Gwendolyn Alekseeva 15/01/2024
Quando a obra não sustenta o nome que tem
Conheci esta obra por conta do seu nome, o de ter inaugurado o gótico na literatura. Apesar disso, fui ler com a intenção de aproveitar a obra por si só, e não pelos elementos do gênero. Mesmo com a minha régua estando mais baixa, não foi o suficiente eu evitar a minha decepção com esta obra.
O seu autor a criou com a intenção de ridicularizar os nobres. E devo dizer que ele faz isso com maestria. Ele coloca os seus personagens para recitarem diálogos longos, grandiosos, embelezados com uma emoção que surge do fundo do coração dos personagens. Tudo isso com a intenção de ridicularizar eles e os seus objetivos. Se por um lado o autor consegue realizar a sua intenção com os pés nas costas, ele também torna a leitura incrivelmente maçante. Fica horrível de ler justamente por conta da "natureza" dos diálogos. O autor precisa dar uma prolixidade para eles para causar o efeito que deseja.
Ele poderia ter livrado os diálogos dessa "natureza" após o primeiro capítulo ou pelo menos ter suprimido ela, pois ele deixa bem claro que os personagens são ridículos. Mas o autor mantém os diálogos no mesmo estilo do início até o fim. Para se ter ideia, tem mais diálogo que descrição pelo livro inteiro. Então pensa na paciência que é preciso ter para ler esse livro
Mas os principais motivos para eu não ter me decepcionado com o livro não foram esses. E sim a sua trama e o "gótico" que a obra carrega. A trama é horrível por conta das suas péssimas escolhas de desenvolvimento. Quanto mais a narrativa avança, mais embolada ela fica em si mesma. Chegando nos capítulos finais, chega a ser difícil de entender as ações dos personagens e as suas razões para realizá-las. No final da obra, o autor decide chutar o balde e ficar por isso mesmo.
E no meio de tudo isso temos o "fator gótico". Como o autor não esperava inaugurar um gênero, é de se esperar que a obra não seria enfeitada com as características fortes do gótico. O problema é que alguns elementos do gênero, como o castelo mal-assombrado e os eventos inexplicáveis, só acontecem quando o autor precisa confundir os personagens. E esses momentos são muito bem localizados. Tão localizados que chega a ser escasso.
Então, eu concluo que a obra tem o seu nome não pelo seu valor próprio, e sim pelos autores que influenciou após a sua publicação. Enfim, um início fraco para um gênero que extrapolou a literatura e chegou até mesmo ao cinema.