@pacotedetextos 22/01/2015Recomendo!“Vê-se de tudo em Capão Redondo: um feto jogado na rua vira festa para a criançada, jovens consomem maconha e crack, um gato morre de susto, olhos são arrancados por causa de um velho Monza prateado, um enforcado torna-se atração da vizinhança. A miséria é senhora. As pessoas matam por drogas, por honra, por vingança, por machismo, por um nada. E por amor, vale a pena morrer?
Pois em Capão Redondo também se vê o amor, que nasce escondido e cresce proibido, colocando em cheque (sic) a amizade de dois rapazes que têm em comum a violência do bairro onde vivem e o interesse por uma morena muito mais esperta do que qualquer um poderia imaginar“.
Fonte: Livraria Saraiva
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Conheci Ferréz na última edição realizada da Festa Literária de Aquiraz – FLAQ (entre os dias 20 e 23 de novembro de 2014), hospedei-o no sítio dos meus pais depois do encerramento do evento, já que ele só voltaria para São Paulo no dia seguinte.
Ele se intitula autor de literatura marginal; apesar de eu nunca ter sido muito adepto desses rótulos para literatura (afinal, para mim, ela deve ser livre de etiquetas, rótulos e classificações limitadoras), resolvi dar-lhe (e dar-me) uma chance.
Sobre o livro, tá certo que não nos tornamos melhores amigos, mas o pouco que conversamos deu para reconhecê-lo bastante na escrita de CAPÃO PECADO. Os diálogos, a forma de retratar as personagens e as situações da realidade daquela região de São Paulo, tão desfavorecida e relegada pelo poder público (parecida, então, a tantas e tantas outras partes desse nosso imenso Brasil), deixam entrever muitas características dele. Ferréz escreveu um romance bastante visual: quando você lê, consegue imaginar direitinho aquela cena se passando na sua frente. Isso, então, torna a leitura rápida e agradável (apesar da crueza da história).
A história é crua, a realidade é cruel. Apesar disso, vemos em alguns momentos o autor querendo passar “lições de moral”, com a construção de passagens do tipo “Mixaria deu uma leda para cada um e começou a dichavar a maconha, cada um fumou o seu e ficou a pampa, curtindo a natureza e viajando cada um com seu sonho, não sabendo que o que estava subindo ali era fumaça, mas o que certamente estava descendo era a autoestima” – o que, no meu modo de ver, foi um ponto negativo (pequeno, é verdade) na obra.
No entanto, vemos que, mais do que literatura marginal, o livro é de literatura, sem rótulos, pois retrata situações humanas às quais todos estamos sujeitos – principalmente ao levarmos em consideração a história de triângulo amoroso que se desenrola diante dos nossos olhos.
Destaco, mais do que o protagonista, a personagem Burgos, que foi quem mais atraiu a minha atenção, curioso que fiquei para saber o desfecho de sua história.
Trechos:
. A lei na quebrada não é a quantia, mas sim o respeito, que deve acima de tudo prevalecer. (p. 108)
. Havia em sua cabeça a certeza de que certas drogas nunca deveriam ser experimentadas, e o exemplo estava ali. O álcool sempre lhe fora imposto: meu filho é macho, cês tão duvidando? Ele não é maricas não, olha só, o bichinho até bebe cerveja com o pai, né não, filhão? E Rael sabia que para se iniciar no vício nem precisava muito esforço. O álcool vinha como uma herança genética, era uma dádiva passada de pai pra filho, de filho pra filho, e assim se iam famílias inteiras condicionadas ao mesmo barraco; padrão de vida inteiramente estipulado. As correntes foram trocadas pelos aparelhos de televisão. A prisão foi completada pelo salário que todos recebem, sem o qual não podem ficar de jeito nenhum, pois todos têm que comer. (p. 114)
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https://pacotedetextos.wordpress.com/2015/01/15/ferrez-capao-pecado/