Kika 05/09/2014O QUE É BOM PARA VOCÊ PODE NÃO SER BOM PARA OS OUTROS.Qual é o limite entre uma brincadeira e uma agressão? O que podem acarretar na vida de quem sofre e até mesmo de quem pratica? Estamos preparados para identificar essa diferença e agir? Mais importante: como agir?
Estas são algumas perguntas que nos fazemos ao ler o livro de estreia de Danilo Leonardi (editor do Cabine Literária), lançado pela Giz Editorial e com a edição de Walter Tierno. Mesmo com esse time maravilhoso, a história consegue superar expectativas por sua sensibilidade em vários aspectos.
O livro é narrado pelo protagonista, João Vitor, um garoto tímido que só tem um amigo na escola, o Daniel. João até lida bem com a impopularidade, com o fato de ser filho único de pais separados e por voltar a morar em São Paulo após uma temporada em Minas Gerais (onde deixa sua melhor amiga/amor impossível, Raquel) justamente numa fase tão instável como a adolescência. O que está ficando cada dia mais difícil para João é suportar as “brincadeiras” de um grupo de valentões na escola, às quais os professores ignoram deliberadamente.
Um dia, João tem a brilhante ideia de chamar uma garota para sair através de um bilhete escrito por seu amigo. O que ele não sabia era que a garota namorava o “chefe” dos valentões que o atormentavam. Como não há nada tão ruim que não possa piorar, o namorado não apenas descobre como lê o bilhete na sala de aula, chamando João para a briga ali mesmo. Acuado, João faz o que nem ele esperava: revida! E ganha!
Ambos são suspensos e João acredita que assinou sua “sentença de morte” mas, ao voltar à escola, descobre que o tal valentão não era tão idolatrado assim. Seria um caso “comum” se Daniel não tivesse gravado a briga e postado num canal sobre jogos de videogame que os dois mantinham.
O vídeo torna-se um viral, com milhares de acessos em poucos dias e a vida de João muda completamente, assim como sua personalidade. Ele vira notícia na escola, na internet e na mídia. A partir daqui é com vocês rsrs.
O genial desse livro é você conseguir mentalizar que quem o escreveu é um adulto porque vivemos a história junto com um personagem que está construindo seu caráter, passando pela fase hormonal, aprendendo a lidar com as consequências de suas escolhas e absorvendo rapidamente uma fama abrupta e não esperada numa narrativa condizente com a maturidade emocional e linguística de um adolescente de 15 anos. A tendência aos exageros, a mania de se expressar através de frases de músicas (é, eu achei algumas rsrs), a dificuldade de compreender e se comunicar com os pais, a primeira namorada... Tudo é muito equilibrado, sem vulgaridade, sem apelação, sem descrições desnecessárias ou histórias paralelas que pudessem tirar o foco da mensagem ou tornar a leitura cansativa.
Espero que este livro seja incentivado e incorporado nas escolas porque não diz respeito apenas às vítimas de bullying, mas aos pais, educadores e também (principalmente, na minha opinião) a quem pratica essa violência, ainda que inconscientemente.
Eu amei a história e vou assediar todas as professoras que eu encontrar para que leiam e mostrem aos alunos, coordenadores, etc. Espero que vocês também gostem, assimilem e indiquem.
P.S.: “... A SUBSTÂNCIA DO MAMÃO” já mitou. Foi mal, Indy.