spoiler visualizarEvilin.Batista 05/02/2023
Agnes Grey é um livro de fácil leitura, muito fluido, sem muitas emoções, mas agradável e me provocou ainda assim alguns questionamentos. Definitivamente Emily e Charlothe Bronte me arrrebataram com as leituras de O morro dos ventos uivantes e Jane Eyre, eu devorava as páginas, sentia as mais diversas sensações raiva, tristeza, paixão, angustia, inconformação. Agnes Grey me provocou reflexões, mas não tão árduas como as anteriores, sensações bem mais racionais, mais lógicas, uma identificação calma sendo satisfatória ou não. Apesar de o título ser dado a uma personagem, a que mais me intriga é outra: Rosalie Munray, uma das suas pupilas da segunda casa em que Agnes é preceptora. Tenho claro, uma identificação com Agnes, e a admiro, a filha mais nova, mimada desde pequena, vista como frágil, apesar de aplicada, mesmo com o receio de seus familiares quer desbravar o mundo na medida do possível, pois tem sua convicção que vai conseguir, por mais difícil que seja, e é persistente e não se permite desistir em consequência das adversidades, porém me pergunto: a personalidade de Agnes é admirável, sensível, sábia empática, ajuda os que precisam, (como a personagem Nancy, uma idosa desafortunada que não possui a vista tão boa quanto antes e Agnes a visita esporadicamente pra ler passagens bíblicas), além de que mesmo quando comete algo que identifica como errado lhe vem um arrependimento instantâneo e pede compreensão, (como quando começa a ir pra igreja mais pra ver o Sr. Weston do que qualquer outra coisa) uma personalidade genuinamente bondosa, só que de que lhe vale, se ela não é real? a questão é que o fato de os livros das outras irmãs me causarem sentimentos mais intensos é porque você se depara com as imperfeições dos personagens, suas escolhas erradas, seus arrependimentos, suas respostas ácidas que muitas vezes nos gera satisfação, como acontece em Jane Eyre que na infância responde a sua tia com angustia porque não se consegue calar com tanta injustiça. Mas Agnes, engole tanto desaforo que só vai deixando fluir e acreditando que dias melhores virão, é bonito, mas não é humano. Já Rosalie, obviamente não tem como gostar de sua personalidade por completo, Agnes chegou tarde demais para conseguir mudar esse seu gênio que já foi fincado pela má criação dos seus pais, mas ainda assim ela tem reflexões que merecem sim atenção, muito se fala do feminismo de Agnes em que procura independência ao sair de casa, mas e quanto ao pensamento de Rosalie de que o homem tem que agradar a esposa tanto quanto ela a ele, que caso não tenha essa mesma dedicação ele não é digno de possuí-la? Claro que o fato dela ter casado por dinheiro acabou levando ela a esse casamento infeliz, mas ao impormos autoras como Jane Austen, e as irmãs Brontes com obras que representam um feminismo precursor apesar das inúmeras passagens cristãs e conservadoras porque ainda era algo muito intrínseco na criação da época, por que não podemos perdoar a personagem Rosalie por ter essa motivação de casar pela fortuna se a ideia de casamento sucedido da época era essa? Claro que Agnes, teve o privilégio de ter sido desviada desse pensamento por sua mãe ter desafiado esse paradigma, mas não se pode culpar Rosalie por ter tido essa criação. A verdade é que vejo pensamentos da sua época e a frente do seu tempo em todas as personagens, mas porque uma é mais valorizada que a outra, porque uma tem suas condenações tão mais dispostas? Rosalie se atreve a viver, a cortejar outros rapazes, por que não? como vou ter certeza do que quero se só tive essa opção? há uma passagem que Agnes diz " Existem, suponho, alguns homens tão vaidosos, egoístas e sem coração como ela, e talvez mulheres assim sejam úteis para puni-los" e sinceramente o que mais existiam era homens assim, ou pior, Rosalie por exemplo flerta com outros homens somente até se casar, já seu marido chega inúmeras vezes bêbado em casa e vai saber quantas das vezes que ele chegou voltando de um lugar em que estava com outra mulher, e mesmo assim a culpa volta pra ela por ter casado por dinheiro isentando a culpa do homem por ser um péssimo marido. Obviamente, não a isento da culpa, Agnes tomou a decisão correta de se casar por amor e pelas virtudes da pessoa, mas ela teve esse exemplo, que exemplo de amor Rosalie o tinha? talvez o que teve pelo Sr. hatfield, que sim ela o negou e mentiu dizendo que não casaria mesmo que ele tivesse dinheiro, nesse momento talvez ela tenha mentido até a si mesma para aceitar sua realidade, talvez ela não tivesse a mesma coragem que a mãe de Agnes teve ao deixar sua fortuna pra se casar com seu pai, de ser mal vista, criticada, não era fácil, mas ainda assim, querendo ou não ela teve essa escolha, que foi equivocada e infeliz, mas é o que acontece na vida, as vezes tomamos decisões equivocadas que achamos que era certo, ela era muito jovem e teve o casamento imposto tão cedo, apesar de tudo ela também era refém da sociedade. No fim das contas vejo que as duas tem virtudes e defeitos, e por mais que o livro deixe a entender que Rosalie ainda tinha muito que aprender com Agnes, e que suas decisões erradas lhe sucederam esse futuro infeliz, também acho que a Agnes tinha um pouco a se aprender com Rosalie, as duas são um equilíbrio perfeito e espero que eu tenha conseguido absorver o melhor das duas.