Mournet 22/04/2024
Agressividade disfarçada de amor.
Acho que Julia Quinn se equivocou um pouco ao tentar escrever os Bridgertons como uma família que busca se casar apenas por amor, mas afinal: este amor é realmente saudável?
Tenho a impressão que todos os agregados à família poderiam denunciar cada um dos irmãos até aqui apresentados por algum tipo de ferimento aos direitos humanos deles. Daphne e Benedict têm uma estranha tendência a ignorar quando o próprio parceiro diz “não”, mesmo que isso signifique ferir a índole dos pobres coitados que foram pegos na armadilha destes dois considerados da família mais romântica de Londres. Já Anthony e Colin parecem não ver problema ao ferir as próprias parceiras fisicamente, ignorando que, como humanos, elas também têm dignidade, independente se eles já estavam em um relacionamento ou não.
Colin age como uma criança chorona - e sinto muito pela ofensa, crianças - até onde li, uma criança que vê o próprio amigo de anos conseguindo algo que ele não tem. Ele não se importa com os sentimentos de Penelope, a privacidade ou até mesmo o respeito parece faltar neste desocupado Bridgerton. Sim, desocupado, afinal Julia Quinn jamais vai me fazer acreditar que um homem branco privilegiado realmente sente que ‘não tem nada para fazer’. E ao ler o livro, notei que essa escritora sequer tem criatividade e deveria ter parado no livro de Daphne, afinal, todos os quatro livros sempre tem o enredo do garoto e da garota (me recuso a chamar essas criaturas imaturas de adultos) brigando, como se parassem de gostar um do outro abruptamente, até que ele - ou ela, no caso de Daphne - tem a ideia imbecil de envolvê-la em uma relação de amante ou esposa, ignorando que o outro é racional.
Tentei terminar o livro por empatia à Penelope, porém é impossível continuar lendo com o livro passando a ideia de que a família Bridgerton é uma família que preza pelo amor acima de tudo, afinal, este livro me fez apenas pensar que apesar dos pesares, a família Featherington tem mais empatia pelo próximo do que os principais. Caso eu tenha uma coleção de livros algum dia - o que eu acho improvável -, provavelmente “Os Segredos de Colin Bridgerton” ficará lacrado até a minha morte. Penelope era uma solteirona, porém era empoderada, uma mulher que, um dia, até ultrapassa a esperteza de Lady Danbury, mas como aconteceu com Kate e Sophie, infelizmente ela perdeu todo seu intelecto ao se relacionar com esse palerma.
Sim, Julia Quinn, Penelope tem o corpo diferente, mas será que eu preciso mesmo ficar lendo os indicativos de Colin pensando como ela é roliça toda a vez? Será que essa mulher realmente sabe que, naquela época, Penelope seria considerada uma das - se não a mais linda - jovem de toda a alta sociedade, enquanto os Bridgertons seriam vistos como se não tivessem comida em casa? Pelo visto não, mas afinal, o que pensar de uma autora que ama diminuir as mulheres a qualquer custo nas narrativas desses livros?