Resenhas - O Mestre e Margarida

Antonio.Araujo 27/05/2022

Lançado postumamente no fim da década de 60, primeiro na Alemanha Ocidental e depois na URSS, em 1973, O Mestre e a Margarida é uma das grandes obras do século XX – com um texto fortemente influenciada pelo Fausto de Goethe.
Dois autores em Moscou são surpreendidos por um tal Prof. Woland ou ninguém menos que Satã em pessoa (aliás, Woland é um nome alemão para Satanás. Presumivelmente, significa "decepção"). Acompanhado por um séquito exótico - uma Bruxa Nua, um Gato falante, um demônio brincalhão. Narrado pela ótica do Mestre, transitando entre o presente e os dias finais de Cristo - encontra seu ápice no "Grande Baile de Satã".
A partir desse encontro acontecimentos estranhos começam a suceder por Moscou, situações absurdas. Em um tom de sátira, Bulgákov estabelece sua crítica ao regime de Stálin. A própria presença de Satã contradiz o que, segundo o poder vigente, deveria ser instituído como verdade, a inexistência de qualquer religião.
Possui três eixos temáticos: Woland e suas aventuras acompanhado de seu séquito; o mestre, a Margarida, Berlioz e demais personagens (talvez um pouco abrupta e não tão harmônica a construção dessa parte em especifico); a história de Pilatos, que intercala as demais.
Não espere encontrar uma crítica profunda ao regime comunista, o autor elabora suas críticas nas entrelinhas sob a sombra do fantástico e mesmo farsesco.
A narrativa alterna entre a Moscou dos anos 30 e a Jerusalém dos anos 30 D.C. O que em um primeiro momento não parece fazer sentido, quando o adquire compreendemos o jogo que nos é proposto por seu autor.
A obra foi alvo de muita censura e só foi integralmente publicada após 20 anos da morte de Bulgákov.

Giu 29/04/2022

Divertido e afiado na medida certa (ou seja, muito). Demorei bastante pra ler, mas teria devorado esse livro caso tivesse tido essa possibilidade.
Se tornou o meu livro favorito a partir de agora =]

Juliana 23/04/2022

Foi para a lista de favoritos!
Que leitura incrível. Minha primeira vez entrando em contato com a obra de Bulgákov e já tive ótimas impressões. O livro, embora seja longo, não é enfadonho. Eu li rapidamente.
O que dizer sobre o diabo e seus "assistentes" que escolhem Moscou para realizar algumas "brincadeirinhas"? Eles são verdadeiros agentes do caos que divertem o leitor a todo momento. Principalmente o gato preto que protagoniza cenas bizarras e hilárias.
Ao mesmo tempo a história de Pilatos e Jesus é muito interessante!
E a história de amor do mestre e Margarida? O mais curioso é que em nenhum momento o fato de eles se envolverem com o diabo é visto como algo negativo na narrativa. Isto é bem surpreendente.
Enfim, super indico esta leitura para todos que gostam de um bom livro!

Pedro do Contra 20/04/2022

Uma crítica sofisticada a URSS wob um enredo bom de ser lido
Mestre e Margarida é uma obra singular, tendo em vista os outros clássicos russos. Mikhail Bulgakov se diferencia dos dois principais literatos russos, Tolstói e Dostoiévski, por dois aspectos centrais; primeiro por seu estilo pouco psicológico, não se detém aos aspectos mentais de seus personagens como Dostoiévski e Tolstói; segundo porque se utiliza muito bem do panorama histórico, das simbologias e do cenário onde a estória ocorre. Desde o início podemos vislumbrar que sua característica é muito mais descritiva do ponto de vista narrativo do local da trama do que propriamente analítico do panorama psicológico. As simbologias que ele se utiliza ? muitos deles retirados do eterno Fausto de Gothe, mas também de sombreamentos das histórias evangélicas ?, todos eles se mancomunam com a Rússia soviética e prevê, como de fato ocorrerá, uma crítica ao regime genocida.

É um verdadeiro baile de símbolos e críticas veladas que, àqueles que detém um certo conhecimento histórico do comunismo soviético, de seu retumbante fracasso e opressor governo, não tardará ao relacionar certas passagens ao autoritarismo comunista e às falácias do regime. Para evitar demais spoilers, tentarei não dar mais detalhes do conteúdo do livro; mas necessário se faz apontar ao menos dois casos ilustrativos que nos mostrarão a crítica de Bulgákov ao comunismo soviético de maneira mais circunscrita e visível.

O primeiro é a passagem onde Woland, mestre ilusionista e um dos principais da trama, em seu show teatral de ilusionismo faz com que chova dinheiro para a plateia; os espectadores ficam ensandecidos, agradecem e ficam deslumbrados com a peça do misterioso artista que também é denominado ?estrangeiro?, na obra; todavia, no mais tardar, as notas que o ?ilusionista? fizera cair, ao serem repassadas em comércios e táxis, se transformam em papéis comuns ou em demais objetos sem valor de escambo. A crítica à utopia marxista de distribuição de renda é extremamente visível; a teoria marxista de economia, onde o Estado faria ?cair do céu? a prosperidade a todos seus cidadãos, mas que, no fim, se mostrou apenas um ilusionismo político-econômico sem demais efeitos prósperos na realidade do Povo, é um ponto chave da crítica simbólica de Bulgákov.

