lady hideko 15/04/2021
O livro foi muito esclarecedor sobre como algumas vezes damos respostas violentas, mesmo quando não enxergamos violência nas nossas palavras, ou nos precipitamos em buscar a solução de problemas em situações onde a pessoa não busca exatamente uma solução e sim ser ouvida.
Por um lado, o livro é muito necessário e acredito ser o tipo de obra que todos que gostam do gênero deveriam ler, porém possuo algumas ressalvas. Primeiramente, por vezes, o livro pareceu ser muito simplista, os diálogos aplicados no dia a dia se mostraram muito mecanizados, similares a roteiros de peças teatrais onde no final sempre nos deparamos com um final feliz. Acredito que essa atitude de mostrar sucesso em todos os empregos da técnica da comunicação não violenta possa frustrar o leitor nas primeiras tentativas de colocá-la em prática.
Em segundo lugar, algumas vezes se mostrou utópico onde claramente o participante do diálogo disse uma frase onde se dá para captar o que ela quis dizer perfeitamente bem e o autor repetiu exatamente a mesma coisa com palavras similares. E sim, muitas vezes essa atitude faz parte da técnica para estimular o interlocutor a liberar mais do que tá sentindo e talvez se expressar com outras palavras, mas, muitas vezes, não consigo pensar em como aplicar isso no dia a dia sem ser considerada uma idiota.
Só que o que mais me preocupou e o que mais me deixou pensativa foi o fato de utilizar Comunicação Não Violenta em casos onde não vejo como se fosse a comunicação ali o maior problema. Me perdoem a ignorância, se for o caso, mas não acho que Comunicação Não Violenta seja aplicável em casos de racismo, fascismo ou tentativa de estupro. Não, a pessoa sendo atacada racialmente não tem que ser uma boa samaritana tentando cavar um buraco num poço de petróleo para entender por que exatamente o interlocutor está tendo atitudes ou falas racistas. Eu, como pessoa branca, não estou nem no meu local de fala, mas achei um tanto frustrante ver CNV sendo aplicada com gente que claramente tem falha de caráter e não falha comunicativa. Eu como integrante de um grupo de minoria social estou cansada de tentar entender ataques à nossa gente então não vejo como com pessoas racializadas isso possa ser diferente.
O livro é interessante e necessário, sim, e pode ser empregado pra melhorar nossos relacionamentos interpessoais também, principalmente com familiares, amigos e parceiros de vida, mas acredito que deva ser lido sobre um olhar crítico. Cabe a cada um aqui saber até que ponto consegue aplicar a CNV no dia a dia.