Bruno 27/05/2019Imagine um autor batendo à porta de uma editora: "Bom dia. Gostaria que vocês publicassem meu livro. É sobre matemática, probabilidade e influência do acaso". A maioria dos editores teria parado de ouvi-lo na 11ª palavra. O livro, nunca lançado, faria do autor para sempre um desconhecido.
Esta não foi a história de Leonard Mlodinow. Físico estadunidense, filho de sobreviventes do holocausto, Mlodinow é o autor de O Andar do bêbado, livro que discorre sobre a influência do aleatório em nossas vidas, de forma dinâmica e bem-humorada. Diferente do que a maioria dos autores faz, explicar algo complexo usando ao final alguns exemplos, ele conta histórias interessantes usando probabilidade e matemática apenas como um pano de fundo. Perguntas de programas de adivinhação, esportes, sucessos de bilheterias, tudo é usado para compreendermos importantes processos que governam as leis probabilísticas, de uma forma prazerosa.
Seres humanos evoluíram para encontrar padrões em tudo aquilo que temos contato, mas muitas vezes, nossa intuição está errada. Desta forma, O andar do bêbado desafia nosso bom senso. Sua leitura nos instiga a interpretar os acontecimentos da vida de forma mais fluida e não-determinada. Deixe-me tentar explicar: o acaso influencia tudo em nossas vidas, e portanto, suas flutuações (para o bem ou mal) regem todas as variáveis que as governam.
Além disso, algo bastante interessante em O andar do bêbado é o destaque para cientistas pouco abordados em livros de história da ciência, como Blaise Pascal e Francis Galton. Revela-se o contexto em que viviam, assim como suas contribuições para as ciências matemáticas. Ao aprender sobre a estatística do cotidiano, descobrimos um pouco sobre nós mesmos: até que ponto nossas crendices sobre esporte, política e cultura são corretas? Tenho mérito em ter conseguido aquele emprego? Não ganhei aquela fortuna porque sou um idiota ou por não ter tentado mais vezes? O autor transmite uma incrível mensagem ao mostrar como a compreensão do acaso impede que renunciemos nossos sonhos por acreditar em algum azar cósmico.
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