Outra crítica do mesmo teor acontece no mesmo cenário que o anterior, nessa mesma ocasião, após a chuva de dinheiro, Woland, com ajuda de seus fiéis seguidores Behamont e Fagote, abre uma loja em pleno palco do teatro onde as damas poderiam trocar suas vestes por suntuosas roupas e sapatos de grifes. Bastando que as mulheres fossem corajosas e subissem no palco para fazer a troca. A maioria corre ao encontro das quitandas do demônio e fazem a troca num frenesi quase que esquizofrênico, ao findar do espetáculo, por sua vez, as mulheres que fizeram as trocas se encontram todas nuas em frente ao teatro, suas vestes luxuosas sumiram, dando um verdadeiro show Obsceno e engraçado aos demais transeuntes de Moscou.

A crítica aqui jaz no mesmo sentido que o anterior, todavia mostrando também que o Estado, o grande Woland do comunismo soviético, prometera ?riquezas? e condições melhores que o capitalismo yankee poderia propor, bastando apenas que os cidadãos soviéticos alienassem seus bens ao Estado e eles devolveriam riquezas mil vezes melhores e mais dignas. Todavia, no fim do espetáculo comunista, verificava-se que o Estado apenas desnudava seus partícipes e os deixavam na vergonha da nudez de roupas e dignidades; que, ao apagar das luzes, o verdadeiro estrangeiro ? o eterno inimigo fantasmagórico do comunismo soviético ? era o seu próprio Estado.

Sem dúvidas é uma das críticas mais inteligentes e sutis ao regime. Ao contrário do que fez Zamiátin e Orwell, Bulgakov utilizou mais das sutilezas, das simbologias desconexas da política de seu tempo, além de analogias que requerem conhecimento mais aprofundado dos meandros históricos do século XX e principalmente do comunismo. Obviamente, e nem precisaria citar, eu sei, a obra foi censurada pelo regime soviético e passou a ser mais conhecida fora dos domínios do Leviatã soviético para só depois de seu desmoronamento passar a ser largamente lido em sua pátria natal.

A editora 34 está de parabéns, como sempre fez um trabalho de apreciação prévia do texto original em russo, trazendo a versão mais recente aglutinada por uma das mais competentes estudiosas da obra e do autor, Ielena Kolycheva. Tal versão foi a lançada em 2014 na Rússia, tendo os manuscritos e os estudos da Ielena como condição para montar a versão final do romance e dos demais escritos de Mikhail Bulgákov. Até o momento vem sendo considerada de fato a versão final da obra em questão. A tradução de Irineu Franco Perpetuo é muito boa, suas traduções deixam uma fluidez muito agradável às obras, assim como mescla palavras eruditas com as de uso mais comum; não fazendo com que o texto fique inelegível em busca de um ?rebuscamento? desnecessário e arcaico, e nem um texto facilitado e pateta em busca de um simplismo bobo.

A edição está no estilo brochura, capa branca tradicional das edições da Coleção Leste desta editora, o miolo foi impresso em papel Polén Soft 70 g/m. Edição e cuidados mais do que satisfatórios para uma boa leitura; as fontes estão no tamanho agradável e as notas são precisas, ajudam de fato a compreensão do texto.

Obra mais que recomendada, mais do que necessária. Um texto russo para dar uma variada para além de Dostoiévski e Tolstói. Boa leitura

EduardoCDias 23/03/2022

O comunismo é o diabo
Considerado um dos maiores romances do séc. XX, o autor usa como base Fausto, de Goethe, para fazer uma crítica do sistema comunista na Rússia. Divertido e fantasioso, o diabo vem à Moscou com o seu séquito e eles colocam a cidade de pernas para o ar.

Fernanda 07/03/2022

Não vou nem amenizar: Foi uma das leituras mais difíceis que já fiz. É um livro permeado de significados, tanto explícitos, quanto implícitos, mas uma vez que se engata na leitura, encanta muito. Durante a leitura, e agora depois, eu fiquei obcecada em pesquisar sobre os detalhes da inspiração, da época, dos sentidos que Bulgákov quis dar aos personagens, acontecimentos, e enredo, tanto da parte moscovita, quanto da história de Pilatos. É um livro brilhante, e que solidificou minha preferência pela literatura russa.

Ana.luisa.campos 28/02/2022

Uma das melhores sátiras que já li. Agora entendo porque vários famosos têm esse livro como um dos favoritos.

Ricardo 18/02/2022

Primeiro de tudo? QUE. OBRA. DE. ARTE.
Mikhail Bulgakov meu amorzinho, 10/10??

