Leandro Matos 16/01/2015Criatividade S.A. | Conheça e entenda como funciona a fábrica de ideias chamada: PixarO ano mal começou e ainda pretendo ler algumas dezenas de livros, mas é bem verdade que já tenho o primeiro título que figurará na minha lista de melhores leituras de 2015. Misto de guia empresarial e biografia, Criatividade S.A. já garantiu sem sombra de dúvida, seu merecido lugar.
Mas por quê?
Porque pela parte empresarial, o livro propõe apresentar instruções e dicas, servindo como um guia, onde empresas e gestores poderão adaptar e aplicar essas orientações e processos apresentados no livro, como uma forma de manutenção sustentável de qualquer ambiente empresarial. Da parte biográfica, acompanhamos um pouco da vida e da carreira de Ed Catmull, cientista da computação gráfica, que almejando ser a primeira pessoa a fazer um filme inteiramente digital, se tornou no final dos anos 70, vice-presidente da divisão de computação gráfica da Lucasfilm e atualmente, é “somente” presidente da Walt Disney e da Pixar Animation Studios.
Com colaboração da jornalista Amy Wallace, que já escreveu para diversas revistas e veículos americanos, Criatividade S.A. é leitura hábil, divertida e fascinante, ao mesclar em meio à história da fábrica de ideias da Pixar, informações para qualquer leitor se tornar um gestor mais eficiente, ou um colaborador mais produtivo.
Nomes como John Lasseter, George Lucas e Steven Jobs também estão presentes no livro. Steven Jobs por sinal, teve participação direta e indireta na construção da Pixar. Participativo e controlador, Jobs comprou no final dos anos 70 da Lucasfilm, um estúdio de computação gráfica, que anos depois viria a ser tornar a Pixar, mas incrivelmente, se mantinha distante para os seus padrões de gestão.
“Erros não são ruins. Eles são uma consequência inevitável de se fazer algo novo (e assim devem ser considerados valiosos, sem eles, não haveria originalidade).”
Os conselhos de Ed Catmull são corajosos. Entre suas premissas está a ideia de que “a originalidade é frágil” e somente se cercando de pessoas inteligentes (e de preferência, mais inteligentes que você), será possível explorar todo o potencial inovador e criativo de ideias e práticas em um ambiente coorporativo.
Exemplo disso é o plot central de Toy Story. Como fazer de forma verossímil um filme (de animação!) com a simples ideia de brinquedos falantes? Poderia parecer fraco ou de cunho promocional, por exemplo, se fosse facilmente identificado algum produto ou marca durante o vídeo. Mas a grande sacada do time de roteiristas foi encontrar a mensagem do filme. Como? Por meio de reuniões periódicas, no qual eram apresentadas previews dessas ideias, onde todos os presentes eram incentivados a opinar e criticar (sempre de forma construtiva) o que não estava funcionando durante a história e mais ainda, em sugerir, alterações assim achasse necessário. Durante a leitura do livro, eu não fazia ideia, do quanto as animações que tão bem conhecemos hoje seriam diferentes, se determinado funcionário não tivesse dado aquele “toque”.
Dessas reuniões saiu um formato que se tornou a base do que viria a solidificar o padrão de excelência inventivo da Pixar: o Banco de Cérebros. O mecanismo e a dinâmica de todo esse processo estão bem detalhados no livro, mas de forma resumida, o Banco de Cérebros, consiste na ideia de reuniões onde o que prevalece é a sinceridade. Reunindo os principais envolvidos na produção e desenvolvimento dos filmes do estúdio, Ed conta que não existe colaboração criativa sem confiança e por sua vez esta, só é estabelecida com o exercício da sinceridade plena. Não há pieguismos ou ressentimentos. O diretor pode ter a melhor ideia para determinado filme, mas se a mesma não engrenar, é dever dos presentes apontar o que não está funcionando. Não há autoridade, o diretor do filme tem total liberdade de acatar ou não tais apontamentos. Como o autor diz, não são os efeitos ou uma nova técnica que será experimentada naquele filam, é a história. “… a história é rei”.
Um exemplo é de Andrew Stanton, idealizador e diretor de Procurando Nemo, que na concepção original para o filme, projetou o pai do pequeno peixe-palhaço desaparecido, como soturno e não trazia uma base forte para justificar as atitudes deste em sair pelos oceanos procurando o filho. Era preciso agregar mais profundidade e sentimento a história de pai e filho. Somente após essas reuniões foi possível apontar e sugerir – vejam só! – por meio de um recurso simples de flashback, o gancho necessário que justificava e estabelecia nossa primeira empatia para com os dois, nos apresentando o terrível acontecimento mostrado logo nos primeiros minutos do filme, que demonstrava a origem do temor do pai em perdê-lo.
“… um filme não é uma ideia. Mas milhares delas. E por trás dessas ideias há pessoas.”
Resultado disso e de tantas outras práticas do Banco dos Cérebros? Procurando Nemo foi vencedor do Oscar de Melhor Animação de 2003 e conseguiu o feito de ser a maior bilheteria da história da animação ao arrecadar mais de U$70 milhões na sua primeira semana de estreia. Ficando atrás somente da conclusão da Trilogia do Senhor dos Anéis!
Falando em filmes, para os fãs e admiradores das animações da Pixar, é uma verdadeira delícia conhecer algumas curiosidades e histórias tão únicas, sobre a criação e o desenvolvimento dos principais filmes do estúdio. Tais como o autor conta que Toy Story 2 quase não iria sendo produzido, como era o primeiro esboço de Wall-E, o quanto foi complicado finalizar Monstros S.A. e sobre a curiosa história de Up! Altas Aventuras. Com a perspectiva de quem esteve presente em praticamente todas as produções, Ed faz desses relatos, um contraponto inteligente e competente em meio aos conselhos empresarias.
Criatividade S.A. foi uma leitura cativante ao unificar conceitos e propostas tão distintos entre si. Acredito que não exista público-alvo para o livro, pois seja você líder ou colaborador de alguma empresa, ou mesmo apenas um admirador dos filmes do estúdio, esteja certo que encontrará algo de valioso em suas páginas.
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