Camille.Pezzino 26/03/2021
RESENHA #149: SER-VIVA NA MORTE
Você acredita em vida após a morte? Desde os antigos egípcios, essa é uma crença comum: de que, após os dias vividos na terra, você será encaminhado para um julgamento e, depois, poderá continuar sua jornada pelo mundo dos mortos. Outras culturas e mitologias manifestaram crenças similares, como os persas e os gregos.
Na cultura oriental, mais especificamente malaca-chinesa, apresentada na obra de Choo, não é diferente. A cultura chinesa se consolidou fortemente nos lugares que hoje conhecemos como Malásia e Cingapura, embora houvesse misturas locais com a cultura europeia; e é nesse espaço que a obra A Noiva Fantasma amarra sua trama e define os seus laços histórico-sociais.
A primeira informação que chama atenção na história contada por Choo é o fato de a cultura em destaque não ser a que costumamos vislumbrar e sim, uma vertente muito similar à cultura praticada na China. Em seguida, aos poucos, conhecemos um pouco desse universo mitológico e das múltiplas crenças que, em 1893, uma pessoa – numa cultura extremamente miscigenada entre oriente e ocidente – podia ter.
Dessa forma, muito de historiografia, geografia e antropologia é utilizado no decorrer da narrativa publicada, traduzida e editada pela Darkside. Choo não economiza espaço no momento de explicar a história cultural de Malaca e também das suas relações com o continente europeu e asiático, fazendo de seu livro, ao meu ver, uma fantasia histórica muito similar a Golem e o Gênio, trazido para o Brasil pela mesma editora.
Tanto quanto a obra de Wecker – Golem e o Gênio –, a trama de Choo foi uma aposta muito acertada, justamente pelo fato de ter um enredo muito bem elaborado e amarrado. Assim, é possível encontrar um misto de informações reais – históricas – e fantasiosas – provindas da crença popular do povo daquele período – conectadas à imaginação da autora.
Além desse grande atributo, A Noiva Fantasma conta com personagens coerentes com seu passado histórico e também social. Por exemplo, é crível que um rapaz mimado queira se vingar do seu primo charmoso; a menina repleta de cultura e educação voltadas às figuras masculinas de seu tempo, capaz de ler e escrever, seja ingênua por falta de vivência de mundo; o pai desolado pela avaria de uma doença perca o que pode ou não pode nos negócios; a amah, que perdeu os amores da vida para a morte, agarrar-se às crenças populares e a religiosidade. Todos os personagens possuem sua verossimilhança numa excelente construção e caracterização. Embora, por vezes, possam soar maniqueístas, eles não o são.
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