Meus sinceros parabéns ao mestre Irineu Franco Perpetuo pela tradução.

Satírico, brilhante, fluido, bem construído? *mwah*?, chef?s kiss!?

? Não são minhas palavras, por isso as aspas, mas concordo plenamente: ?Um dos maiores romances do século XX?. Aliás, um dos clássicos mais acessíveis que já li.

? Um grupo de colegas, dentre eles escritores, poetas, editores? estão discutindo sobre religião. Detalhe importante: todos abertamente ateus e sem qualquer medo desse adjetivo (Reflexo de uma URSS Stalinista abertamente e coercitivamente ateia). Eis que aparece uma figura de boina cinza e um único olho especialmente verde que se intromete na conversa e pede para se sentar ? professor Woland, o próprio diabo. Ele se apresenta como um palestrante e pesquisador de magia negra; e, também, (pequeno spoiler) é o responsável por iniciar os fatos bizarros desta narrativa.

Acompanhamos as atividades do séquito infernal de Woland por toda Moscou. No livro, Woland construiu as circunstâncias de tal maneira que, todos que, por ventura, viessem a interagir com ele, foram tidos como loucos por algum evento sobrenatural ocorrido. Um exemplo: todo dinheiro dado pelo professor se metamorfoseava de acordo com a situação, entre notas verdadeiras e rótulos de garrafas!

Bulgákov tem a habilidade rara de construir uma narrativa com vários protagonistas e unir todas essas histórias adequadamente para que fiquem coerentes e, o melhor de tudo, excitantes. Todo final de capítulo acontece algo que te deixa animado para essa narrativa voltar a ser contada.
E, mesmo assim, não me senti perdido, sabia exatamente de quem estava falando após algumas linhas; isso tudo, mesmo com os nomes russos com os quais não estou habituado e tenho alguma dificuldade em diferenciar.


Pôncio Pilatos, manicômios, bruxas, decapitações?
Só leiam!

Marina 16/02/2022

Entender primeiro o contexto em que o livro foi escrito e os fatos que ocorreram com Bulgákov deixam a história mais interessante, pois a crítica que ele faz ao governo soviético é mais metafórica, não é tão óbvia. Eu gostei muito do livro, mas não achei que a leitura flui tão fácil com a alternância de tempos e lugares, embora tudo faça sentido quando se chega ao fim do livro.

Nina 14/02/2022

encantador
Um dos livros mais bem escritos que já li! O enredo é muito fantasioso em muitos momentos, o que nos traz ainda mais curiosidade para saber o que acontecerá no próximo capítulo.

É uma história inexplicável e muito interessante de ser lida, super recomendo pra quem gosta das estranhices e peculiaridades que os escritores russos costumam trazer em suas histórias.

Felipe Ramos 14/02/2022

MALUCO E INESPERADO
Comentar sem spoilers é complicado, posso dizer que é non sense, porem, tem sentido, NAO SEI EXPLICAR.

As histórias paralelas, personagens, sao bem interessantes, me incomodou um pouco foi o desenvolvimento da historia, alguns retornos desnecessários entre desfechos.

Vale a pena ler, muito comico e ate critico se relacionar ao período que se passa, soviético.

Radamila 13/02/2022

Livro muito bom. Demora um pouco até o título ser explicado, mas prende.
Conta as peripécias do séquito de Satanás em Moscou. No meio dos acontecimentos, uma história de amor.
Vale muito a leitura.

MIRANDA 22/01/2022

... Bem, sabe aquele livro que se espera uma coisa e é totalmente nada a ver com o que você esperava da leitura ... pois bem , aí está um bom exemplo .
Palavra para o livro : PINCENÊ

Vinder 14/01/2022

?Isto é um fato. E o fato é a coisa mais teimosa do mundo?

Muito bom! Só me confundia com os nomes russos ?????

Clarissa 15/12/2021

Dá-lhe Mikhail Bulgákov!
Em meio a várias alegorias, conta-se histórias de tirania, de projeções do mal nosso de cada dia, tendo o "diabo" e também seu séquito, papéis centrais nessas projeções. Um livro de tamanha riqueza metafórica que apresenta as lutas, frustrações do próprio autor numa certa época na qual a Rússia, no caso a antiga União Soviética, passava por um regime totalitário na liderança de Stalin e a censura amordaçava muitos artistas e suas obras. Me pareceu que o autor fez uma linda homenagem a sua última companheira, através da personagem Margarida. Um livro cheio de sátiras, ironias, símbolos. Onde o abjeto, as manipulações, seduções, a covardia e o ódio transitam facilmente nas relações, mas onde o amor é também um personagem que ali habita. Uma obra inteligente que me emocionou imensamente quando a relacionei a vida do autor. Dá-lhe Mikhail Bulgákov! Obrigada, senhor! Deixou um belíssimo legado através do seu "mestre" e de "Margarida", eternizou-se. A arte dando seu jeito de resistir as tiranias e seguir viva para contar histórias.