spoiler visualizarLucas 16/10/2023
Lento, personagens pouco desenvolvidos e roteiro forçado
Primeiramente, eu entendo que este livro foi escrito em meados do século XVIII, sei também que a proposta desse livro não ter o mesmo terror de obras como do Stephen King ou outros autores aos quais estou acostumado. Por isso não digo que o livro é ruim (embora considere que tenha sim alguns problemas sérios), mas a minha experiência como leitor não me fez gostar do que li aqui, por diversos motivos. Entretanto, não é como se eu não gostasse de textos antigos. Dando um exemplo, Carmilla, de Sheridan Le Fanu, e The Vampire, de Pollidori, foram obras que gostei, em especial Carmilla.
Feita essa ressalva, vamos a resenha em si.
A história inicia-se com o casamento de Isabella com Conrado, herdeiro de Ortranto, porém o noivo está demorando a comparecer para a cerimônia e isso começa a incomodar a todos. Servos são despachados para procurar Conrado e é ai que inicia-se a desgraça, pois um gigante elmo metálico despencou do céu esmagando e matando o noivo. Aterrorizado com o ocorrido, mais com a intervenção sobrenatural do que com a perda do filho, Manfredo, pai de Conrado, começa a assumir atitudes agressivas e tirânicas em seus domínios, Ortranto, fruto de algum medo que ninguém compreende.
Bom, a história foca-se em Manfredo que, apavorado pelo temor do divino, visto que assumiu o comando de Ortranto de forma ilegítima, começa a tomar atitudes cada vez mais agressivas e radicais, sendo injusto com todos e fazendo prevalecer suas vontades através da força. Mandredo é, então, o grande vilão, e, também, a grande vítima trágica que vê-se constantemente apavorado com as consequências de suas ações, aterrorizado pela possibilidade de alguma interferência divina. Outros personagens da obra são Hipolita (esposa de Manfredo), Isabella, Matilda (filha de Hipolita com Manfredo), o fadre Jerônimo e um simples aldeão chamado Teodoro. Outros personagens estão presentes, mas citei aqui apenas os principais.
Quanto aos personagens são todos muito rasos em termos de personalidade. As mulheres são excessivamente virtuosas, gentis e bondosas de forma que nem parecem humanas. Todas elas estão dispostas a perdoar ou sacrificar suas felicidades em qualquer situação se for por um bem maior. Dando o exemplo máximo disso, cito Matilda que é, acidentalmente apunhalada por seu pai Manfredo. Ela em nenhum momento exibe horror, raiva ou indignação com o fato. Matilda simplesmente aceita o ocorrido, perdoa o pai, chegando até mesmo a PEDIR perdão pois estava na companhia de alguém que não deveria. Eu simplesmente não consegui levar a sério uma personagem assim, muito menos sentir pena por ela. O mais engraçado é que, aos prantos, Manfredo diz que não queria feri-la, que pensava tratar-se de Isabella (melhor amiga de Matilda) mas a moça nem se incomoda com isso, o que achei um absurdo. Nunca vi alguém ser apunhalado, perdoa o agressor de pronto e ainda pedir perdão.
A história tem coisas muito forçadas como em uma cena que, quando está prestes a ser executado, Teodoro é revelado como filho do frade Jeronimo. Outra conveniência acontece quando Matilda desmaia na frente de todos e alguém grita "A princesa está morta!", como se alguém pudesse confundir um desmaio com uma morte repentina. Isso culmina em um passante que ouve isso ter interpretado que Hipolita morrera (ambas são chamadas de princesas na obra, o que causa certa confusão, creio que isso tenha haver com a tradução) e esse mal entendido culminar convenientemente para uma certa coisa acontecer no roteiro. Além do mais, em outro momento chave, através de uma explicação muito forçada, ser revelado que Teodoro não era apenas filho de Jeronimo, mas também, por parte de mãe, herdeiro de Ortranto!
Minha reclamação maior não é nem com o terror que é algo mais na esfera religiosa do que algo mais palpável, pois entendo isso (embora não tenha me agradado), minha reclamação são com os personagens que considero rasos (e isso não é porque a história é antiga, Illiada e Odisseia, mesmo também apresentando personagens excessivamente virtuosos, traz personagens com muito mais profundidade e carisma) além das conveniências do roteiro.
Por tudo isso, considero que "O castelo de Ortranto" merece duas estrelas. Apesar de tudo, não me arrependo de ter lido, pois livros assim, muito antigos, são muito mais raros, com um estilo que é impossível repetir-se hoje em dia. Desse modo, fiquei feliz de poder ler algo dessa época, mesmo não tendo gostado do que li.