Bru | @umoceanodehistorias 05/06/2016As pessoas são diferentes e, portanto, cada uma tem seu próprio jeito de lidar com a dor e o sofrimento. Talvez o jeito que Nastya Kashnikov tenha escolhido não tenha sido o melhor, mas foi o que ela precisava naquele momento.
Nastya sofreu alguma coisa muito grave e perdeu sua identidade. Com essa perda, sua forma de lidar foi parar de falar. Após dois anos e meio do ocorrido, Nastya se muda e passa a morar com a tia e ter uma nova vida onde, talvez, ninguém a conheça.
“Eu odeio a minha mão esquerda. Odeio olhar para ela. Odeio quando ela trava e me lembra que eu perdi minha identidade. Mas ainda assim olho para ela, porque ela também me lembra que eu vou achar o garoto que tirou tudo o que eu tinha. Vou matar o garoto que me matou, e farei isso com minha mão esquerda.”
Tudo seguiria um curso normal: ela continuaria correndo para soltar toda sua raiva, escreveria em seu caderno, não falaria e seguiria sua vida, mas ela não esperava conhecer uma pessoa que era, basicamente, tão antissocial como ela Josh Bennet. Pelo que Nastya pôde notar, Josh possuía uma espécie de campo de força que fazia todos se afastarem e teme-lo.
Drew é o melhor – e único – amigo de Josh e não teme a Nastya como ela gostaria. Ao contrário, ele se aproxima e faz de tudo para fazê-la rir e agradá-la. A relação de amizade entre os dois é confusa, mas muito bonita, pois, da forma deles, eles se entendem.
Com o passar dos dias, Nastya passa a visitar Josh em sua garagem – ou oficina, como queiram – e é, então, que ela começa a se abrir. Será que Nastya voltará um dia a falar? Será que poderemos descobrir o que aconteceu e ajudá-la a superar isso?
“Pessoas que nunca passaram por merda nenhum sempre acham que sabem como você deve reagir ao fato de sua vida ter sido destruída. E aquelas que passaram por situações complicadas acreditam que você deveria lidar com as dificuldades do mesmo jeito que elas. Como se existisse um roteiro preestabelecido para sobreviver ao inferno.”
Esse livro me pegou desprevenida e me agradou do começo ao fim. No começo, era bastante compreender que a Nastya podia falar mas não queria. Não conseguia, até ler esse livro, imaginar como é se privar de um sentido e constatei que é terrível. A Katja fez um trabalho impecável ao escrever esse livro, pois ele não é mais um drama adolescente. Ele vai muito além disso.
A protagonista foi muito bem construída, é uma personagem perspicaz e inteligente e, conforme a leitura vai fluindo, e descobrimos o que aconteceu para torna-la desse jeito, começamos a refletir sobre como agiríamos nessa situação. Josh também foi bem construído e, assim como Nastya, ele está quebrado, está sozinho no mundo e precisa arrumar um jeito de viver. Juntos eles ficam perfeitos e constroem um relacionamento aos poucos. Os personagens secundários são, igualmente, extraordinários e bem construídos.
“Então não fiz as coisas normais que deveria fazer com 15 e 16 anos. Na idade em que a maioria das pessoas tenta descobrir quem é, eu me esforçava para entender por que eu existia. Eu não fazia mais parte deste mundo. Não é que eu quisesse ter morrido, mas sentia que isso deveria ter acontecido. É por isso que é tão difícil quando todos esperam que eu fique grata apenas por estar viva.”
Ao concluir essa leitura, senti a necessidade de encontrar um pouquinho desses personagens em outros, mas, até agora, não encontrei.
Com uma narrativa em primeira pessoa e intercalada entre o ponto de vista de Nastya e Josh, Mar da Tranquilidade é um livro sobre superação, força de vontade, amor e, principalmente, sobre vingança. É uma leitura mais do que recomendada e, tenho certeza, ao ler, refletiremos sobre muitos acontecimentos e muitas formas como as pessoas agem após esses acontecimentos.
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