spoiler visualizarmpin 26/04/2018
Muitas perguntas em aberto
A mulher silenciosa te envolve em uma sedutora dança em que a sanidade e loucura se confundem facilmente. Ao explorar a complexa dinâmica de um casamento aparentemente perfeito que se desintegra diante de um caso extraconjugal, o leitor se vê diante de uma mulher que adota uma postura que muitas mulheres não adotariam: a de manter as aparências, a de ceder aos erros do homem enquanto este vê, dia após dia, sua vida dupla desmoronar. Este silêncio dela, justamente, resulta em uma punição ao ex-marido, ou melhor, ex-companheiro. Sem obter reações mais enérgicas dela, é como se, para Jodi, a união dos dois não passasse de um acordo. E o desdém com que ela fala do conceito de família ajuda na concepção de uma personagem feminina enigmática e com uma frieza assustadora, embora seja a vítima na trama.
A prosa é introspectiva e possui elegantes figuras de estilo e elipses. Os diálogos são bastante pontuais e, mais que trazer informações importantes, trazem emoções e pistas sobre o que ele ou ela dissimulam ao mundo e a si próprios. É interessante ver como a autora molda a prosa ao estado de espírito do POV de cada personagem. O texto acaba falando tanta coisa dos personagens que a ação acaba ganhando papel secundário em algumas passagens. É fascinante, por exemplo, ver como Natasha começa como uma aventura, uma válvula de escape para Todd, e de repente se torna justamente tudo que ele queria evitar em um relacionamento. Especialmente diante da ironia de ela dar o que ele sempre quis e que Jodi nunca se dispor a lhe dar: um filho.
Um ponto fraco do livro, infelizmente, vem justamente no final. A trama desacelera e os eventos começam a acontecer ao redor de Jodi. Faltou um pouco de foreshadowing em relação a Dean, talvez. Embora eu tenha gostado do intrincado perfil psicológico de Jodi, tecido pela autora, fiquei com a impressão de que a prosa anda em círculos durante todo o livro em relação ao relacionamento de Jodi com os irmãos. Fica subentendido que um evento traumático ocorreu com ela, mas isso não é evidenciado com uma ação específica. Fica parecendo que a história ficou com gordurinhas que poderiam ter sido enxugadas. Sem falar que nunca ficamos sabendo o que aconteceu com Alison. Talvez se ela tivesse sido usada como uma espécie de alter ego de Jodi, a trama pudesse ter terminado com menos perguntas.
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