Matheus Fellipe 30/10/2015
O sangue morno como água do banho no meu rosto e pescoço...
“... o inferno é real. Não um fosso escaldante, não um lugar abaixo ou acima de nós, mas em nós, um lugar em nossa mente.” — Pág. 18
Sabe quando lemos algum livro que parece algo familiar, uma coisa que você já degustou alguma vez na vida? Essa foi uma das minhas sensações ao ler O Demonologista. Isso não é uma coisa ruim, pelo menos não para mim, é algo que me aconchegou, me fez lembrar de alguns livros que há tempos li e que foram de grande importância na minha vida literária, e que até hoje somam na minha lista de favoritos.
Sim, como muitas outras pessoas já disseram, Andrew Pyper tem um quê de Dan Brown, pelo menos é o que percebemos ao ler esse livro. Por que digo isso? A história tem o mesmo princípio das histórias do personagem Robert Langdon de Dan Brown: um professor universitário que domina muito um assunto, e esse assunto ou objeto de estudo, nesse caso, a obra Paraíso Perdido de John Milton, é a chave para desvendar algum mistério que pode salvar alguém ou muitos. Diversas pessoas dizem que Dan Brown segue uma receita para escrever seus livros, o que não me importa porque eu amo essa receita! Gosto de sentir o cheiro do mistério, mergulhar a colher nas pistas, saborear as palavras e o desfecho de tudo. Andrew Pyper não é igual, obviamente, mas ele usa o artifício que me agradou nas obras de Dan Brown, não que tenha sido proposital, mas é o que me fez gostar muito da leitura. Além, é claro, de a história envolver temas sobrenaturais, especificamente demônios (possessões), que é um tema que me interessa muito.
“Nenhum de nós fala. Ainda assim, o silêncio é preenchido com a sensação de que acabou de ser dito em voz alta algo que nunca deveria ser dito. Uma obscenidade. Uma maldição.
Eu Pisco.
E ela está parada a minha frente.
Sua boca se abre. A garganta à mostra, fina como uma pele de cobra que acabou de ser trocada. Um hálito fétido passando por ela e lambendo meus lábios, cerrando-os.
Ela solta o ar. E antes que eu possa acordar, ela emite um longo suspiro.” — Pág. 50
Eu também já li O Exorcista de William Peter Blatty em outubro de 2014 e, não comparando as duas obras que possuem desfechos e implicações bem diferentes, mas as descrições de O Demonologista pecaram um pouco nos detalhes, eu queria saber mais das cenas, que foram muito breves e pouco explícitas no terror, apesar de que para algumas pessoas possam parecer bem terríveis. O livro de Pyper, envolve mais suspense e uma aventura frenética e incessante para salvar sua filha do mal do que uma história de terror.
“A estrada pode limpar completamente as ideias. Também pode resgatar memórias ao acaso, de maneira desordenada e negligente, atirando-as contra o para-brisas com tanta força que você pula no assento devido ao impacto.” — Pág. 194
A linguagem de Pyper é muito fluida e tem uma tensão que não nos deixa desgrudar das páginas, elas nos possuem. Em alguns momentos o texto tem um toque acadêmico, mas que é tranquilo de ser lido e entendido, e é justificável e intencional, pois o livro foi escrito em primeira pessoa na voz do personagem principal David Ullman que é um professor.
O único e principal ponto fraco no texto, que me impediu de favoritar, foi o final. Só saibam disso, não falarei sobre, para não tirar a experiência da leitura, que por sinal recomendo muito pois o livro em si é uma ótima pedida para te tirar desse mundo e colocar um pouco de medo na sua vida. Mesmo assim dei 5 estrelas que foram merecidas pela história e pela edição incrível (como sempre) da DarkSide.
“...Seu corpo em cima do capô. Uma espessa camada de sangue escorrendo em direção aos faróis. Olhos abertos, orelhas ainda em pé de alerta. Eu farei qualquer maldita coisa.
Deslizo minhas mãos sob o corpo e o levo até a rua, o que me deixa encharcado. O sangue morno como água do banho no meu rosto e pescoço....” — Pág. 174
Falando um pouco da dita cuja: a edição é em capa dura e possui um toque de livro velho, bem como na lombada; possui uma fita de tecido para marcar as páginas e umas ilustrações no interior muito “bonitas” (as aspas querem dizer que são bem-feitas, mesmo a imagem retratando umas cenas um pouco fúnebres, haha). Só quem já teve o livro em mãos para falar sobre a qualidade e a beleza da edição, não dá para descrever todos os detalhes com palavras.
“Algumas vezes as pessoas fecham a porta porque estão tentando encontrar uma maneira de fazer você bater nela.” — Pág. 43
site: http://coisasdeumleitor.blogspot.com.br/2015/10/resenha-o-demonologista-andrew-pyper.html