Ana 23/02/2023
Não vou mentir para vocês: este não é um livro fácil. Mas como seria, se somos levados para a mente de India Morgan Phelps (ou Imp, que é como a maioria das pessoas a conhecem), uma jovem aparentemente comum, mas que carrega consigo um grave quadro de esquizofrenia. Imp é neta e filha de mulheres com esse mesmo problema, mas diferente da avó e da mãe que acharam no suicídio a única forma de contornar o problema, Imp resolve escrever uma história para tentar entender a atitude das duas, além de ser uma forma de preservar as suas lembranças.
Imp está escrevendo um livro sobre fantasmas. Afinal, fantasmas não são necessariamente pessoas que já morreram. Como ela mesma diz, fantasmas são aquelas lembranças que não conseguimos esquecer de jeito nenhum e que nem o tempo consegue apagar. São essas coisas que nos assombram de alguma forma. A Menina Submersa é uma história sobre fantasmas, sereias e lobos e, é claro, todas as outras coisas que Imp não consegue esquecer.
Muito provavelmente esse é o livro mais complexo que já li na minha vida. Não é aquele tipo de história que você lê em uma sentada, mas aquela que deve ser degustada. A narrativa varia entre primeira e terceira pessoa e pode até ser um pouco confusa no começo, mas tudo não passa de uma técnica para nos levar direto para a mente de Imp, e funciona bem. Imp nos conta, no decorrer dos capítulos, sobre a sua fixação por dois quadros em especial: A Menina Submersa, de Phillip George Saltonstall e Fecunda Ratis, de Albert Perrault. Essas duas obras são tão presentes no livro que se tornam personagens dele. Imp fala também sobre o seu relacionamento com Abalyn, sua namorada. Pra mim foi um dos pontos altos da narrativa.
A mente de Imp é tão incrível e complexa que não sabemos até que ponto as coisas que ela conta são reais. Ela mesma nos deixa a par disso em diversos trechos, quando fala que não tem certeza se aquilo que nos conta no momento aconteceu realmente daquela forma. E o mais incrível é que terminamos o livro sem termos a mínima ideia se os relatos são verdeiros ou não. Uma parte que mexeu extremamente comigo foi o capítulo sete, onde Imp deixa de tomar os remédios e conhecemos o que realmente é a esquizofrenia... E posso adiantar para vocês que não é nada fácil.
Não preciso nem comentar muito sobre essa edição maravilhosa, não é mesmo? Além de ter essa capa dura maravilhosa, a diagramação está perfeita: em diversas páginas encontramos alguns insetos perdidos (que farão sentido com a leitura, eu garanto), muitas ilustrações e esse acabamento cor-de-rosa incrível ao redor das folhas.Vocês podem até tentar me dizer que as histórias de Imp são duvidosos demais... Mas o que eu penso é: será que seria muito diferente se, por exemplo, nós fossemos narrar os nossos pensamentos mais íntimos? É um caso a se pensar...
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