spoiler visualizarJoao.Almeida 08/12/2018
Oliver Wolf Sacks foi um neurologista e escritor nascido em Londres que conviveu com as atrocidades da 2ª Guerral Mundial. Apesar de nunca ter sido um cidadão americano, a sua carreira científica se desenvolveu nos EUA tendo destaque na medicina a partir dos anos 60 com seus ensaios sobre as doenças. Sacks despediu-se desse mundo aos 82 anos idade devido ao diagnóstico de câncer no fígado, mesmo tendo pouco tempo de vida dedicou-se até os últimos minutos para publicar sua mémorias e, também, alguns textos para a imprensa.
A sua escrita destaca-se por conseguir transformar o caráter científico e pessoal da medicina em histórias com grande carga emocional, uma vez que visam instigar a reflexão ao retirar o caráter martirizante dos seus pacientes demonstrando que eles continuam sendo seres humanos. Sendo assim, seus textos enfatizam a complexidade da mente humana que nos tornam diferentes e ao mesmo tempo iguais.
Um de seus livros que ganharam bastante destaque foi o O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chápeu. Lançado em 1985, o livro é uma reunião de 24 casos retratando problemas mentais e casos de perda de memória. Casos como esse que dá nome ao livro mostram como situações consideradas irreais podem confundir até o médico. Outrossim, ele não permite que isso cause um distanciamento dele com o paciente, visto que, em inúmeros casos ele propõe-se a investigar mais a fundo e até ouvir pedidos do enfermo – como o caso da mulher de 89 anos que não queria ser devidamente curada após passar a ter uma nova perspectiva sobre a vida com o aumento drástico da euforia, causada pela manifestação de sífilis neurológica contraída a quase 70 anos.
Além disso, pode-se demonstrar a excelente divisão didática ocorrida ao longo do livro. A primeira parte denominada “Perdas” ocupa-se em relatar a deterioração da função neurológica através dos casos de: perda de fala, linguagem, memória, visão e outros. Sendo assim, essa parte busca evidenciar o mau funcionamento das áreas que nos fazem dar sentido e emoção para as coisas ao nosso redor.
Em seguida, tem-se a segunda parte chamada “Excessos” onde é retratado casos de funções hiperbolizadas que são demarcadas por uma série de associações e imagens mentais sempre em ampliação e quase incontroláveis, um monstruoso crescimento do pensamento. Essas exaltações é comumente vista em indivíduos com Síndrome de Tourette onde a pessoa caracteriza-se por apresentar movimentos repetitivos e até deixar escapar palavras ofensivas.
Ademais, há a terceira parte conhecida por “Transportes” que retrata indivíduos que constantemente são transportados para memórias de certas épocas de suas vidas ou, também, há uma percepção alterada acarretada por sentimentos, um exemplo é a senhora surda que passou a ouvir um tipo de música na sua cabeça, assim, após algumas investigações constatou-se que tratava-se de uma canção de sua terra natal acarretadas pela saudade de sua infância.
Por fim, temos a parte “O Mundos dos Simples” que relata casos de pacientes considerados “uma causa perdida” por terem dificuldades sociais ou por ser relacionarem de forma diferente. Contudo, eles apresentavam uma habilidade muito bem desenvolvida, podendo ser voltadas para a música, pintura ou até mesmo o teatro.
Apesar do livro possuir uma aparência técnica voltada para a área da neurociência, ele conseguiu apresentar o assunto de forma clara e bastante incisiva, logo, para um calouro recém inserido no mundo acadêmico a leitura não foi desgastante ou monótona como costuma-se esperar dos livros indicados por professores, ocorreu o contrário, ele foi bastante didático e fácil de compreender, sendo assim, eu recomendaria essa obra para qualquer indivíduo considerado leigo no assunto, mas que tem uma grande curiosidade pelas áreas da saúde que se relacionam com o estudo do cérebro e suas ramificações.