spoiler visualizarlisyrb 17/01/2023
Começo bom, meio fantástico, fim apressado
Nota final = 3,75
Diagramação = 5; Plot/Enredo = 4; Desenvolvimento do plot/enredo = 3; Plot twist/previsibilidade/mind-blowing = 4; Ambientação/cenário/universo = 5; Protagonistas = 5; Desenvolvimento dos protagonistas = 4; Personagens secundários = 3; Desenvolvimento dos personagens secundários = 3; Antagonista/Vilão = 3; Desenvolvimento do protagonista/vilão = 2; Conteúdo = 4
Quero abrir essa resenha elogiando bastante a diagramação desta edição. Fonte com tamanho agradável para leitura, corte bem-feito, costura/colagem das páginas com muita qualidade. Dito isto, vamos ao conteúdo...
Em primeiro lugar, se você está lendo esta resenha antes de decidir se quer ler o livro ou não, deixo um aviso importantíssimo: LEIA O LIVRO APENAS SE VOCÊ NÃO É UMA PESSOA QUE SE IMPRESSIONA FACILMENTE. A história é um tanto perturbadora, pois aborda situações e assuntos que infelizmente acontecem com mais frequência do que gostaríamos. Digo isso por eu ter passado por alguns problemas na adolescência, problemas estes que são relatados no livro. Não me gerou "gatilhos" e nem nada, pois são problemas superados após muita terapia, mas sei que nem todo mundo tem o psicológico forte e, por isso, deixo este aviso.
A história em si é muito bem contada durante quase todo o livro, exceto em seu final. Não sei se a autora "se apavorou" com a quantidade de páginas e, após o capítulo que Libby chega na casa de Diondra, as coisas se apressam demais - na minha opinião, é claro. Por exemplo, faltou um detalhamento maior sobre a fuga de Libby, a fuga de Crystal e Diondra, sobre Ben, etc.
Eu tenho o costume de ler resenhas dos livros só após eu terminar de ler, e uma coisa que eu nunca entendo são os "fã clubes" de autores. As pessoas não querem admitir que tem algo errado com a obra só por gostarem dos autores. Li algumas resenhas e pessoas falando sobre o livro, e frases do tipo "achei o final muito apressado e meio anticlímax, mas o problema é meu por ter ficado imerso(a) demais, e não da Flynn" se repetiu em diversos casos. Não, o problema não é seu ou meu... a autora meio que fodeu o final mesmo, não tem que "passar pano". Ela nos deixou imersos em uma história envolvente, e na hora de nos dar um desfecho igualmente envolvente, fez o que fez.
Pontos positivos:
- O livro nos deixa imersos em grande parte da história. Ele é narrado de uma forma que tenta nos colocar na época em que os eventos aconteceram e no que está ocorrendo atualmente. Estou planejando em escrever um livro e eu pensava em fazer um estilo de narrativa parecido, e ler este livro me deu ideia de como fazer isso.
- Flynn fez um excelente trabalho de pesquisa para abordar o cenário da agricultura e fazendas americanas na segunda metade da década de 1980, o que traz traços de realidade ao enredo.
- Flynn fez um excelente trabalho de pesquisa jurídica para que pudesse abordar os aspectos legais do caso fictício.
- A autora desenvolveu muito bem a personagem principal (Libby Day). Quer você goste dela ou não, o fato de termos uma protagonista que é vítima, mas tem moral duvidosa, coloca-nos em uma realidade quase paralela ao lermos sobre a infância de Libby enquanto vemos quem ela é hoje.
- A existência de Runner foi muito boa para despistar algumas coisas. Dava para acreditar, até certo ponto, que Runner havia feito o crime ou alguém havia cobrado a dívida de Runner matando a família dele. Contudo, logo no começo eu descartei a possibilidade de alguém ter ido cobrar essa dívida, pois fica bem claro que quem cometeu os assassinatos o fez de maneira apressada e pouco meticulosa, pois nem verificou os aposentos da casa. Para mim, logo no começo era claro que as coisas não deveriam ter corrido daquele jeito, mas demorei um bocado para entender o que aconteceu (só entendi totalmente no capítulo que Len instrui Patty a ir em um parque e lá ela encontra um cara, e pela conversa eu entendi qual era a situação combinada).
- A personagem Patty Day (a mãe) é simplesmente sensacional, pois nos traz muitos sentimentos. Uma mulher que se achava fraca, mas não via o quanto havia sido forte até seu último momento. Confesso que chorei ao ler a carta que ela deixou com o matador de aluguel para os filhos, pois uma mente desesperada - sobretudo a mente de uma mãe desesperada - é capaz de pensar em qualquer coisa.
- O personagem Trey também foi muito bem costurado. Mau, assassino, completamente perturbado... ele trouxe para a história uma ação diferente, pois toda a história dos cultos ao demônio começam com ele e Diondra.
