Lusia.Nicolino 09/01/2020
A fantasia e a loucura de cada um nunca é uma realidade solitária
Interessam-me muito os autores orientais, os clássicos, como Yasunari Kawabata, Natsume Soseki, Dai Sijie e os mais jovens, os contemporâneos, os que vão surgindo para deixar seu legado. E foi com grande expectativa que aguardei a vez de ler Han Kang que estava há algum tempo na fila.
E eu adorei! A história, contada em três partes, com três diferentes narradores, conta a transformação de Yeonghye de mulher pacata, quase submissa a um marido sem graça em uma mulher que não come mais carne, mas não só isso. A razão que a leva a essa atitude e o que essa decisão desencadeia nos leva para um universo ao mesmo tempo distante e perto da realidade do nosso dia a dia.
Para mim, se o livro tivesse terminado na primeira parte, narrada em primeira pessoa pelo marido, teria sido o melhor conto de todos os tempos! Mas, Kang segue adiante e nos entrega a segunda parte, narrada pelo marido da irmã de Yonghye, um artista visual com comportamento bem distante do que se idealiza para o papel de marido em uma família tradicional sul-coreana.
E, finalmente, a terceira parte, narrada pela irmã mais velha de Yeonghye, que com um senso de responsabilidade exacerbado, fica com ela o tempo todo e sustenta a ruína de seu próprio mundo. Engole seus momentos de desespero em nome do filho pequeno.
Yeonghye só tem voz em primeira pessoa ao narrar seus sonhos, nascidos do leve realismo fantástico da autora.
A fantasia e a loucura de cada um nunca é uma realidade solitária, como enxurrada, arrasta muita gente.
Certamente não é o tipo de livro que fará o editor inserir na capa um selo de mais de cem milhões de cópias vendidas, apesar de ser tratado com Best Seller e, talvez, exatamente por isso, vale muito a leitura!
Quote: "O tempo, que é uma torrente tão justa que chega a ser cruel, levou em suas águas aquela vida tão certinha, construída ao redor da paciência."
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