Michelle Trevisani 03/06/2016
Lindo!
"Disseram que ia acabar antes do Natal. Só não disseram qual Natal".
Minha curiosidade pelos livros de John Boyne surgiu assim: certa vez estava zapeando pela TV e ia começar um filme chamado - O menino do pijama listrado. Lembro que o nome do filme me deixou tão curiosa e como eu não ia fazer nada naquela tarde, resolvi me acomodar no sofá, esquecer da vida lá fora e curtir um bom filme. Só não imaginava que esse filme fosse ficar marcado PARA SEMPRE na minha memória. Gente! Sério, que filme mais intrigante, mais envolvente, mais aterrorizante de todas as formas, mais singelo, mais puro! Quem nunca se atreveu a ver o filme / ou ler o livro, recomendo muito. É aquele tipo de filme / livro que vai mudar sua vida para sempre. Que vai mostrar que seus problemas são do tamanho de um grão de areia. Que nada é mais terrível do que a guerra, e que o Holocausto foi um monstro gigante que minou centenas de pessoas da face da terra, que só trouxe lágrimas e feridas.
Bom, por causa do filme, que já faz alguns anos que assisti, descobri depois de algum tempo que na verdade ele foi primeiro um livro e teve sua adaptação para o cinema.
Comecei a pesquisar sobre o autor do livro e tive vontade de ler tudo o que ele tinha escrito, tamanha foi minha comoção no filme. Mas na época eu estava fazendo faculdade e o tempo era curto para leituras de lazer. Quando a vida ficou menos corrida, me atrevi a começar a ler os livros dele.
E comecei por este aqui. "Fique onde está e então corra". Um livro que me prendeu desde o título. O cara para escrever um título destes tem que ser muito inteligente. É um título que te faz ficar curioso, que te faz querer desvendar o livro, a leitura.
"Margie voltou para o corredor, ofegante, mas Alfie continuou na porta. Ele ficou de olho enquanto os dois soldados seguiam devagar pela rua. Agora todas as portas estavam abertas. E em cada uma havia uma esposa e uma mãe. Algumas choravam, outras rezavam. Algumas sacudiam a cabeça, desejando que aqueles homens não parassem diante delas".
E o livro traz a história de Alfie e sua família. Alfie nasceu em meados da Primeira Guerra Mundial e é com muita tristeza que sua família se vê condenada para sempre após o alistamento para a guerra do pai de Alfie. O pai de Alfie acredita que seu alistamento é questão de honra, estará defendendo o seu país. Mas os anos passam e a Guerra não acaba, Alfie convivendo sempre com a promessa de que seu pai vai retornar e não retorna. A vida de toda sua família muda, sua mãe precisa trabalhar ainda mais como enfermeira para conseguir trazer um pouco de dinheiro para dentro de casa. Alfie conta os Natais, conta moedas, conta a comida que começa a ser escassa e logo não vê outra alternativa a não ser engraxar sapatos para ajudar. Alfie vai escondido da mãe, falta da escola e engraxa sapatos por um longo período na King's Cross. É engraxando os sapatos de um sujeito que descobre que seu pai não está mais em batalha na guerra, nem em uma missão secreta como todos o fazem acreditar. Seu pai está em um hospital. Na ala da psiquiatria clínica, se recuperando do que viu na guerra. Alfie não entende porque o pai está em um hospital e não em sua casa, com sua família. Por que ele deveria estar em um hospital? Não faz sentido! Alfie precisa trazê-lo de volta para casa. E precisa ser logo.
"- O mundo é imenso, não é? - disse Georgie. - Você acha que nos outros planetas todo mundo se odeia também?"
É um livro tão tocante, tão angustiante acompanhar os pensamentos de Alfie, seus esforços em procurar pelo pai, seus planos de resgate, sua ida até o hospital psiquiátrico sozinho para que ninguém desconfie, um garoto que como toda a sua família sente diariamente os males causados por uma guerra que só sabe ferir. Estes retratos de histórias sobre guerras só me fazem pensar em quanto são desnecessárias. O quanto causam dor. Um livro que vale à pena, que vai ficar gravado na minha memória para sempre.
"Ele tinha feito pela melhor razão do mundo. Por amor".
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