- Diondra também foi uma personagem interessante. Perturbada, inconsequente e psicopata. Absolutamente manipuladora. Ela usar sapatos masculinos foi uma sacada genial!
- A história de Krissi e Ben é meio sem pé-nem-cabeça, mas foi importante para mostrar quanta porcaria acontece quando temos uma série de eventos interligados e sem ligação alguma ao mesmo tempo. A famosa "tempestade perfeita", saca? Torna mais fácil querer acreditar desde o começo que Ben é um criminoso assassino.
Pontos negativos:
- Um dos pontos centrais da história é Libby atualmente estar passando por dificuldades financeiras. Ela fica mais de 20 anos praticamente querendo ignorar o assassinato da família e a principal motivação para ela começar a "cavar fundo" a história toda é o dinheiro? Achei um motivo meio torpe, sei lá...
- Como consequência do ponto acima, temos o Kill Club, um grupo consideravelmente grande de pessoas que "investigam", "admiram" e "cultuam" (?????????) assassinatos, sobretudo os não solucionados. O Kill Club é quem decide "financiar" Libby em sua caça ao passado. Novamente, motivo muito torpe. O clube foi absolutamente conveniente de aparecer na história justamente quando a protagonista precisa de grana. O clube TEVE que aparecer para que a grana fosse o motivo de Libby decidir buscar a verdade sobre o assassinato da família. Como eu disse antes, Libby tem moral questionável, mas o montante financeiro teria que ser consideravelmente alto para ela decidir "cavar" tudo aquilo, ou ao menos Flynn tinha que ter se esforçado um pouco mais para fazer Libby ficar mais envolvida com o Kill Club. Para mim, não faz muito sentido Libby decidir se envolver em tudo que se envolveu depois de mais de 20 anos por causa de grana, um clube com pessoas que nem conhece e diversos traumas para serem revividos.
- Novamente: o final é apressado demais! A história tem um desfecho abrupto e rápido, deixando algumas lacunas no fechamento.
- O arco de alguns personagens é bem tosco. Por exemplo, sabemos que Ben é um abobado com cabeça fraca, um garoto facilmente influenciável que bebe e usa drogas, mas ele ficaria realmente impassível vendo Diondra matar a irmã dele? Sério? E ele passaria por cima dos corpos da mãe e da outra irmã como se não fossem nada só para ir procurar Libby porque Diondra mandou? Ele aceitaria de boa a mina sugerir que Libby tem que ser morta e simplesmente acobertaria a 🤬 #$%!& toda por Diondra estar grávida de um suposto filho dele? Poxa, aí o cara não é abobado ou apenas influenciável... ele é 🤬 #$%!& mplice de assassinato e bandido!
- A pressa para terminar a história trouxe alguns erros que são meio bizarros. O erro mais inacreditável para mim foi: Diondra estava desaparecida desde 1985 e foi encontrada por Libby - em uma sacada crível, é verdade. Aí Crystal desmascara a mãe por acidente, o qual custei a entender, pois era muita burrice, até que entendi que Crystal estava absolutamente obcecada pela história da família e que possivelmente fora condicionada pela mãe psicopata a ter esse "instinto de proteger a mãe", pois Diondra usou essa mesma "estratégia" para controlar Ben na noite dos assassinatos. Ambas (Diondra e Crystal) revelaram-se psicopatas, tentam matar Libby, deixam ela fugir - uma cena muito fantasiosa -, incendeiam sua própria casa e fogem. Volto a lembrar que Diondra estava desaparecida desde 1985, aí ela comete comete um erro primário em poucos dias - ela recebe uma ordem de pagamento em uma cidade chamada Amarillo, no Texas - e é capturada... fácil assim, simples assim, dito em uma linha e meia na página 342 da edição que tenho. Impressionante...
- A autora teve um esforço enorme para tentar mostrar que a polícia e a perícia são incompetentes, mas é incrível como ela exagerou em algumas coisas. 🤬 #$%!& ... Diondra estava desaparecida desde 1985 e estava morando em uma cidade tão próxima assim? Como puderam ocorrer tantos erros no processo de Ben? Qual foi a motivação que a polícia deu para Ben matar simplesmente toda a família, menos a irmã mais nova? Como que o depoimento e testemunho de Libby podiam sequer ser levado em consideração? Inacreditável...
Enfim, há outras tantas coisas que eu poderia falar aqui, mas vou ficar com essas que falei. Em suma, achei a história chocante e bem desenvolvida. Porém, ao chegar nos últimos capítulos, o desfecho veio rapidamente, o que quebrou totalmente o clima da leitura - pelo menos no meu caso. Acho que vale a pena ler esse livro sim, pois, apesar da história ser fictícia, ela mostra muita coisa sobre o que vemos na realidade e quanto eventos independentes podem estar interligados, levando à situações tristes e lamentáveis. O livro mostra que o acaso existe e, por isso, sempre devemos estar preparados para ele.