir que a construção da história é brilhante. Scott Lynch foi genial ao dar a história um cenário tão inovador e incrível. E mais ainda ao investir em um protagonista tão diferente do visto em fantasias. A edição da (...)
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