Carol 09/10/2021Impressões da CarolLivro: O Mestre e Margarida {1940}
Autor: Mikhail Bulgákov {Ucrânia, 1891-1940}
Tradução: Irineu Franco Perpétuo
Editora: 34
408 págs.
Já escrevi por aqui sobre o quanto gosto de "O Mestre e Margarida", essa narrativa fantástica de como o Diabo e seu séquito mui sui generis aterrissam em plena Moscou soviética para confrontar o racionalismo intransigente e a falta de liberdades vigentes à época.
Nesta releitura mediada pelo @cesarmrins, dos perfis @leiturasrussas e @litrussa, outras camadas do enredo me saltaram aos olhos.
1° Que cabe justamente ao Diabo e a sua comitiva grotesca o papel de juízes da justiça divina. A epígrafe goethiana já nos dá a chave do romance, Woland é o ser "que sempre o Mal pretende e que o Bem sempre cria". Ele é apenas um espectador, um contador de histórias e não a causa da perdição dos personagens. Se alguém foi punido, o foi por não ter agido com ética. O livre-arbítrio está ao alcance de todos.
2° Como o cômico, tão marcado nas figuras de Behemoth, Korôviev e Azazello, complexifica e aprofunda os personagens, tornando-os humanos e, assim, realçando seu caráter trágico. A contradição é condição humana, inescapável.
3° E, por fim, o caráter esperançoso do slogan "Os manuscritos não ardem". Mesmo em meio à perseguição estatal, a cultura e a verdade prevalecerão, através da postura ativa dos cidadãos, uma postura crítica, política e não conformista.
Uma releitura não basta para esse livro tão rico. Gostaria de falar mais sobre Ieshua e o hegemon, sobre o Mestre e Margarida, um dos únicos casais realmente românticos da literatura russa, mas o instagram limita caracteres.
Então, reitero a minha indicação de leitura de "O Mestre e Margarida", Bulgákov é um dos grandes. E reitero, ainda, minha indicação para os cursos ministrados pelo César.
"Tenha a bondade de pensar na seguinte questão: o que seria do seu bem se o mal não existisse, e como veríamos a Terra se as sombras desaparecessem?", p. 359