Fatima Cheaitou 29/08/2016
Narrado em primeira pessoa Onde deixarei meu coração nos mostra o quanto a vida não se limita apenas à nossa zona de conforto e o quanto somos maiores do que imaginamos.
Bea acha que é uma jovem muito entediante e no começo ela de fato é. É uma personagem chata e um pouco irritante, tem autoestima zero e fica se diminuindo o tempo todo. Além de aguentar tudo de bico fechado e fazer tudo que mandam sem nem contestar.
"Porque eu não tinha uma vida, eu era monótona. Tudo a meu respeito era sem graça"
Ela é daquelas meninas muito comportadas e com notas exemplares. A mãe dela é exageradamente protetora, controla cada passo da filha e não a deixa fazer nada. Ela não quer que a filha cometa o mesmo erro que ela, engravidar aos 17 anos, por isso faz de tudo para que Bea não tenha nem a chance de errar.
Tudo muda quando um dia qualquer e sem um motivo aparente sua ex-amiga, Ayesha, aparece e a convida para almoçar. No outro dia, Bea se surpreende ao ser chamada por Ruby – a líder do grupo das populares – para se juntar a elas. Ela não confia totalmente nas meninas, já que elas são um dos motivos de Ayesha tê-la trocado, e em como se tornaram amigas dela de repente, mas continua saindo com elas.
Até que Ruby, a convida para viajar com elas para Málaga, na Espanha. Ela vê uma oportunidade de se livrar de sua mãe controladora e se sentir livre por um tempo. Depois de muita insistência, e ajuda da Ruby, ela consegue convencer sua mãe a deixá-la ir.
Finalmente chega o dia da viagem, Bea acha que será uma viagem inesquecível e ela realmente é, mas não pelos motivos que ela imaginava. Ao chegarem ela descobre que tudo foi apenas uma armação para que Ruby e as amigas conseguissem viajar sozinhas. E a partir daí tudo vai piorando para ela. Elas começam a diminuí-la o tempo todo e tratá-la como lixo.
“Eu era humilde e calma e deixava as pessoas pisarem e mim.”
Mas depois de aguentar tantos desaforos de bico fechado, ela finalmente se vinga. Ela anota os segredos de todas em um quadro e foge antes de voltarem, e assim ela consegue fazer com que as meninas se virem uma contra a outra e não precisa arcar com as consequências.
Ao se ver na estação de trem ela hesita, o que fazer? Voltar para Londres e ter sua vida patética de volta ou ir para Paris, cidade dos seus sonhos? Depois de ser a certinha por tanto tempo, ela opta por Paris.
Tudo teria sido mais fácil se ela não tivesse cochilado e perdido o ponto certo para descer do trem, assim ela acorda em uma cidade estranha, onde acaba conhecendo Erin, Jess, Michael, Aaron, Bridge e Toph - seis universitários americanos que estão mochilando pela Europa. Entre eles, Toph, um garoto bem fofo, é quem mais lhe chama a atenção e se torna seu novo crush.
E sem esperar e em um lugar que não imaginava foi onde ela realmente encontrou amigos. Depois de muito hesitar ela entra na viagem junto com eles e conhece vários lugares e pessoas novas. E é nessa viagem que Bea realmente se encontra, com o grupo, com a viagem, com os lugares, ela finalmente se descobre.
Ela ainda quer ir para Paris, pois tudo que sabe sobre o pai é que ele mora nessa cidade, então acaba sendo sua meta por vários anos de sua vida, a fazendo aprender a falar francês e a cozinhar comidas francesas. E por isso é o seu objetivo na vida, quase uma obsessão. Então quando finalmente chega lá, depois de tanta expectativa acaba sendo uma decepção. Conhecer Paris não muda sua vida do jeito que ela esperava, não a faz ser maravilhosa.
Ela enfrenta vários problemas, com amizades novas e com a família, e percebemos o quanto amadurece e tenta lidar com as situações da melhor forma possível. Mesmo com as piores escolhas que ela faz, você acaba torcendo por ela, porque assim como ela, todos erram.
O casal principal é meio sem graça (ele é fofinho, mas não é daqueles personagens que te cativam e já deixei claro o quanto a acho chatinha). Tem romance e envolvimento, mas não tem aquela paixão, aquele sentimento a mais que te faz suspirar e querer um amor igual na sua vida, o que acaba o tornando artificial.
“Mas às vezes o que você sente por outra pessoa não faz sentido, simplesmente é.”
O cenário é bem detalhado, você consegue imaginar o lugar direitinho e se sentir lá junto com os personagens. Conhecer lugares novos junto com eles e poder sentir o que eles estão sentindo ao conhece-los é muito bom e o livro não falha ao nos mostrar isso e esse é um dos pontos que mais gostei na história.
“Este ano eu aprendi que a vida não tem esses finais bonitos e arrumadinhos que você pode embrulhar com um laço. É mais bagunçado que isso.”
O amadurecimento da Bea ao longo do livro é de impressionar, mesmo que no final do livro ela continue um pouco chatinha. Mas apesar de ser uma personagem irritante, sua construção é fantástica. Não amei o livro, é uma história bem bobinha e com um romance fraquinho, mas mostra como é importante começar a depender de si mesmo e seguir seus sonhos. Caso queira uma história leve, divertida e fácil de se ler para passar o tempo, é uma boa leitura e recomendo. Mas se quiser se surpreender e não conseguir parar de ler para saber o que vai acontecer, sinto lhe informar, mas esse não é o livro para você.