Thiago 15/03/2021
Nosferatu foi a terceira leitura que fiz de uma obra de Joe Hill e, tal qual as experiências anteriores, eu adorei esse livro. É nítido o crescimento de Hill como escritor de thrillers - ele parece mais confiante e confortável com novos experimentos aqui, e sua narrativa demonstra alcançar um novo degrau de riqueza em todos os possíveis aspectos - seu texto permanece rápido, dinâmico, raivoso, porém, a construção de seus personagens está atingindo o mesmo patamar em que se encontra o seu pai: são personagens extremamente reais, multifacetados, e cativantes. Entrementes, a trama é simplesmente fantástica e imaginativa!
Em Nosferatu, acompanhamos a história de Vic desde a sua infância, quando descobre a habilidade de percorrer o país inteiro em questão de minutos, através de uma passagem que existe apenas em sua mente. A passagem funciona como um portal, conectando seu ponto original de partida e qualquer destino/objetivo que deseje alcançar. Ao longo dos anos utilizando seu portal, Vic descobre uma outra pessoa com a mesma habilidade, porém Chalie Manx confere ao seu dom propriedades muito mais sinistras: ele é um sequestrador de crianças e serial killer. A história aqui é uma caçada de gato e rato com uma grande dosagem (obviamente) de elementos supernaturais que percorre o intervalo de muitos anos ao longo de sua narrativa. Eu adorei a maneira como o livro descreve o crescimento da protagonista desde a infância à várias camadas da fase adulta, culminando com a maternidade. Crescimento, aqui, diga-se de passagem, é palavra chave - o desenvolvimento do personagem é muito bem explorado, e nos tornamos testemunhas da gigantesca transformação pela qual Vic passa do começo ao final do livro. Em todas as ficções que leio, meu aspecto favorito é a construção e desenvolvimento de personagens e existe algo sobre Victoria que é preciso ser contemplado e elogiado: eu realmente não gosto desse personagem, mas me preocupei com ela durante todo o livro. E durante todo o tempo, me senti mal pelas (muitas) aflições as quais ela é submetida. Mais que isso, me senti péssimo por depreender o quanto a criança do início do livro poderia ter se tornado uma adulta admirável. Victoria é genial, é resiliente, corajosa, determinada e deveras compreensível. É também um caco de uma pessoa arruinada por eventos traumáticos que a moldaram na personagem de quem não gosto. E isso, é uma mostra da gigantesca aptidão que Hill tem em construir personagens reais. É, em minha opinião, a melhor qualidade de seu pai, e Hill a herdou completamente. Eu gosto muito de seus personagens - mesmo quando não gosto deles. Mas o mérito do livro não está apenas em seus grandes personagens, pois as passagens de ação são arrebatadoras também. Aqui, nesse aspecto, arrisco dizer que Joe Hill superou seu pai: sua ação é de tirar o fôlego. É tensa, frenética, envolvente. Vou descrever isso enigmaticamente para evitar spoilers, mas em dado momento, certo personagem se vê preso e, em sua fuga desesperada, começa a expolar às pressas o lugar onde está. Cada novo cômodo desconhecido à que adentra, se torna não apenas umas atropelo aflitivo de palavras engolidas, como também o início de um novo capítulo. E isso, simples como possa soar, tornou-se uma ferramenta poderosa nas mãos de um grande contador de histórias: conferiu tremenda fluidez à sua narrativa fazendo com que aquele ?arco? do livro fosse algo impossível de ser abandonado até sua conclusão. Joe Hill é, sem dúvidas, um grande contador de histórias!
Nosferatu é também um livro cheio de referências, tanto às suas próprias obras anteriores, quanto as obras de seu pai, o mestre do horror, Stephen King! Quem é fã dos autores, vai se deliciar aqui: temos referências à Pennywise e a Derry, à Dr Sono, à Estrada da Noite, à Torre Negra... é fan service de primeira e empregado com bastante sutileza.
Os últimos elogios são referentes ao nosso vilão e à Terra do Natal: Charlie Manx (uma espécie de Willy Wonka perverso) é um vilão incrível, um vilão, aliás, que não pensa em si mesmo como vilão: ele acredita piamente que suas ações são honrosas e que suas vítimas são resgatadas e salvas, e não sequestradas e destruídas. Essa ilusão o torna tão maquiavélico quanto perigoso! O outro elogio é sobre algo à quê o livro cria uma expectativa do começo ao fim: A Terra do Natal não decepciona.
Nosferatu já se tornou uma das melhores surpresas do ano pra mim, e Joe Hill está, definitivamente consolidado como um dos meus autores favoritos!