Dudu Menezes 10/07/2023
Sobre a passagem do tempo
"Isto é exatamente o que devemos à arte: a sensação de que nem tudo está perdido, de que algumas coisas permanecem em perfeito estado, invioláveis".
Já fazia um tempo que um livro não me emocionava da forma como acaba de acontecer com Stoner, de John Williams. Na verdade, a gente não quer deixar as emoções virem por diversas razões. Não percebemos. Quando nos damos conta, já aconteceu. Lá no meu subconsciente devo ter associado as "lágrimas" à uma espécie de fraqueza e, com o tempo e a idade, isso se materializou em uma dificuldade de me reencontrar com alguns dos meus sentimentos.
Mas aí me deparo com esse livro. É a história de um homem comum, filho de pais comuns, que vivem na zona rural (onde ele é criado) e que acaba assumindo um emprego comum de professor; então ele casa, tem uma filha, descobre um verdadeiro amor, tem um neto e morre. Tudo isso em um contexto em que o mundo passava pelas duas grandes guerras.
Então é isso? É e não é. É sobre a passagem do tempo, tal qual "O Deserto dos Tártaros", do Dino Buzzati (que também gosto muito), mas, ao contrário de Giovanni Drogo, não há uma motivação heroica na espera de Stoner pela morte. Ou será que há? É preciso coragem para viver? O que é, de fato, isso que chamamos de "viver"?
O que dá sentido às nossas vidas? Não é para filosofar, mas para realmente nos questionarmos sobre as coisas que damos valor e as que negligenciamos.
A definição de amor, aqui, é a mais honesta que já li. Sem romantizar a realidade; "o amor não é um fim, mas um processo através do qual uma pessoa experimenta conhecer outra". É isso. Ponto!
E isso vale para qualquer forma de amor, inclusive o amor pelos livros, que é o primeiro "caso de amor" de Stoner e que, curiosamente, será um meio (nunca um fim) de vivenciar o "verdadeiro amor".
Estou me organizando para voltar com os vídeos para o canal do YouTube. Lá vamos poder conversar melhor sobre essa obra prima!
De momento, queria dizer que tenho tentado aprender a contemplar. A fotografia me ajuda nisso. A música também. Ler e dividir essa experiência com quem se interessa é outra forma. Não acho que tenha muito mais a fazer por aqui. Sigamos!
#stoner #johnwilliams