Livia 05/05/2020
Esse velhinho fofo dos memes e que hora ou outra aparece no Fantástico é, além de um ser humano ímpar, um baita escritor. Esse livro, que foi o segundo que li dele (o primeiro foi "Por um fio", recomendo muito também!), elucidou e traduziu muito do que me fascina na medicina: a empatia e o olhar individualizado para o outro.
Com uma narrativa leve e muito envolvente (devorei o livro em uma viagem com amigos), Drauzio Varella exerce com maestria a função de reportar as deficiências do sistema carcerário brasileiro - algo que nós, cidadãos comuns, escolhemos muitas vezes ignorar. Os capítulos curtos e explicativos dissecam tanto a estrutura física da penitenciária Carandiru, em São Paulo, quanto sua estrutura social. Os detentos criam um microcosmo com regras e com um sistema moral próprio da cadeia, o que torna a leitura, além de muito sensível, extremamente interessante.
O massacre do Carandiru, que acreditei no começo da leitura ser o tema principal da obra, é narrado apenas nos últimos capítulos. O médico escolhe dar espaço à vida na narrativa, individualizando as personagens do presídio, que, nas últimas páginas, são apagadas - apagadas da vida, e, infelizmente, da memória de grande parte da população.
Como brasileira, me senti envergonhada de, por tanto tempo, não saber em detalhes a história desse lugar. O incômodo, no entanto, é necessário: faz a gente crescer. E acredito que depois dessa leitura eu tenha crescido um pouquinho mais humana.