Sarah Melisz 15/05/2024
Esse rio é tão profundo que parece mar
Ainda não sei o que sentir. Esse livro é tão intenso, tão sincero, tão real, tão cru mas tão leve. Não consigo definir sequer o que sinto pelos personagens.
De início, pensei que pudesse ser mais do mesmo, onde a autora iria trazer os conflitos apresentando os vilões e a típica jornada do herói em busca da superação. Mas conforme a história foi caminhando, eu percebi exatamente o motivo desse livro ter sido tão aclamado: a autora trás a tona todo o contexto de todos os lados e todas as perspectivas da história, sem espaço pra furos ou julgamentos pré estabelecidos, expondo a complexidade de ser ser humano.
Em Tudo é rio tudo é o que é, os personagens são quem são e o que eles fizeram foi feito, simples assim (o que em nenhum momento negligência ou põe em cheque o sofrimento individual de cada um deles ao lidar com o passado e as consequências de seus atos).
Não tem espaço pra reclamar de atitudes incorretas, apontar erros bobos ou regar a semente de julgamento que vive em nós porque a autora não nos dá espaço para tal, e isso é simplesmente um baque inconsciente gigantesco no ego de quem lê.
Como assim não sou melhor do que qualquer um desses personagens com tantas atitudes tão horríveis? Estamos todos no mesmo nível, nem melhores nem piores: iguais em nossas possibilidades e liberdades, tal como Lucy e Tia Duca.
A autora redige a sua própria história sem parcialidade, sem ser tendenciosa, sem julgar ou pontuar o que é certo e o que é errado, de uma maneira extremamente sensível, e coloca os personagens novamente no lugar do qual eles nunca deveriam sair aos olhos do público: um lugar no qual são seres humanos, o que acredito; aliás, que para alguns fãs na vibe Verity (nada contra, me incluo na fanbase) pode vir a ser cansativo e tedioso, afinal, às vezes a nossa mera existência é, de fato, cansativa e meio tediosa.
O desenvolvimento de todos os personagens é profundo, intenso e muito bem descrito. Acho que esse livro deveria ser lido por todos aqueles que nos dias atuais, buscam no mundo respostas (ou ainda mais questionamentos) e um toque de humanidade, por mais assustadora que ela possa vir a ser.
Não sei o quanto dessa obra é mérito da história ou da escrita genial da autora, mas sei que saio apaixonada e sedenta por mergulhar mais profundo não só nas relações e nas trocas, mas na vida.