MiCandeloro 24/05/2014
Intenso e controverso!
ATENÇÃO, ESTA RESENHA PODE CONTER SPOILERS DOS LIVROS ANTERIORES DE DELÍRIO. SE VOCÊS AINDA NÃO LERAM OS PRIMEIROS LIVROS, TOMEM CUIDADO!
Depois de salvar Julian da morte iminente, de reencontrar Alex e sua mãe, Lena volta a Selva com o seu grupo de inválidos sobreviventes.
"Fira ou seja ferido."
Eles precisam mudar de estratégia, já que o líder da ASD está morto e diversos Incidentes ocorreram em cidades aleatórias dos Estados Unidos. Depois de passarem muita fome, frio, sede, viverem escondidos feitos animais acuados e indignos de serem felizes, os inválidos se aliam a Resistência e programam uma rebelião com proporções nunca antes vistas. Os inválidos clamam pela liberdade. Querem ter o direito de retomar as suas vidas, de viver sem regras, de amar sem medo.
"Quem sabe? Talvez eles tenham razão. Talvez nossos sentimentos nos enlouqueçam. Talvez o amor seja mesmo uma doença e ficaríamos melhores sem ele."
Porém, o grupo de Lena nunca esteve tão fraco. Muitas pessoas morreram e uma traidora foi descoberta entre eles abalando ainda mais as suas convicções, mas não os impedindo de lutar. O que Lena não podia imaginar é que o próximo alvo da Resistência seria Portland, sua cidade natal. Lena custa a assimilar a ideia, já que a região foi palco de tantas tragédias, assombrando-a desde então.
Mas Lena precisava acertar as contas com o passado para seguir em frente e, invadir Portland, representaria a sua libertação.
"(...) Amor deliria nervosa não é uma doença de amor. É uma doença de egoísmo. (...)."
Nesse interim, Hana prepare-se para casar com Fred, o filho do falecido prefeito da cidade. Sua mãe não podia estar mais orgulhosa da filha, afinal, estava dando tudo certo como planejado. Hana havia sido curada e deixado para trás Lena juntamente com todos os seus sentimentos mais obscuros.
Entretanto, a cura não funciona igual para todos e Hana percebe que algo está errado com ela, principalmente depois de rever Jenny, uma das primas de Lena, completamente imunda, faminta e maltrapilha. Finalmente em Réquiem todos os fãs irão descobrir o segredo de Hana que me fez odiá-la desde que li seu conto que ainda não foi publicado no Brasil. Um segredo que fará Hana pagar pelos seus pecados pelo resto da vida.
Mas a vida às vezes se compadece da gente e dará a Hana uma chance de se redimir. Restará a ela decidir o que fazer e de qual lado escolherá lutar.
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Faz séculos que aguardo o tão esperado lançamento de Réquiem, terceiro volume da trilogia Delírio, de Lauren Oliver. Sou tão fã desta história que, para mim, este era um dos livros mais aguardados do ano, principalmente por causa do desfecho tão enlouquecedor de Pandemônio. Quem já leu sabe do que estou falando.
Infelizmente as coisas não aconteceram da forma como eu queria, nem o final foi como eu esperava, mas não posso culpar a autora por isso. Ela escreveu o livro do jeito que quis e nem sempre as coisas são como nós, fãs, gostaríamos, ainda mais no término de uma trilogia. Mas isso não significa que o livro não seja bom. Pelo contrário, Réquiem é tremendamente bem escrito, narrado em primeira pessoa por Lena e Hana, em capítulos intercalados e é desenvolvido no presente, algo que costumo estranhar um pouco, mas que não me atrapalhou.
Réquiem é um livro muito intenso e muito sofrido, que me deixou com as emoções a flor da pele, em todos os sentidos. Sinceramente, xinguei o tempo todo os personagens. A Lena está mais irritante do que nunca, Hana é odiosa, Alex podia ter permanecido "morto", Bel é incompreensível e Fred é o novo vilão da história. O único que se salva é Julian, que nesse meio tempo cresceu, se tornou um homem doce e gentil, porém forte, destemido e abnegado. Mas, infelizmente, ninguém o valoriza, algo que me deixou completamente furiosa.
"Nem imagino o que ele deve pensar deste lugar, o que deve pensar de nós. Essa é a visão do mundo contra a qual sempre o alertaram: um mundo da doença é um mundo de caos e sujeira, egoísmo e desordem."
Se vocês estão esperando por definições, esqueçam. Nenhuma das minhas dúvidas e expectativas que remontam a Delírio e Pandemônio foram respondidas ou sanadas. Não sabemos quem fica com quem nem o destino de nenhum dos personagens, porque sim, Lauren terminou a trilogia com um final em aberto! Como isso foi acontecer? Eu não poderia ter ficado mais chocada.
Na verdade, Lauren se utilizou dos personagens que mais amamos para contar uma história de revolução política e social. Ficou completamente claro em Réquiem que o foco não era o drama pessoal de cada um, mas sim o futuro da humanidade. Lauren nos provoca uma série de questionamentos a respeito do nosso modelo atual de governo, da pseudo liberdade, das regras e privações, direitos e deveres, certo e errado, nos mostrando os dois lados da moeda e nos forçando a escolher.
No final das contas, a impressão que tive é que não importa de que lado nós estamos, apenas de que devemos lutar com unhas e dentes pela nossa felicidade e pelo o que achamos ser certo. E, somente por isso, acabei favoritando o livro e dando cinco corações, porque a sua mensagem político-social é tão forte que foi impossível me manter impassível a esta história que Lauren quis nos contar.
Lauren conclui a história nos dando um recado arrepiante que me provocou um soco no estômago. Nunca li uma mensagem tão direta em um livro, um acorda, um sacode tão enérgico como este dado por Lauren. Em Silo e The 100: Os Escolhidos, os recados lá contidos são muito mais sutis e subliminares, em que apenas os leitores mais atentos conseguirão compreender. Já em Réquiem não. E fico tão feliz de ainda poder me deparar com textos inteligentes e de conteúdo que possam realmente mudar as nossas vidas e nos fazer enxergar as coisas sob outro prisma.
Enquanto lia Réquiem ia me lembrando da época da ditadura militar, da queda do muro de Berlim e de todos esses eventos em que a humanidade cansou de se esconder feito ratos e de consentir com os abusos governamentais e lutou. Lutou sem saber se ia dar certo, lutou sem saber se o futuro seria glorioso, lutou sem ter certeza de nada, apenas tendo fé, derrubando os muros.
"Não posso convencê-los se não quiserem ouvir. Bem-vinda ao mundo livre. Damos às pessoas o poder de escolha. Elas podem até escolher fazer a coisa errada. Lindo, não é?"
E é assim que concluo a minha resenha, dizendo que, independente de Réquiem não ter terminado como muitos gostariam, não deixem de lê-lo. Abram seus olhos para onde ruma a humanidade, não se deixem seduzir por falsas promessas, não se iludam com as pseudo liberdades e se permitam inflamar com o desejo de um mundo melhor para nós e nossos filhos: "Derrubem os muros". As eleições desse ano serão um excelente termômetro para sabermos para qual direção o nosso país irá caminhar. E confesso, isso muito me assusta!
"Os curados querem saber; nós escolhemos ter fé."
Resenha originalmente publicada em: http://www.recantodami.com/2014/05/resenha-requiem.html