Nathaniel.Figueire 16/10/2023Nietsche e ficção especulativaA premissa em si já me interessou quando vi algum booktuber gringo recomendando. Adoro histórias de viagem do tempo e gosto muito também de histórias que não são tão "ficção científica" sobre o tema, tais como "Em algum lugar do passado" e "O feitiço do tempo".
Vou seguir o que geralmente faço em minhas resenhas: não vou resumir a história, vou refletir relacionado com algumas questões.
Eu li esse livro como uma especulação a partir de dois conceitos nietzschianos: eterno retorno e amor fati. Não tenho formação em filosofia, não sou grande conhecedor de Nietzsche, mas a ideia de cada uma dos conceitos, de maneira bem vulgarizada é: pensar que cada atitude sua será revivida uma infinidade de vezes (eterno retorno), o que cria um peso para cada escolha/ação, e que devemos aceitar de braços abertos as consequências de nossas escolhas/ações (amor fati). Não é bem isso, eu sei, mas a ideia geral é essa.
O eterno retorno está no próprio título do livro: o protagonista morre em 1988 e acorda novamente em 1963 lembrando toda sua vida passada. Claro, agora ele pode fazer ações diferentes (e faz), mas, ao final desses 25 anos, ele morre de novo e volta novamente para uma versão dele no passado. Não é bem a ideia nietzschiana, mas segue a premissa de reviver muitas vezes sua própria vida para melhor pesar suas escolhas e ações: um espécie de eterno retorno consciente.
O amor fati está na principal "moral" livro. Todos pensamos, a partir da premissa do romance, que viver novamente sabendo tudo que já sabemos seria melhor. Foi nisso que o romance mais me pegou (e mais me fez chorar diversas vezes). Isso é realmente verdade? Somos resultados de todas as nossas escolhas, boas ou ruins. Mudá-las acaba sendo, de certa forma, mudarmos um pouco de nós mesmos. Algumas mudanças poderiam acarretar em nunca termos conhecido aqueles que amamos, ou talvez nos tornado versões de nós mesmos muito mais sombrias.
Ao final do livro, quando os "replays" acabam e o protagonista finalmente fica no tempo presente, sua catarse me tocou muito. Sim, eu sei que, no fim, o romance tem muito de crise de meia-idade de homem branco de classe média baixa, mas bem, isso meio que me descreve...
Esse romance me fez perceber que eu não mudaria absolutamente nada em todas as minhas escolhas passadas (meus erros arrependimentos me constituem) e que suas consequências são parte do próprio jogo que é viver (talvez sua melhor parte): amor fati, aceitar de braços abertos o "destino", ou melhor, os resultados de nossas ações tomadas como se fossemos revivê-las eternamente.