Dara 04/05/2019
A ética de ser fiel a si
O livro, dividido em três capítulos sob a perspectiva de três personagens distintos, conta a história da protagonista Kim Yeonghye, a qual subitamente decide não somente não comer carne, como também não mais cozinhá-la, conjuntamente a eliminação de qualquer um de seus derivados na sua vida.
Atormentada por expressões de seu inconsciente, Kim busca afastar-se da violência perpetuada pela alimentação e vestimenta enquanto uma alternativa para toda cena sanguinária que se repete cada vez que dorme, como forma de distanciar-se de toda violência que sofre e sofreu. A partir disso, insere-se em um posicionamento ético consigo mesma, algo não ocorrido antes, ao menos não em tal proporção, o que choca seus familiares.
Uma mulher a qual sempre foi obrigada a se por enquanto submissa, tal qual uma árvore que cresce em demasia em centros urbanos e é podada dentro de certos limites estabelecidos, Yeonghye impõe-se enquanto sujeito em ato. Buscando, então, assemelhar-se as plantas, as quais sobrevivem com resiliência a partir do sol e da água, manejando as crueldades que lhes afligem pacificamente.
Desse modo, o livro, para uma estudante de psicologia como eu, evidencia aspectos da complexidade que tangem um diagnóstico fechado e as formas psiquiátricas de "tratamento" explicitadas. Sendo esse o aspecto que mais me atormentou ao longo da leitura desse brilhante escrito: ninguém. escuta. a. Yeonghye. Não deixo de pensar que um mergulho abissal na mesma, uma escuta atenta, auxiliaria para diminuição do sofrimento não só da Kim, mas também dos que se importam com ela, especificamente sua irmã.
Por fim, caracterizo a referente leitura enquanto artística e gostosa, que trata de temas urgentes como sociedade patriarcal, saúde mental, etiqueta, abuso, entre outros.. Além disso, pessoalmente me fez estabelecer uma nova relação com minha tatuagem de uma mulher florida, o que me faz ainda mais grata por tal leitura.
Literatura de qualidade, um livro que vale a pena ser lido.